Depois dos destelhamentos, inundações,
uma morte e incontáveis prejuízos causados pela
chuva, a Grande São Paulo ainda poderá ter o
maior racionamento de água da história decretado
nesta semana -e iniciado em ao menos sete dias após
o anúncio.
O que pode parecer surreal tem uma
explicação simples. Vem chovendo muito em pontos
localizados, mas não nas áreas de mananciais
dos rios que formam os quatro reservatórios do sistema
Cantareira, que abastece metade da região metropolitana
(9 milhões de pessoas) e tinha ontem só 5,5%
da capacidade.
A iminência do racionamento
foi confirmada ontem pelo secretário Mauro Arce (Recursos
Hídricos, Energia e Saneamento).
Enquanto isso, no Morumbi (zona oeste),
um dos locais mais atingidos pela chuva de anteontem, uma
mulher de 27 anos morreu afogada em sua própria casa,
após ser surpreendida por uma enxurrada, que arrastou
móveis e a impediu de deixar o local.
Em vários outros pontos da
cidade, moradores contam que quase perderam tudo. Em Campo
Limpo (zona sul), Carla Gisele Passos, 31, teve de colocar
os três filhos -um de dez anos, outro de cinco e um
de dois meses- em cima do guarda-roupa para evitar que se
afogassem. Eles ficaram lá por quatro horas. Com risco
de desabamento, a prefeitura interditou 80 casas no bairro.
Na sede social e no estádio
do São Paulo Futebol Clube, também no Morumbi,
os prejuízos causados pelas chuvas podem ultrapassar
R$ 500 mil. Na área social, apenas os ginásios
não foram afetados. No estádio, três dos
quatro vestiários foram inundados.
Ontem, o governador Geraldo Alckmin
(PSDB) esteve na estação de metrô do Tatuapé
(zona leste), onde parte do telhado foi arrancada por rajadas
de vento.
Segundo o governador, o prejuízo
chega a R$ 300 mil. A estação voltou a funcionar
normalmente, mas a reparação do local só
deve ficar completa no próximo dia 20.
A chuva destruiu 95% do telhado da
escola estadual Osvaldo Catalano, no Tatuapé. Dois
dos três andares do prédio foram invadidos pela
água, que também provocou o corte do fornecimento
de energia. "Perdemos computadores, móveis e o
telhado inteiro", disse a diretora Mariangela Aroni.
No mesmo bairro, o restaurante Pizza
Show Tiquatira perdeu parte do teto, feito de sapé.
Segundo o dono, Roberto Aparecido de Souza, 51, a água
chegou a 1,5 metro. Cerca de uma tonelada de alimentos foi
perdida, além de geladeiras e outros equipamentos.
"Isso vai me custar quase R$ 20 mil", disse.
Ontem, choveu apenas 1,7 mm na capital
(1 mm equivale a 1 l de água numa área de 1
m2).
Para a bibliotecária Cecília
Zanforlin, 52, que mora no Morumbi, as perdas foram tanto
materiais como sentimentais. Uma antiga enciclopédia
portuguesa que havia ganho de seu pai ficou completamente
encharcada. "Era uma relíquia para mim",
disse.
O mesmo ocorreu com documentos, fotografias
e fitas de vídeo da família, que se mudou para
o local há dez anos. Desde então, a casa já
foi alagada outras quatro vezes. Nunca, porém, como
anteontem, quando a água atingiu 86 centímetros
dentro da casa e 1,5 metro no portão.
"Vou colocar uma placa de "vende-se"
assim que terminarmos de limpar a casa", disse o marido
dela, Fernando Zanforlin, 52.
De acordo com a prefeitura, 30 famílias
ficaram desabrigadas na favela Paraisópolis, no Morumbi.
Na Vila Prudente (zona leste), foram 22. A Secretaria das
Subprefeituras diz, porém, ainda não ter um
balanço total, logo o número pode ser bem maior.
Mesmo sem chover ontem, o congestionamento
de 83 km registrados às 11h de ontem na capital foi
quase duas vezes maior que a média do horário,
de 31 km. O motivo, segundo a CET, foi o aumento de 55% no
número de semáforos com defeitos -resultado
das chuvas.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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