Às 5h da manhã, no dia 18 de maio de 1993, nasceu Luísa
com paralisia cerebral. Esse drama fez com que sua mãe,
a publicitária carioca Cristiana Soares Ramos, aprendesse
a gostar de São Paulo. "Essa cidade era para mim
a reprodução terrena do inferno."
Cristiana tinha prazeres alternativos. Natural que São
Paulo não fizesse nem remotamente parte de seus planos.
Grávida, estava satisfeita por deixar o Rio e mudar-se
para Londrina, uma cidade mais tranqüila, no Paraná,
para educar uma criança longe das neuroses de uma metrópole.
Enquanto esperava por Luísa, fazia diariamente caminhadas
e praticava ioga. Só ingeria alimentos naturais. Não
fumava, nem bebia.
Logo constataria que o tratamento da filha exigiria cidades
mais equipadas. Para manter a qualidade de vida, tentou Curitiba
e, depois, Florianópolis. Não deu certo. Descobriu
que sua saída estava em Birmingham, na Inglaterra,
onde desenvolvem uma terapia inovadora para crianças
com paralisia cerebral. "Decidi ir embora." Sem
dinheiro, criou um site (www.projetoluisa.org)
para que pudesse deixar o país.
O site não trouxe dinheiro, mas abriu uma série
de contatos. Cristiana foi convidada, em julho passado, a
conhecer em São Paulo um tratamento desenvolvido pela
Apac ( Associação de Pais e Amigos com Criança
com Deficiência Neuromotora).
O tratamento é inspirado na experiência inglesa.
Impressionou-se com a experiência e voltou a Florianópolis
com um novo projeto: morar em São Paulo enquanto não
conseguisse se sustentar na Inglaterra.
Inesperadamente, viu-se envolvida numa rede de apoios. Luísa,
agora com 11 anos, entrou numa escola municipal (Olavo Pezotti),
onde é acompanhada por uma especialista em paralisia
cerebral, seguidora do método testado com sucesso em
Birmingham. Sem contar que aqui Cristiana tem mais oportunidade
de dinheiro com propaganda.
Ela ainda não sabe se vai conseguir ir para a Inglaterra.
Já sabe que, se não conseguir, ficará
em São Paulo. "A natureza pode ser maravilhosa.
Mas aprendi que a melhor cidade é aquela que oferece
mais possibilidades. Isso é qualidade de vida."
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.
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