Frederico (Fred) Galante Neves
tem uma inusitada trajetória profissional. Depois de
passar nove anos na Universidade de São Paulo, formou-se
em psiquiatria e começou a tratar pacientes internados
em hospitais públicos. Desde julho passado, aposentou
por algumas horas os antidepressivos ou ansiolíticos
e passou a receitar risadas. Tornou-se palhaço para
uma platéia de psicóticos, deprimidos, alcoólatras,
esquizofrênicos. "Acho que, enfim, me encontrei."
Quando ainda era estudante de faculdade, Fred tinha uma forte
atração pelos palcos do teatro. Nas suas crises
existenciais, pensava que talvez fosse mais feliz se seguisse
a carreira de ator. "Mas também gostava da idéia
de ser médico." Ao optar pela psiquiatria, procurou
atalhos entre a saúde mental e o teatro. Testou o psicodrama.
"Não gostei." Sem maiores pretensões,
iniciou no ano passado um curso de formação
de palhaço. "Foi uma paixão fulminante."
Passou-lhe pela cabeça não a idéia de
trocar a psiquiatria pelo circo, mas a possibilidade de conciliar
as duas atividades -o que, para alguns de seus colegas, sugeria
que aquele psiquiatra talvez precisasse de tratamento psicológico.
Fred sabia da existência de um movimento de palhaços
que fazem intervenções nos hospitais. "Fui
procurar exemplos de psiquiatras-palhaços que trabalhassem
com pacientes com distúrbios mentais." Não
encontrou exemplos.
Montou uma dupla com um palhaço que já tinha
trabalhado em hospitais -Luis Fernando Bolognesi- e começou
a visitar as vítimas de distúrbios mentais internadas
no Hospital João Evangelista, em São Paulo.
Desde então, ele está escrevendo relatos sobre
sua experiência. "Estou aprendendo que a figura
do palhaço abre um canal de comunicação,
capaz de facilitar o tratamento." Essa abertura, segundo
ele, facilitaria a atuação dos médicos
e psiquiatras que tratam daqueles pacientes.
Por onde vai e conta a experiência, Fred ouve a seguinte
pergunta: os pacientes não vêem naquela figura
de nariz vermelho, pintada, que faz brincadeiras uma espécie
de delírio? Ou então mais um paciente internado
para se tratar? Em muitos casos, segundo Fred, talvez. Para
a maioria, conta, o palhaço é uma figura universal,
que sempre, ao brincar com a imaginação, esteve
acima da realidade.
Primeiros
Resultados da Intervenção de Palhaços
em Hospital Psiquiátrico
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.
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