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REFLEXÃO


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URBANIDADE
22/12/2004
Procura-se um mapa

Edemar Cid Ferreira virou um colecionador obsessivo de mapas e documentos raros. Apesar de tão fixado no tempo, ele descobriu, subitamente, que se tinha esquecido de algumas das datas históricas de sua própria vida.

Apenas na manhã de ontem, cinza e chuvosa, Edemar, ao falar de seu passado, fez as contas e percebeu que se completaram, neste ano, 40 anos de sua chegada a São Paulo. Vindo de Santos, em 1964, desembarcara sozinho, com 21 anos, no Brás.

"Nem tinha me tocado de que o tempo tinha passado tão rapidamente."
Desde aquele tempo, não parou mais de crescer. Filho de uma família de classe média, ex-militante do Partido Comunista, Edemar virou banqueiro, mas notabilizou-se mesmo como patrono cultural. Ganhou fama nos mais sofisticados círculos das artes plásticas do mundo.

A volta ao tempo, na manhã de ontem, ocorreu quando conversava sobre o motivo por que teve de devolver à prefeitura a Oca, no Ibirapuera. Esse foi um dos cenários que o ajudaram a firmar a imagem de um dos mais importantes patronos culturais da história da cidade. Há poucos meses, viu desfilar 1 milhão de pessoas pela Oca, a começar de todas as principais autoridades da República, para admirar as obras de Picasso que trouxe para o Brasil. Mesmo seus mais fervorosos críticos dobravam-se ao fato de que, graças a ele, ocorreram na cidade concorridas exposições.

Com cinco andares, a mansão que mandou construir no Morumbi, em frente ao Banco Santos, do qual está afastado, já não abriga festas. Foram-se embora muitos dos "amigos". Desapareceram as notas nas colunas sociais que anunciavam futuras exposições. Prefere nem mais falar com a imprensa.

Mas mostra-se confiante em que, nessa trajetória, está vivendo apenas uma má fase e saberá encontrar um caminho no mapa. "Podem apostar, vou me levantar. Vou acertar minhas contas e salvar o banco." Ele promete que, quando isso acontecer (se acontecer), ele vai voltar a movimentar as artes.

"Vou levar artistas plásticos de talento, muitos deles desconhecidos, para percorrer as rotas das artes mundiais."Se conseguir, de fato, encontrar-se e superar tantas adversidades, terá produzido o melhor mapa de sua coleção.

Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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