A
instalação de um parque tecnológico no
Ceagesp atrairia empresas e empregos e mudaria a paisagem
do local
Quando era menino, João Steiner
transformou seu quarto, um amontoado caótico de livros
e aparelhos, num laboratório onde inventou seu primeiro
telescópio. Era apenas o começo de sua paixão
pela observação do universo. Formou-se em física
na Universidade de São Paulo e fez um pós-doutorado
em astrofísica em Harvard. "Sempre me seduzi por
mistérios como os buracos negros."
Anos depois, ele seria um dos cientistas brasileiros a participar
da criação de um dos mais sofisticados telescópios
já desenvolvidos. Está envolvido, neste momento,
num projeto cujo resultado poderá ser visto a olho
nu -e, se der certo, significará uma das maiores inovações
da história da cidade de São Paulo, com repercussão
nacional.
Diretor do Instituto de Estudos Avançados, da USP,
João Steiner foi convidado a desenvolver os parques
tecnológicos no Estado de São Paulo, cada qual
respeitando a vocação regional. Esses empreendimentos
aproximam geograficamente universidade, centros de pesquisa
e empresas -o mais famoso deles é o que gerou o chamado
Vale do Silício, na Califórnia, que manteve
os Estados Unidos na liderança das tecnologias de informação.
Como o parque tecnológico deve ficar nas imediações
de uma universidade, João Steiner está defendendo
que ele seja implantado na Ceagesp, uma área de 1.300
m2, o tamanho do parque Ibirapuera. Seriam desenvolvidas especialmente
pesquisas associadas aos serviços. Isso significa uma
imensa gama de atividades como saúde, engenharia, finanças,
moda, até telecomunicação, design, passando
por culinária. "Essa é a vocação
paulistana."
Tão grande -ou até maior- que o eventual impacto
das descobertas tecnológicas na economia é a
remodelação urbana. Com suas frutas, flores
e legumes, trazendo os poluidores caminhões, a Ceagesp
significou uma deterioração de toda aquela região
da cidade, próxima da USP, nos dois lados do rio Tietê
-há por ali uma série de galpões abandonados
e áreas desocupadas. "O parque tecnológico,
atraindo empresas sofisticadas e empregos que exigem alta
escolaridade, mudaria a paisagem urbana e humana do local."
Não é uma operação simples. Já
está assinada a parceria entre o governo estadual e
a prefeitura. José Serra garante que a inovação
tecnológica -e, portanto, os parques- será uma
prioridade em sua gestão, mas o terreno da Ceagesp
pertence ao BNDES. A idéia, segundo Steiner, é
levar a comercialização das frutas e verduras
para uma área próxima ao Rodoanel, longe dos
congestionamentos.
Já o BNDES, na visão dele, teria interesse na
inovação tecnológica para a modernização
econômica e aceitaria entrar de parceira. "É
bom para todos", acredita Steiner. Faz sentido.
Não é preciso, porém, nenhum telescópio
para ver o risco. Muitas vezes, a administração
pública, especialmente quando envolve diferentes níveis
de governo, tem mais buracos negros do que o universo, onde
desaparecem as melhores idéias.
Parque
Tecnológico será prioridade em governo tucano
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
|