Marcos Magalhães está
criando uma rede de escolas públicas de tempo integral,
onde o professor tem bônus
Formado em administração, com especialização
na Inglaterra, Reinaldo Pomponet, de 32 anos, já trabalhou
em banco (Citibank), empresa de alta tecnologia (Microsoft)
e, agora, dedica-se ao aprimoramento genético de peixes.
A junção dessas habilidades em administração
e tecnologia o levou a desenvolver, nas horas vagas e voluntariamente,
uma experiência para a turma dos "sem-CD",
artistas desconhecidos sem capacidade de produzir e lançar
suas músicas. "É necessário preparar
os músicos a saber tirar proveito das novas tecnologias",
diz Reinaldo, um baiano nascido em família de músicos
e há 12 anos em São Paulo.
O que toca Reinaldo é a incapacidade de os blocos afros
tradicionais, na Bahia, enfrentarem o mercado e gravarem suas
composições, além da falta de oportunidade
de talentos entre os jovens, especialmente aqueles que não
entram na onda do axé. "É um monumental
desperdício." Reinaldo saiu atrás de apoiadores
para montar um misto de escola, estúdio e cooperativa
-ali, jovens receberiam orientação para se aprimorar
e gravar, sem custo.
Bateu pelo menos numa porta certa. Descobriu que um executivo
nordestino que vive em São Paulo gosta de música
e, acima de tudo, cultiva o prazer de fazer experimentos educacionais.
Marcos Magalhães, da Philips, está criando,
em Pernambuco, uma rede de escolas públicas de tempo
integral e currículo baseado no cotidiano, envolvendo
governo, empresários e comunidade. Nessas escolas,
o professor recebe um bônus com base nas notas dos alunos
- o que é uma raridade na rede pública.
Patife descobre raízes
Desse encontro com a Philips, nasceu, em Salvador, a "Eletrocooperativa",
que, a cada ano, vai lançando os CDs e aprimorando
os artistas. "Com as aulas de música, eles aprendem
como gravar e colocar seu trabalho na internet [www.eletrocooperativa.art.br]."
Na festa de lançamento da experiência, em 2004,
mesclaram-se os mundos paulistano e soteropolitano. Dois DJs
paulistanos, renomados dentro e fora do país - Patife
e JD CIA-, embrenharam-se, em Salvador, entre os blocos afros
e terreiros de candomblé. Os dois têm raízes
baianas, mas que nunca levaram em consideração.
"Eles sentiram que estava ali uma dimensão viva,
forte, que nunca tinham percebido." Patife ficou a tal
ponto tocado que decidiu gravar uma música misturando
música eletrônica com a percussão de 30
percursionistas de diferentes bandas afros de Salvador.
A partir deste ano, a idéia é fazer uma ponte
digital, por meio da Eletrocooperativa, entre jovens paulistanos
e os de Salvador."Poderão contar suas experiências
e, quem sabe, à distância, gravar juntos."
Nos seus projetos, está a idéia de fazer um
encontro, transformado em show, em alguma praça. Gente
disposta não falta. Nem falta identificação
regional. Não só porque Sampa, o hino informal
da cidade, é de autoria de Caetano Veloso. Ou porque
aqui tenha sido a plataforma de lançamento do tropicalismo.
"São Paulo, como sabemos, é a maior cidade
baiana do Brasil."
O que ainda não existia era a possibilidade de experimentar,
nessa ponte digital, um ritmo "soteropaulistano".
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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