Edemar Cid Ferreira virou um colecionador
obsessivo de mapas e documentos raros. Apesar de tão
fixado no tempo, ele descobriu, subitamente, que se tinha
esquecido de algumas das datas históricas de sua própria
vida.
Apenas na manhã de ontem, cinza e chuvosa, Edemar,
ao falar de seu passado, fez as contas e percebeu que se completaram,
neste ano, 40 anos de sua chegada a São Paulo. Vindo
de Santos, em 1964, desembarcara sozinho, com 21 anos, no
Brás.
"Nem tinha me tocado de que o tempo tinha passado tão
rapidamente."
Desde aquele tempo, não parou mais de crescer. Filho
de uma família de classe média, ex-militante
do Partido Comunista, Edemar virou banqueiro, mas notabilizou-se
mesmo como patrono cultural. Ganhou fama nos mais sofisticados
círculos das artes plásticas do mundo.
A volta ao tempo, na manhã de ontem, ocorreu quando
conversava sobre o motivo por que teve de devolver à
prefeitura a Oca, no Ibirapuera. Esse foi um dos cenários
que o ajudaram a firmar a imagem de um dos mais importantes
patronos culturais da história da cidade. Há
poucos meses, viu desfilar 1 milhão de pessoas pela
Oca, a começar de todas as principais autoridades da
República, para admirar as obras de Picasso que trouxe
para o Brasil. Mesmo seus mais fervorosos críticos
dobravam-se ao fato de que, graças a ele, ocorreram
na cidade concorridas exposições.
Com cinco andares, a mansão que mandou construir no
Morumbi, em frente ao Banco Santos, do qual está afastado,
já não abriga festas. Foram-se embora muitos
dos "amigos". Desapareceram as notas nas colunas
sociais que anunciavam futuras exposições. Prefere
nem mais falar com a imprensa.
Mas mostra-se confiante em que, nessa trajetória, está
vivendo apenas uma má fase e saberá encontrar
um caminho no mapa. "Podem apostar, vou me levantar.
Vou acertar minhas contas e salvar o banco." Ele promete
que, quando isso acontecer (se acontecer), ele vai voltar
a movimentar as artes.
"Vou levar artistas plásticos de talento, muitos
deles desconhecidos, para percorrer as rotas das artes mundiais."Se
conseguir, de fato, encontrar-se e superar tantas adversidades,
terá produzido o melhor mapa de sua coleção.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.
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