Para protestar
contra a elitização da moda, o estilista Jum
Nakao ordenou a suas modelos que rasgassem a roupa na frente
da platéia (veja fotos abaixo) durante um desfile da
São Paulo Fashion Week. Preparada sigilosamente -as
modelos só foram informadas poucos momentos antes do
desfile-, a cena teve impacto mundial porque as roupas eram
feitas de papel vegetal, provocando uma mistura de sons e
cores aos corpos nus. Nakao prepara-se agora para mais uma
rebeldia contra a moda de elite, e dessa vez as passarelas
são as estações de metrô. "O
mundo não precisa de pessoas obcecadas pela estética
do corpo, precisa de pessoas melhores."
Durante a semana dedicada ao design, prevista para novembro,
em São Paulo, Nakao vai dispor roupas em 30 estações
do metrô -são roupas normalmente inacessíveis
para quem, por exemplo, anda de transporte público.
Mas, ali, serão acessíveis porque o estilista
vai distribuir os moldes e os manuais para quem quiser copiá-las.
"Cada um deveria se sentir o próprio estilista."
Esse prazer pela rebeldia deu ao estilista um estranho apelido
nos tempos de estudante: "Qual é a Origem".
Era assim que seus colegas, na escola técnica de informática,
o chamavam, incomodados com o hábito de Nakao de ficar
sempre questionando o professor. "Eu queria mesmo saber
qual era a origem das fórmulas. Eu, na verdade, queria
criar minhas próprias fórmulas." O problema
é que as aulas demoravam mais do que o previsto e os
colegas de classe ficavam irritados.
A vingança, em forma de deboche, veio no apelido "Qual
é a Origem". A informática ajudou-o apenas
a dominar melhor as novas tecnologias de informação,
mas seu caminho foi se dirigindo para a moda. Aproveitou os
conhecimentos que obteve no curso de artes plásticas
da Faap ou trabalhando numa joalheria e numa alfaiataria para
abrir sua grife. "Cansei desse mundo das passarelas.
É bonito por fora, mas muito feio por dentro."
Após a rasgação de roupas do desfile,
Nakao rasgou sua carreira e resolveu dar novo uso para seu
ateliê.
Deixou a confecção, mas não deixou a
moda. Enveredou para o ensino. Dá aula na pós-graduação
e viaja pelo Brasil, contratado pelo Sebrae, para dar assessoria
a artesãos. Convidado a participar da semana do design,
em novembro, pensou em transformar o metrô num misto
de passarela com ateliê, onde acharia pessoas que jamais
teriam condições de comprar certo tipo de vestido,
desses que se vê na passarela. Ao lado dos modelos expostos,
haverá monitores para dar as orientações
sobre como usar os moldes e os manuais. " Acredito que
cada um pode e deve cultivar seu estilo. Isso é o verdadeiro
glamour."
Modelos rasgam as roupas de Jum Nakao
durante o SPFW
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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