Julio,
inspirado em seus conhecimentos médicos, decidiu criar
um mouse ortopédico. A mulher o apoiou
A vida do cirurgião argentino Julio Seggalle desabou
quando sua mulher morreu. Sua especialidade, em Buenos Aires,
era operar vítimas de traumas em prontos-socorros.
Teria de reinventar-se para cuidar de sua filha pequena, tantas
vezes era acionado para emergências, muitas das quais
de madrugada.
"Não sabia nem por onde começar. Só
sabia que eu precisava mudar meu ritmo." Passado o luto,
a paixão por uma brasileira fez com que ele encontrasse
mais tempo em casa, próximo da filha - e se transformasse
em inventor. Viúvo, Julio veio de férias com
a filha para o Brasil, onde se apaixonou pela engenheira Marta
Fuess, especializada em marketing e informática. Ficaram
um bom tempo na ponte aérea entre São Paulo
e Buenos Aires."Era muito cansativo", ele conta.
A situação econômica na Argentina, naqueles
anos de 1990, estava difícil, levando-o a optar por
São Paulo, à espera da revalidação
de seu diploma de médico, um tortuoso processo burocrático.
Como ficava muito tempo em casa, Julio ganhou de Marta um
computador conectado à internet. Começou a sentir
dores no braço direito. "Foi aí que começou
uma espécie de febre", afirma o médico.
Desde então ele se fixou na idéia, inspirada
em seus conhecimentos médicos, de criar um mouse ortopédico.
Marta apostou nos sonhos do marido, resolveu assumir o papel
de provedora e estimulou-o a se dedicar à invenção.
"Sempre acreditei no sonho dele." O caminho não
tem sido fácil.
O protótipo do mouse foi levado para grandes empresas
americanas de informática. Mas achavam que o produto
deveria ter um design mais atraente. As modificações,
na opinião do médico, iriam afetar o aspecto
terapêutico. Não teve negócio. Um grande
grupo de informática brasileiro se interessou pela
idéia e emprestou uma sala para que Julio desenvolvesse
sua descoberta para ser comercializada. Tudo parecia ir bem.
Até que a empresa foi vendida e o mouse, arquivado.
"Neste momento, eu fraquejei e caí em depressão",
lembra Julio.
Marta fez com que ele não desistisse e, com seus conhecimentos
de contratos, ajudou o marido a ganhar todos os direitos pelo
produto, patenteado na Europa e nos Estados Unidos. "Já
tínhamos até recebido prêmios internacionais
de saúde no trabalho", diz Julio.
Depois de todas essas frustrações, foram feitas
novas parcerias. O casal aposta que, em breve, começarão
a vender as primeiras unidades dos mouses ortopédicos.
Independentemente da aceitação do mercado (mais
uma incógnita), eles souberam se manter conectados
- e ela, nesta semana em que se comemora o Dia Internacional
da Mulher, é daqueles casos de mulheres que aprenderam
a se reinventar.
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
|