Quando, há dez anos, saiu de uma roça
na Paraíba para tentar "melhorar de vida"
na cidade de São Paulo, Maria do Carmo Teixeira da
Silva, 34, nunca imaginou que isso significaria voltar a plantar.
Muito menos que trabalharia numa horta às margens da
av. Radial Leste, uma das mais movimentadas da capital.
Lá, num terreno de 7.000 m2,
bem no meio do concreto dos edifícios e do asfalto,
ela e mais 11 mulheres chefes de família deram o pontapé
inicial à implantação de um novo tipo
de área verde: em vez de ipês e palmeiras, são
cultivadas alfaces, cenouras e beterrabas.
Previstas no Plano Diretor do município,
as hortas urbanas, além de combater a fome e serem
veículo para a inclusão social -os agricultores
são escolhidos entre pessoas atendidas por entidades
assistenciais-, funcionam como estratégia de recuperação
ambiental de terrenos que, vazios, serviam apenas para acumular
mato e lixo.
A primeira delas foi implantada pela
Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) e a coordenadoria
de saúde da Subprefeitura da Mooca em meados de 2003,
num terreno municipal quase embaixo do viaduto Bresser. O
que é colhido é dividido entre as 12 famílias
do distrito do Belém que trabalham diariamente, por
um turno, no local. Se há sobras, elas são doadas
para entidades da região.
A experiência deu tão
certo que uma segunda horta já funciona em Guaianazes,
beneficiando 25 famílias- e outras devem ser implantadas,
nos próximos meses, em Cidade Tiradentes, ao longo
da av. Jacu-Pêssego e na entrada do parque do Carmo
(todos na zona leste).
A horta da Mooca, por exemplo, tomou
o lugar de um aterro clandestino de entulho. Uma camada de
cobertura de solo foi suficiente para fazer crescer vegetais,
conta Hans Dieter Temp, coordenador do Programa de Agricultura
Urbana da SVMA.
Lei
Embora as hortas comunitárias sempre tenham
existido, o programa da prefeitura, amparado por uma lei municipal
sancionada em janeiro, regula a atividade, que, se feita sem
os devidos cuidados, pode acarretar riscos até à
saúde pública.
Segundo a nova legislação,
o Executivo deverá fazer um levantamento das áreas
públicas apropriadas para a agricultura urbana e cadastrar
terrenos privados adequados ao programa.
Poderá fornecer incentivo fiscal,
na forma de redução do IPTU (Imposto Predial
e Territorial Urbano), aos donos dos locais escolhidos ou
mesmo fazer a sua utilização compulsória.
A lei possibilita ainda que os agricultores
das hortas urbanas formem cooperativas e vendam os produtos
cultivados de forma orgânica, ou seja, sem o uso de
agrotóxicos. É essa a grande expectativa de
Raimunda André de Lima Souza, 52.
"Fui costureira por 20 anos,
mas fiquei desempregada e, na minha idade, é difícil
voltar a trabalhar. Se conseguirmos ganhar um dinheiro aqui,
vai melhorar muito a nossa vida, mas já estamos fazendo
uma boa economia na feira", afirma.
"Minha neta de oito meses só
toma sopinha feita com produtos da nossa horta", conta
a agricultora Maria Ivoneide Santos Palmeira, 44.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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