Como
bom farejador de atalhos, o terceiro setor encontra novas
maneiras de cumprir tarefas que, em princípio, seriam
de outra instituição, como de um banco. Foi
o que aconteceu no conjunto Palmeiras, na periferia de Fortaleza.
A idéia nasceu em 1997, quando os ocupantes do conjunto
fizeram uma pesquisa e perceberam que, juntos, os 30 mil moradores
representavam um grande consumidor, embora individualmente
fossem pobres -perto de 90% ganham até dois salários
mínimos. "Consumíamos o que equivale hoje
a R$ 1 milhão", relata Joaquim Melo, 42, um dos
coordenadores e idealizadores do "banco alternativo".
"Por que, então, não estimular que a própria
comunidade produzisse o que esse grande consumidor precisava
comprar?"
Em janeiro de 1998, a associação de moradores
lançou o projeto Banco Palmas. "Tínhamos
R$ 2.000 para começar. No primeiro dia, emprestamos
tudo e ficamos lisos", relembra Melo. O dinheiro foi
para moradores que queriam montar micronegócios, como
uma pequena confecção. Diante do sucesso da
empreitada, o Banco Palmas recebeu doações e
ajuda de outras organizações não-governamentais
e, após seis meses, já havia emprestado R$ 30
mil.
Hoje, tem R$ 50 mil emprestados e 500 moradores interessados
na fila. Os empréstimos vão de R$ 10 a R$ 1.000,
com juros de 1% ao mês para os valores menores e de
3% para os mais elevados. "É a nossa maneira de
conseguir microcrédito", relata Melo. "No
Brasil, pobre não consegue dinheiro no banco porque
não tem como dar garantias. Para o Banco Palmas, interessa
atender quem não as tem."
Com a abertura das linhas de crédito, foi criado também
o palma, uma moeda de troca que funciona apenas dentro da
comunidade. A idéia é estimular os negócios
e fazer com que os ganhos com intermediação
fiquem com os moradores. Hoje, quem precisa do serviço
de um encanador, por exemplo, contrata alguém da comunidade
e paga com essa moeda -pois esse encanador vai poder usar
o mesmo dinheiro no pagamento de outro serviço ou mercadoria,
sempre dentro dos limites do conjunto.
Sobre os empréstimos em palmas não são
cobrados juros. Tudo funciona tão bem que, segundo
Melo, o Banco Central chegou a acusar a comunidade de usar
dinheiro falso -confusão que só foi desfeita
em abril, quando uma investigação do BC terminou
sem ver motivo para punições. "O fato é
que o dinheiro de verdade está preso nos bancos, por
isso criamos o nosso", provoca Melo.
A comunidade também criou empreendimentos paralelos
para reforçar a geração de empregos,
como a confecção Palma Fashion, a fabricante
de produtos de limpeza Palma Limpe e a escola de empreendedorismo
Palma Tec. Somando as iniciativas, a "holding" representou
a abertura estimada de 1.200 postos de trabalho.
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