Nathalia Moreira Castro, de 16
anos, é um retrato de boa parte das adolescentes de
sua geração. Fã de música eletrônica,
gosta de andar pelos shopping centers e diverte-se em chats
na internet. Não se interessa por política e
quase não lê jornal. Seu comportamento mudou
repentinamente quando descobriu que tratores passariam por
cima de sua escola. "Comecei a prestar atenção
às coisas como eu nunca tinha prestado antes."
A mudança ocorreu não apenas com Nathalia mas
com a maioria de seus colegas da escola Martim Francisco,
na Vila Nova Conceição, em São Paulo.
Já com a cabeça nas férias, eles souberam
que a prefeitura venderia a escola, sem licitação,
para dar lugar a algum empreendimento imobiliário de
luxo. Em troca, a cidade ganharia um terreno na periferia,
onde supostamente se ergueria um conjunto habitacional, com
recursos federais. "Na minha vida, nunca tinha participado
de nenhum protesto."
Com os demais alunos, Nathalia aderiu à mobilização
para evitar que os vereadores aprovassem o fim de sua escola.
Em apenas um mês, recebeu, na prática, um curso
intensivo de cidadania. Assistindo a reuniões, sentada
no plenário ou percorrendo os corredores da Câmara
Municipal, aprendeu rudimentos do funcionamento do Legislativo,
dos partidos e do Ministério Público. Viu-se
lendo, interessada, os jornais. "Queria entender o que
estava se passando." Sentia-se não uma espectadora,
mas uma personagem em ação.
Durante dois dias na semana passada, ela esteve no plenário
da Câmara e, abatida, aprendeu mais uma lição:
o poder de convencimento dos governantes. "Tinha a ilusão
de que eles não teriam coragem de acabar com uma escola."
Nathalia e seus amigos ainda não desistiram. Confiam
em que a Justiça vá barrar a transação.
Está prevista para hoje de manhã uma manifestação
em frente à escola, onde pretendem fazer uma ocupação
simbólica.
Ela diz que não consegue entender como, num final de
mandato, se troca uma escola numa área nobre por um
terreno na periferia, sujeito a invasões, sem a garantia
de que o próximo governo terá interesse em utilizá-lo.
"Por que não esperar mais um pouco?" Essa
é uma lição um pouco mais complexa. Nathalia
terá de esperar, pelo menos, o próximo ano para,
em seu curso intensivo de política, tentar entendê-la.
Coluna originalmente publicada na
Folha de Online, na editoria Pensata.
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