Aos seus alunos da primeira série, a professora Giseli Orsigobbi
lança a seguinte situação: seu animal de estimação morreu,
o que há de bom nisso? A pequena Helena Kriaky, 7, após pensar
por alguns segundos, responde: "Se comprarmos um gatinho pequeno,
será legal porque poderemos vê-lo crescer".
Como Helena, outras 1.700 crianças de São Paulo participam,
em suas escolas, de um programa de educação emocional chamado
Amigos do Zippy. O projeto começou neste ano e foi adotado
por 32 colégios do Estado, entre públicos e particulares.
As aulas, semanais, visam ensinar as crianças a lidar com
situações emocionais adversas, como a morte de um parente,
a separação dos pais ou a mudança de escola. As atividades
têm como base histórias contadas pelos próprios professores
dos alunos. As narrativas envolvem um inseto -chamado Zippy-
e seus amigos, na faixa dos sete anos. A cada semana, os personagens
passam por uma situação complicada. Contada a história, a
professora pergunta às crianças o que há de bom na situação
(mesmo que seja negativa) e o que elas fariam se aquilo ocorresse
com elas.
"Queremos
que as crianças saibam que há muitas alternativas para o mesmo
problema e que elas podem contar com a ajuda dos outros",
diz a coordenadora do projeto, Tania Paris. Os criadores do
programa esperam que, ao estimular a reflexão das crianças,
elas se tornem adultos mais comunicativos.
A docente do Instituto de Psicologia da USP Maria Thereza
Costa Coelho de Souza afirma que a tese de que essas crianças
se tornarão adultos com menos dificuldades emocionais "é uma
boa hipótese".
Aprovação
No ano passado, 276 crianças participaram de um projeto-piloto
do Amigos do Zippy. Elas foram acompanhadas pela professora
do Instituto de Psicologia da USP Maria Julia Kovács.
Os alunos foram entrevistados antes e depois do programa.
As questões abordavam situações vivenciadas por crianças entre
seis e sete anos. As respostas foram classificadas como agressivas;
de não-envolvimento com a situação; e de expressão de sentimentos
-a última é considerada a ideal, pois mostra que o estudante
busca solucionar os problemas.
Antes do projeto, 69% das respostas ficaram na categoria esperada.
Depois do programa, o percentual subiu para 73%. "Houve uma
melhora significativa na comunicação e na expressão das crianças",
afirma Kovács. Ela destaca que os alunos participantes não
eram "crianças-problema", o que é demonstrado pelo alto número
de respostas ideais, mesmo antes do projeto.
Ajuda
Kayan, hoje com oito anos, participou do projeto-piloto e
durante as aulas, sua avó paterna morreu. "Ele estava preparado,
não ficou desesperado", conta a mãe do menino, Patrícia Magina,
31. "Ele até ajudou a confortar o pai." Separada do marido
no ano passado, a advogada Telma Cimatti, 35, diz que as aulas
de educação emocional ajudaram sua filha a superar o problema.
"No começo, a Danielle estava muito arredia." Ao final do
ano, conta, a filha estava "menos fechada".
Histórico
O Amigos do Zippy foi desenvolvido pela ONG inglesa Befrienders
International, que congrega serviços de prevenção de suicídio.
No Brasil, a proposta foi implementada pelo CVV (Centro de
Valorização da Vida), que oferece atendimento telefônico a
pessoas com dificuldades emocionais. Ao final do projeto-piloto,
foi criada a Asec (Associação pela Saúde Emocional de Crianças).
Mais informações podem ser obtidas no site www.amigosdo zippy.org.br.
FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo
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