Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e do Hospital
Santa Isabel, na Bahia, divulgaram na última sexta-feira
resultados preliminares e animadores do uso de células-tronco
contra a doença de Chagas. Voluntários tratados
com a técnica tiveram melhora em funções
cardíacas, o que já faz o Ministério
da Saúde pensar em incorporar a terapia ao SUS (Sistema
Único de Saúde).
Os resultados, apresentados no 3º Congresso Brasileiro
de Insuficiência Cardíaca, em Salvador, mostram
que 22 voluntários (de um grupo de 30) recuperaram
grande parte da capacidade cardiorrespiratória, comprometida
em chagásicos. Em média, apresentaram 10% de
melhora no bombeamento do sangue pelo coração.
O índice gira em torno de 5% em outras terapias com
células-tronco para tratar doenças cardíacas.
A qualidade de vida também melhorou. "Tinha paciente
que sofria com a falta de ar mesmo em repouso", lembra
um dos coordenadores do trabalho, o imunologista Ricardo Ribeiro
dos Santos. O primeiro paciente a receber as células
não conseguia subir uma pequena escada -atualmente,
ele vende óculos na praia do Flamengo, na capital baiana.
Outro, agricultor, não tinha condições
físicas para trabalhar. "Hoje, ele leva uma vida
normal", diz Santos.
A doença de Chagas é causada pelo protozoário
Trypanosoma cruzi, transmitido pelo barbeiro, inseto que vive
em frestas de casas de taipa. Seis milhões de pessoas
estão contaminadas no país, segundo a Fiocruz.
Em 30% dos casos, as pessoas desenvolvem uma inflamação
crônica no coração, fatal em uma década.
A terapia consiste em retirar células-tronco da medula
óssea do paciente e injetá-las, por meio de
um cateter, nas artérias que irrigam o coração.
Em média, são injetadas 3 milhões de
células-tronco em cada pessoa.
As células-tronco têm a capacidade virtual de
formar qualquer tecido do corpo. Elas são abundantes
e poderosas em embriões; em adultos, têm menos
poder e são achadas em vários tecidos, como
a medula óssea.
Em camundongos, os pesquisadores observaram que as células
criaram vasos sangüíneos e fibras musculares.
E desempenharam outro papel: fundiram-se com células
cardíacas doentes, que assim recuperaram sua função.
Eles acreditam que o mesmo ocorra nos humanos. "Além
disso, as células-tronco produziram hormônios
que reduziram a inflamação", explica o
imunologista.
O tratamento está na fase um de testes, que avalia
sua segurança. Ela será encerrada neste mês,
com 30 pacientes. A próxima fase começa em janeiro,
com 300 pacientes: metade receberá o transplante, enquanto
os outros formarão um grupo de controle.
A intenção então será medir a
eficiência do método. Se aprovado, ele deve ser
incorporado ao SUS em dois anos e meio. O Ministério
da Saúde é um dos financiadores da próxima
etapa da pesquisa, que terá R$ 3 milhões, ao
lado do Ministério de Ciência e Tecnologia, da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
da Bahia e da Fiocruz. Segundo Santos, o tratamento custaria
cerca de R$ 8 mil por paciente aos cofres públicos.
O transplante de coração custa cerca de R$ 50
mil.
CRISTINA AMORIM
Free-lance para a Folha de S. Paulo
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