São 10 horas. No laboratório do Colégio
Lumière, no Tatuapé, zona leste de São
Paulo, um grupo de alunos observa atentamente as explicações
da professora de Biologia, Cleide Ilek Néris do Nascimento.
Aula de biologia? Não. Trata-se dos “Voluntários
do Sabão” – grupo que faz sabão
caseiro e entrega em entidades carentes da região.
“As pessoas doam roupas, alimentos
e outros objetos. Por que não doar um item importante,
que é o de higiene? Além de reutilizar recursos
para a confecção de sabão caseiro, incentivamos
o aluno a doar algo que ele mesmo faz”, diz Cleide.
Ela explica que todos os estudantes
da escola participam, doando óleo de soja usado. Os
alunos do ensino fundamental fazem o sabão. “Eu
me sinto uma gota no oceano. Mas tenho certeza de que, se
todos fizessem a sua parte, o mundo estaria bem melhor”,
diz a estudante Beatriz Piccinato de Jesus, de 13 anos, integrante
dos “Voluntários do Sabão”.
Já para Mirela Cristine Munhoz
Cavicchioli, de 12 anos, o ato é muito importante.
“Não sabia que com óleo de soja é
possível fazer sabão. Sei que o óleo
jogado na pia, além de entupir, agride o meio ambiente.
Vale a pena ficar misturando por mais de 40 minutos a solução.
Sinto-me útil.”
Cleide explica que os alunos participam
da ação espontaneamente. Os sabões são
entregues em instituições de caridade. “Há
locais que utilizam as pedras dentro de meias finas, que são
colocadas dentro da máquina de lavar. Depois que faz
espuma, é só retirar as pedras. Substitui o
sabão em pó.”
Por setores
Para os alunos do Colégio Brasília, na Vila
Formosa, os alunos do ensino médio decidiram fazer
ações sociais por setor de atuação,
como educação, saúde, artes e cultura
e terceira idade. A partir daí, eles questionaram,
estudaram e reviram as estratégias adotadas pelas instituições,
para propor como melhorar o atendimento.
O estudante Luiz Paulo Pimentel de Souza, de 17 anos, foi
um dos que aproveitaram a oportunidade dada para lidar com
outro tipo de ambiente e conhecer pessoas diferentes das que
geralmente lida no dia-a-dia.
“Ao conviver com as crianças
das creches, por exemplo, adquiri responsabilidades que até
então não tinha. É uma experiência
enriquecedora. Damos valor a família que temos e a
outros valores que acabam passando desapercebidos na rotina
de nossas vidas.”
Água e consciência
O grupo de alunas do 1.º ano do ensino médio
do Colégio Cermac, na zona norte, ficou responsável
por sair a campo e descobrir qual o consumo mensal de água
de cada casa do entorno da escola. O projeto, com base no
tema do Ano Internacional das Nações Unidas
(2003) para a preservação das águas doces,
envolve estudantes de todas as turmas.
Cada grupo se divide na tarefa de
procurar conscientizar pais, vizinhos e conhecidos sobre a
importância de economizar água. Para isso, montaram
e distribuíram 500 panfletos com algumas dicas.
O tema também despertou a atenção
dos alunos. “Quando soube que escovar os dentes com
a torneira aberta significava gastar em média 30 litros
de água, passei a pegar no pé de todo mundo”,
diz Luiza Domingues Acorsi, de 15 anos.
Para a coordenadora do colégio,
Roberta Mardegam, a iniciativa pode transformar os alunos
em uma semente, “espalhando conhecimento para mais e
mais pessoas.” Em abril, a turma também foi conhecer
o Projeto Pomar. “Eles aprenderam um pouco mais sobre
educação ambiental”, explica a coordenadora.
Todas as disciplinas
Os projetos sociais desenvolvidos no Colégio Rio
Branco, em Higienópolis, zona oeste, são divididos
por série e procuram envolver todas as disciplinas.
Um dos destaques é o trabalho realizado desde 2001
com os alunos da 2.ª série do ensino fundamental.
As crianças visitam os estudantes
da Escola Municipal Professor Primo Páscoli Melaré,
no Jardim dos Francos, zona norte, cujo patrônomo (figura
pública que dá nome à instituição)
foi um dos diretores do Rio Branco.
Na visita de maio, os alunos doaram
livros para a biblioteca da escola. Em troca, puderam compartilhar
experiências com crianças que vivem uma realidade
diferente. “A gente aprendeu que todo mundo pode ser
legal”, diz a aluna Camila Cesar Vaz Guimarães
Nogueira, de 8 anos. “Eu adoraria repetir”, diz.
As colegas Júlia Rocha de Moraes
e Luisa Madridi da Silva Prado, ambas de 8 anos, também
participaram da visita. “Eu achei legal e também
fiz mais amigos”, conta Júlia. Chamou a atenção
de Luisa o fato de o bairro ser pobre. Como os outros estudantes,
ela almoçou na escola e conheceu as instalações,
diferentes do colégio onde estuda.
Entre as outras ações
sociais do Rio Branco está o Projeto Adere. Os estudantes
são convidados a juntar a embalagem cartonada de produtos
alimentícios que, depois de lavados, acabam doados
para a instituição Adere, que atende pessoas
com deficiências, que utilizam o material para confeccionar
objetos.
No hospital
O Colégio Santa Maria, em Interlagos, zona sul,
realiza desde agosto do ano passado o projeto Arte é
Saúde. Cerca de 35 alunos do ensino médio se
dividem em dois grupos e visitam às segundas e quintas-feiras,
por duas horas, a ala pediátrica do Hospital Regional
Sul de Santo Amaro.
Os adolescentes contam histórias,
trabalham com desenho, pintura e origami, passam pelos leitos
com crianças que podem ter atividades: pronto-socorro,
enfermaria e quartos das que estão internadas há
mais dias. Em seguida, usam a brinquedoteca e vão aos
quartos dos que não podem ter atividades.
“É gratificante sentir
que posso dar um pouco de mim para as crianças. Contar
histórias, vê-las sorrir, mesmo estando em um
hospital”, diz Tatiana Iversson Piazza, de 16 anos.
Ela conta que, no começo, a timidez tomou conta dos
alunos e das crianças. Mas, aos poucos, tudo ficou
descontraído e a magia tomou conta do lugar.
“Teve um caso de um menino que
estava internado que chorava muito e não falava absolutamente
nada. Na segunda visita, ele, mesmo com febre, sorria com
as nossas brincadeiras. Ficou animado, feliz. Este momento
ficou registrado na minha cabeça. Foi uma lição
de vida para mim.”
As informações são
da Agência Estado.
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