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REFLEXÃO


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urbanidade
08/12/2004
Harmonia da rua

Há 21 anos, o romeno Lucian Rogulski percorre a pé diariamente, muitas vezes à noite, o trajeto entre seu apartamento, no largo do Arouche, e o Teatro Municipal, onde é o primeiro violinista da Orquestra Sinfônica. Em todo esse tempo, conseguiu a proeza de nunca ser assaltado em seu cotidiano de andarilho. "Eu me sinto em casa andando pelas ruas do centro." A partir desta sexta-feira, ele se sentirá, nas ruas do centro, não em casa, mas numa sala de concerto: participará da experiência de transformar o viaduto do Chá num auditório de execuções de música erudita.
Com 68 anos de idade, Lucian está acostumado a mudanças de ambiente. Saiu da Romênia e fixou-se em Teerã, sempre como violinista.

A agitação política do Irã, com seus fundamentalistas religiosos, nada interessados na cultura ocidental, levou-o à Alemanha, onde foi o primeiro violinista da Orquestra Municipal de Heidelberg.

Até que foi convidado a tocar com a mulher (violinista) e a filha (violoncelista) na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal. No Brasil, a família virou o Trio Rogulski.
"Sempre quis morar fora da Europa, mas não sabia que iria me adaptar tão bem a São Paulo. Esta cidade me lembra muito algumas cidades romenas." Adaptou-se tanto que passou a estudar músicas indígenas e a tocá-las em seu violino.

A combinação exótica dos acordes eruditos com a tradição indígena fez com que ele, ao lado de sua atual mulher, a cantora Marlui Miranda, fizesse excursões pela Europa.

Ele foi convidado a sair do silencioso do teatro e a misturar-se ao caos urbano nas próximas festas de final de ano. Ao lado de outros músicos eruditos e de uma cantora, fará apresentações instalado em um balcão do shopping Light com vista para o vale do Anhangabaú.

O tumulto sonoro parece não incomodá-lo. "A vantagem de tocar na rua é que vemos os olhos das pessoas, o que é quase impossível no teatro. A platéia quase sempre está no escuro." Tocar ali tem um significado especial devido ao trajeto familiar de 21 anos, sempre percorrido a pé -prática inusual entre os habitantes de São Paulo, reféns do carro. "Acho que vou me sentir como se estivesse tocando para vizinhos no quintal de casa."


Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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