O idealismo e a vontade de um grupo
da zona leste de São Paulo somados à experiência
de uma família circense têm dado resultado: crianças
e jovens, a maioria carentes, aprendem acrobacias, malabarismos
e palhaçadas. E vivem nas alturas durante trapézio
e tecido (acrobacia feita enrolando o corpo numa faixa, que
ficou conhecida com o canadense Cirque du Soleil).
O curso de teatro e circo, que dura nove meses e é
gratuito, tem 70 alunos. As aulas são em uma tenda
improvisada no quintal da Biblioteca Municipal Paulo Setúbal,
na Vila Formosa, zona leste. O local é pequeno, mas
não falta animação para aprender exercícios
que exigem concentração e força.
“As atividades do circo trabalham as emoções
e trazem equilíbrio”, diz o instrutor Antonio
César de Abreu, de 54 anos, cuja família era
dona do Circo Vostok, que faliu há cinco anos. Ele
dá as aulas com a filha Patrícia Palácios
de Abreu, de 28 anos, que, como o pai e grande parte da família,
teve a vida pautada pelo circo. Já estão na
quinta geração de circenses. “É
gratificante ver as crianças adquirindo confiança
e executando as tarefas”, diz Patrícia.
O envolvimento de Antonio com educação pelo
circo começou nos anos 90 quando foi criado no Estado
o circo-escola. “Fazíamos um trabalho maravilhoso
com carentes de várias regiões.” Alguns
de seus alunos são filhos de ex-aprendizes do circo-escola
da Vila Formosa. O grupo chegou até a se apresentar
na Eco 92. O líder comunitário da Favela de
Vila Prudente Silvio Pereira da Silva, de 27 anos, aprendeu
as artes circenses com Antonio. Hoje, leva os três filhos
e outros quatro alunos da favela para assistir às aulas.
Sem dinheiro para o ônibus, o grupo vai de carona.
As aulas que pai e filha dão fazem parte do projeto
Circo e Arte na Zona Leste, coordenado pelo grupo Circo de
Trapo: são quatro jovens entre 23 e 25 anos, três
dos quais da região.
O trabalho começou há três anos mesclando
apresentações de teatro e circo em praças
e escolas. Neste ano, firmaram um convênio coma Prefeitura.
Convidaram então a família circense. “A
família Vostok tem muita experiência”,
diz o ator Marco Ponce, de 23 anos, do Circo de Trapo.
O grupo já tem uma parceria com a CPTM. A posição
da sereia no trapézio, em que os cabelos quase tocam
o chão, é a preferida da estudante Pamela Karina
da Silva, de 12 anos. “Já melhorei bastante desde
que as aulas começaram.” Rita Batata, de 18 anos,
também se entusiasma. “Acho os exercícios
no tecido belíssimos e ajudam na minha carreira de
atriz”, diz a jovem, cuja mãe também vai
às aulas.
MARICI CAPITELLI
O Estado de S. Paulo
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