Quando se trata de citar áreas da cidade de São
Paulo que se destacam pela preocupação ambiental,
a Subprefeitura da Mooca, na zona leste, certamente não
é das primeiras que vêm à mente. A região
sempre esteve associada ao passado industrial da capital.
Lá está o que sobrou dessa era: fábricas,
vilas operárias, galpões e também baixos
índices de área verde per capita, as maiores
temperaturas e problemas com lixo e entulho.
E é exatamente por tudo isso
que os distritos da região saíram na frente
e se tornaram uma espécie de vanguarda ambiental.
Foi no Tatuapé que a coleta
seletiva com ex-catadores de rua começou há
quase um ano e onde vem se desenvolvendo melhor. Das 11 centrais
de triagem da cidade, a da região, operada pela Cooperativa
Tietê, é a única que tem uma coleta porta
a porta própria e um relacionamento mais estreito com
as comunidades, sobretudo os condomínios.
A primeira horta urbana da capital
começou a ser cultivada, em meados de 2003, na Mooca.
A iniciativa mostrou que o projeto dá certo e já
resultou na implantação de uma segunda horta
em Guaianazes, na zona leste.
Próximo à horta, mas
no distrito do Brás, está também o primeiro
e único ecoponto da cidade, para recebimento de entulho
-o qual, ao dar uma alternativa de deposição
para resíduos de pequenas obras, evita que eles parem
nas ruas e córregos. O projeto de descentralização
do Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana), que data do segundo
ano da gestão petista, não decolou no resto
da cidade.
E serão os empresários
da região da subprefeitura os primeiros da capital
-talvez do país- a receber, ainda neste ano, um selo
verde por seu envolvimento em projetos de arborização,
recuperação de praças e construção
de calçadas verdes (parte de concreto, parte de grama)
nos bairros.
Desde 2001, foram fechados 22 termos
de cooperação com empresas e universidades -5
deles em 2004- e há 4 em negociação.
Isso fora projetos que ainda estão
no papel (a transformação de um clube municipal
em parque e a formação de uma cooperativa para
reaproveitar os restos de tecidos das confecções
do Brás) e a reforma, com recursos próprios,
de 21 das 200 praças da região.
"Fome e vontade de comer"
As razões para o investimento "verde" podem
ser resumidas na popular expressão "junção
da fome com a vontade de comer".
A forma de industrialização
da cidade, despreocupada com as questões ambientais,
deixou a Subprefeitura da Mooca com uma média de área
verde de 3,6 m2 por habitante. A média geral da cidade
é de 73,65 m2 per capita.
A falta de cobertura verde é
decisiva para que a região registre temperaturas até
4C acima das da av. Paulista, e a impermeabilização
do solo agrava as enchentes porque facilita o escoamento da
água para os rios e córregos.
A falta de qualidade ambiental é
literalmente sentida na pele pelos moradores, que, razoavelmente
bem servidos de infra-estrutura básica, escolas e unidades
de saúde, pediram, no plano diretor regional e no orçamento
participativo, árvores, maior atenção
em relação ao lixo, projetos de reciclagem e
mais opções de lazer.
As reivindicações encontraram
na subprefeita Harmi Takiya, 43, um bom "ouvido".
Geóloga, funcionária de carreira da Secretaria
do Verde e do Meio Ambiente e uma das coordenadoras do Atlas
Ambiental do Município, ela admite: "Gosto da
temática ambiental, me identifico com ela".
"Cada subprefeitura tem de eleger
sua prioridade. A da Lapa são os idosos; a da Sé,
o centro; a de Santana, áreas de risco; a nossa é
o ambiente", diz Takiya. "Mas tudo é em resposta
a uma demanda dos moradores, que também estão
sensibilizados. Acho que isso tem a ver com o fato de, em
geral, a população da região viver aqui
há bastante tempo e ter suas raízes em imigrantes",
afirma.
MARIANA VIVEIROS
da Folha de S. Paulo
|