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convivência positiva
02/08/2004
Projetos promovem a integração entre crianças e idosos

Na pequena sala de aula de uma escola da periferia da cidade de São Luiz, no Maranhão, Nizete de Souza Gedeon, 69 anos, se recorda da canção "Prece ao Vento", uma música que cantava para ninar seus filhos há muitos anos e que acabou ficando esquecida. Agora, ela ensina a canção a adolescentes atentos e curiosos. A música foi o meio utilizado para integrar Nizete e mais 14 idosos a um grupo de 25 adolescentes que participam do projeto "Revivendo Músicas de Ontem", da Associação dos Amigos da Universidade Integrada da Terceira Idade, desenvolvido com o apoio do Instituto Junia Rabelo.

O projeto, assim como tantos outros que se multiplicam pelo país, busca unir gerações, promovendo uma troca de experiências e saberes em um processo de crescimento contínuo que se baseia no respeito mútuo às diferenças de cada fase da vida.

Desde maio, os participantes do projeto se encontram duas vezes por semana nas oficinas de música, canto e coral e nas atividades pedagógicas e recreativas. A proposta é aproveitar o conhecimento dos idosos, principalmente daqueles que já participavam do coral da associação, para promover o resgate cultural, trazendo para as aulas músicas regionais e folclóricas, principalmente aquelas com vocabulário pouco comum às crianças. Em contrapartida, crianças e jovens apresentam ao grupo de idosos as novidades musicais da sua geração.

"Eles [os idosos] ensinam várias coisas que a gente não conhecia e dão até conselhos. As músicas antigas são diferentes e até mais interessantes porque trazem mais coisas para a nossa vida do que as de agora", compara Luis Guilherme do Nascimento, 11 anos, que adora música e espera aprender logo a tocar violão. Marta Aurélia Campos Silveira, coordenadora do projeto, explica que a proposta é também trabalhar o respeito e os valores que estão se perdendo na relação com os idosos. "Essa relação está sendo muito positiva até agora. A gente tem costume de só se relacionar com as crianças da família e, quando elas não são de casa, o desafio é grande, mas gostamos de encarar. Nós queremos participar, aprender e ajudar", afirma Nizete.

No projeto, os idosos se tornam ainda "madrinhas" ou "padrinhos" das crianças e passam a acompanhar mais de perto o seu dia-a-dia, a fim de colaborar com a família. Além dos 15 idosos participantes, muitos outros já se envolveram na ação e atuam como voluntários, colaborando na organização e coordenação das ações. "Muitos idosos, que estavam com depressão nos procuram para participar, pois sempre quiseram trabalhar com a música e nunca puderam", comenta Marta Aurélia.

Ampliação
Em breve, o projeto deve incorporar mais 25 adolescentes nas atividades, que devem também ser ampliadas. Os participantes irão promover apresentações musicais para outros grupos de Terceira Idade, farão visitas às escolas de músicas da região, além de aprenderem a produzir seus próprios instrumentos com materiais alternativos, como caixas de papelão. Ao final do projeto, no mês de fevereiro de 2005, o grupo irá apresentar o espetáculo "Aurora e o Entardecer em Festa", ressaltando as belezas de cada fase da vida. "Vamos procurar outros parceiros para dar continuidade ao projeto, com o fim do aporte financeiro, e expandir a ação para outras escolas. A intenção é que as atividades não terminem já que os instrumentos serão doados para a instituição de ensino participante", afirma Marta Aurélia.

O abcd dos vovôs e vovós
Se no projeto "Revivendo Músicas de Ontem" são idosos que transmitem aos mais jovens seus conhecimentos sobre a cultura do Maranhão, na iniciativa "Atenção de 1ª para a 3ª Idade: Ler para Alegrar, Escrever e Ajudar", são as crianças que levam atenção, carinho e novas aprendizagens para os mais velhos.

O projeto, elaborado há oito anos pela professora de Educação Infantil Vânia Aparecida Orlando de Almeida, promove atividades com os alunos que estão em fase de alfabetização na EMEB - Escola Municipal de Educação Básica "Caetano de Campos", em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo.

Vânia explica que decidiu elaborar o projeto quando verificou a falta de respeito dos jovens perante aos idosos. "Precisava trabalhar com essas questões com os alunos desde pequenos para que, no futuro, tivessem valores formados. A proposta é integrar a alfabetização com esse tema transversal para a mudança de atitudes". A educadora trabalha o tema com as crianças em sala de aula, explicando como se dá o processo de envelhecimento e a velhice, orientando-as sobre as necessidades especiais deste grupo e de como essas pessoas devem ser tratadas. Depois, incentiva o grupo de crianças a visitar as 20 idosas que vivem no asilo Casa do Tio Oscar, no município vizinho, Santo André, sempre no segundo semestre do ano.

A cada mês, o grupo de 30 crianças prepara uma atividade diferente para realizar com as idosas. Na primeira visita, as crianças escolhem uma história para contar. Louise Helena Mosca, 6 anos, fala que, no ano passado, quando participou do projeto, escolheu o relato de Rapunzel, que já tinha lido para sua avó, para contar a uma idosa, pois achava a história "muito bonita". "Gostei também de ajudar elas a passearem pelo jardim para ver as flores, porque elas não conseguem fazer tudo sozinhas. Elas ficaram muito contentes", conta.

Em dezembro, as crianças realizam uma festa de encerramento, junto com a família, e entregam as "sacolinhas de Natal" com presentes aos idosos. O resultado final da ação é a elaboração de uma campanha de solidariedade.

Além das visitas, o tema é trabalhado em sala de aula de forma transversal. As crianças aprendem Matemática produzindo gráficos sobre os donativos e idade dos idosos. Na aula de Língua Portuguesa, as crianças preparam os convites e cartazes que serão utilizados durante a campanha de solidariedade. Já nas aulas de Arte e História os alunos aprendem canções e danças para apresentaram aos idosos.

Segundo Vânia Aparecida, o que se percebe é que as crianças passam a ter um outro olhar em relação aos idosos. "Muitas crianças vão agora ao supermercado e pedem para os pais deixarem uma pessoa idosa passar na frente ou querem ajudar a carregar sacolas quando vêem um senhor passando na rua", conta a professora, que destaca a mudança na atitude também das crianças com os próprios avôs.

Alzira Neli dos Santos Mosca, mãe de Louise, conta que, desde o início do projeto, a filha não admite mais que qualquer pessoa da família chame um idoso de velho. O carinho de Louise pelos avós aumentou. "Hoje, ela diz que nunca vai deixar os avós num lugar como este e que vai cuidar. São coisas que ela nunca mais vai esquecer", comenta a mãe, que avalia pontos positivos também para a família. "Todo mundo acaba se envolvendo e participando das atividades. É muito importante porque ensina muito para nós".

Para Maria Amélia Cababresi, 75 anos, que vive há mais de três anos no asilo, o projeto significa mais alegria para a casa. Ela ressalta que o carinho e atenção das crianças são muito importantes para elas. "É uma beleza porque distrai a gente. Elas são amorosas e fazem um monte de perguntas. É uma vida para nós", conta.

Aprender a aprender
Seja as artes plásticas, a dança, o teatro e até os esportes. Não importa qual for a atividade escolhida. O que vale é o encontro, a troca, o conhecimento adquirido entre os participantes, principalmente se eles soa de gerações diferentes. É dentro dessa concepção que surge "SESC Gerações". O programa tem com o objetivo promover a co-educação entre as diversas faixas etárias, dando ênfase ao repasse de conhecimentos, combate ao preconceito etário e estimulo ao convívio solidário.

O SESC já é reconhecido no país pelas ações voltadas para a Terceira Idade que desenvolve há mais de 40 anos. Só no Estado de São Paulo, mais de 55 mil idosos participam da programação oferecida pela instituição, que inclui cursos, palestras, escolas da Terceira Idade, conferências, oficinas, encontros, simpósios, atividades corporais, recreativas e sociais.

O novo programa surgiu a partir de um estudo desenvolvido por José Carlos Ferrigno, psicólogo e especialista em Gerontologia Social, da Gerência de Estudos e Programas da Terceira Idade do SESC de São Paulo, que deu origem, ano passado, ao livro "Co-educação entre Gerações".

A pesquisa foi realizada com os idosos participantes das escolas abertas da Terceira Idade do SESC e com jovens monitores. "Percebi que havia uma troca constante entre as gerações. No caso dos idosos, eles passam a memória social e cultural, tanto individual, quanto da família, da cidade e até da política brasileira. Eles ainda transmitem uma educação para o envelhecimento, com o seu próprio exemplo. O jovem diz que quer envelhecer como tal idoso porque ele é alegre. São modelos que se criam. Já os adolescentes ensinam a educação para os novos tempos. Os idosos que convivem com os jovens têm mais flexibilidade de valores morais como casamento, aborto. Além disso, é uma educação para as novas tecnologias, com os computadores, internet", comenta José Ferrigno.

A partir desta constatação, de acordo com o coordenador, o principal objetivo do programa foi estabelecido: enriquecimento humano e cultural que os indivíduos podem conseguir a partir do aprendizado de um universo desconhecido, que é a outra geração.

O SESC Gerações está sendo desenhado e a implementado gradualmente. Todas as unidades que já desenvolvem ações intergeracionais estão participando do processo de construção do programa. A instituição irá incorporar essa nova proposta (integração de gerações) às atividades que já realiza. "Para nós o produto final, seja um vídeo ou uma peça de teatro, não é o mais importante, mas sim o processo criado", aposta José Carlos.

O SESC Consolação, na região central de São Paulo, por exemplo, já desenvolveu três projetos intergeracionais. A novidade foi o projeto "Coletor de Imagens", que se propôs a conhecer a história do bairro da Vila Buarque e região, a partir da vida dos moradores, trabalhadores e freqüentadores do local. Durante três meses, cerca de 40 jovens e idosos participaram conjuntamente de oficinas de vídeo, tratamento de imagens e performance urbana para a produção de um documentário de 26 minutos. O produto traz imagens da região, uma intervenção urbana feita pelo grupo na rua, além de entrevistas coletadas com pessoas do bairro.

"Houve um crescimento pessoal e mútuo dos participantes. Muitos nunca tinham pensado, por exemplo, em intervir com pessoas na rua ou até mexer numa câmera de vídeo", ressalta Mariza Nakaozi, coordenadora dos projetos da Terceira Idade do SESC Consolação. Para Laurieta Galvina Gomes, 70 anos, participar das oficinas de vídeo e de performance foi uma experiência nova e de aprendizado, apesar de já freqüentar as aulas de teatro há quatro anos. "Foi tudo muito divertido, alegre, para frente. Fazer as atividades com os jovens é muito bom porque eles aprendem e a gente se renova. Pena que quando jovem não pude estudar para isso. Adoro teatro", diz Laurieta.

Mariza explica que o projeto, finalizado no início deste mês, está sendo revisto para aprimorar essa relação entre gerações. "Este é um processo que não dá para incorporar rapidamente. O mais importante é que os participantes incorporem esse novo olhar sobre as gerações realmente na sua vida".



DANEILE PRÓSPERO
do site setor 3

 
 
 

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