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ajuda extra
30/07/2004
Fisioterapia assistida por cães ganha espaço no país

Quando escolheu a profissão de fisioterapeuta, Claudinea Guedes Yamashiro não imaginava que um dia pudesse vir a se envolver com cachorros. Em 2002, sete anos depois de formada, a professora responsável pela fisioterapia geriátrica da Universidade Santo Amaro (Unisa), em São Paulo, viu-se diante de um desafio: o aluno Vinicius Fava Ribeiro queria fazer uma monografia na área de geriatria usando cães.

Assim começaram as sessões que estão contribuindo para a reabilitação de dona Luciana, 69 anos. “Ela não tinha contato com o mundo externo, ficava só com os olhos fechados. Mas, um dia, um cão chamado Frisley queria a sua atenção e começou a insistir com a patinha em sua perna, o focinho tentando alcançar a sua mão. Nesse momento, ela abriu os olhos, deu um sorriso, fez carinho e por fim chorou de emoção”, lembra Jerson Dotti, fundador do projeto Cão do Idoso.

O projeto é administrado por uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), cujo trabalho consiste na realização de terapia assistida por animais (TAA) em casas de repouso e abrigos para idosos. A TAA serve de estímulo e complemento a vários tipos de tratamento. Dona Luciana está na capital de São Paulo, no Lar de Idosos Vivência Feliz, uma das entidades atendidas.

O Cão do Idoso existe desde 2000 e começou com a atividade assistida por animais, voltada para a socialização e a adaptação dos pacientes ao convívio com o cão. É um momento de integração entre os idosos, os animais e outras pessoas, que normalmente são os donos dos animais.

A terapia assistida por animais, que passou a ser feita dois anos depois, está relacionada à melhora da saúde, pois usa o melhor amigo do homem como agente estimulador para tratamentos de fisioterapia, psicologia ou fonoaudiologia. Dona Luciana apresenta um quadro de depressão severa que a deixa incomunicável e a levou a viver em uma cadeira de rodas. Ela também faz fisioterapia convencional, mas os resultados não são tão bons como quando o cão participa.

“A grande responsável por toda melhora que ela tem é a fisioterapia assistida por cães. Quando se coloca o cachorro na sua frente, muda tudo, ela passa a se comunicar inclusive com as pessoas, passa a responder às perguntas, fazer os exercícios”, conta Claudinea, ressaltando que, sem a presença de Frisley, a paciente não responde às perguntas das pessoas e não se movimenta sozinha.

Trabalho inédito no Brasil
A maior parte do material de pesquisa utilizado por Vinicius Ribeiro na sua monografia foi baseada em experiências dos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde este tipo de trabalho já é realizado há quatro décadas. No Brasil, a maioria dos estudos envolvendo animais é voltada para a equoterapia, que utiliza o cavalo em tratamentos voltados para a educação, reeducação e reabilitação de pessoas com comprometimentos físicos ou mentais.

Em outros países, a pet therapy (TAA, no Brasil) com cães e outros animais domésticos já é reconhecida em universidades por contribuir para a recuperação de pacientes. Desde o ano passado, a Unisa aborda o tema em sala de aula e o trabalho no Lar de Idosos Vivência Feliz passou a ser reconhecido pela universidade como estágio.

O trabalho dos alunos é supervisionado por Claudinea e Vinícius e consiste em controlar a postura dos pacientes e elaborar a seqüência de atividades, como jogar um objeto para o cão buscar, escovar os pêlos do animal, fazer massagem no animal com os pés e outras. Ao todo, 20 idosos participam da fisioterapia assistida por cães.

A professora Claudinea juntou conhecimentos da fisioterapia e da cinesioterapia (tratamento por meio de exercícios) e elaborou maneiras de aplicá-los envolvendo o cão. “O idoso tem certa resistência a tratamentos, principalmente quando é preciso fazer exercícios. Eles têm uma tendência a preferir ficarem quietinhos. Só que isso é ruim. Então, tentamos transformar a fisioterapia em algo prazeroso”, ressalta Claudinea.

O dono do cão acompanha as sessões e comanda o animal por meio de gestos. Mas o idoso acredita que ele é quem está no comando e sente como se estivesse adestrando o cachorro. A professora observa que “Eles se sentem responsáveis pelo bem-estar do animal: enquanto um está fazendo o exercício, o outro dá dicas de como agir para o animal gostar do que está fazendo. Para os pacientes, o exercício faz parte do treinamento do cachorro.”

O tratamento tem contribuído inclusive para maior interação entre os pacientes. Antes, alguns não se falavam, mesmo morando no mesmo quarto. Agora, eles passaram a conversar, a própria fisioterapia se transformou em assunto e os donos dos animais também passam a integrar a rede de relacionamento destas pessoas.

Em sua experiência voluntária, o assessor de comércio exterior Jerson Dotti já observou que o envolvimento dos animais faz muita diferença: “Os exercícios usuais da fisioterapia são muitas vezes monótonos para os idosos e envolvem apenas contatos com objetos. Com o cão é diferente, pois ele cria o ambiente ideal para motivação dos idosos. É um ser vivo oferecendo carinho, atenção e muito amor.”

Retorno fundamental
O dono do animal, responsável pelos comandos e pela ajuda para estimular o cão e o idoso, é um elemento fundamental na equipe, mas também se sente recompensado.

“O trabalho voluntário traz uma satisfação e um prazer incomparáveis. Por meio dele, compreendemos melhor a necessidade do outro. Nós nos sentimos úteis e há um aumento de consciência de que o ambiente social e as pessoas que nos cercam precisam de nossa colaboração”, afirma Dotti, que começou seu trabalho voluntário [apresentou seu voluntariado] pensando em atender às necessidades das pessoas idosas.

A fisioterapeuta Claudinea também vê vantagens pessoais no trabalho com os animais: “Tentando fazer algo em prol dos idosos, acabei me beneficiando também, com a adaptação com os cães. Hoje, não tenho problema nenhum com relação a eles”, ela comemora.

Os cães envolvidos na atividade podem ser de qualquer raça – ou até sem raça definida –, desde que não constem da Lei da Focinheira (que determina que algumas raças devem usar focinheira quando não estão em sua casa ou canil). Em geral, o animal deve ser gentil, obediente e apresentar aptidões para este tipo de trabalho.

A equipe do Cão do Idoso tem profissionais que oferecem apoio para identificar se os cães são adaptáveis à função e até para treiná-los. A cadela de Jerson Dotti, que participa da atividade assistida por animais juntamente com outros 34 animais, é uma poodle.

“Muitas empresas, mesmo as do setor de animais, ainda não acordaram quanto à importância de ter sua imagem ligada à responsabilidade social, mas essa é uma questão de tempo. Quando isso acontecer, a TAA andará a passos largos no Brasil e será mais uma atividade reconhecida que alcançará as pessoas que precisam”, espera Dotti.

O site da OSCIP Organização Brasileira de Interação Homem-animal Cão Coração, responsável pelo Cão do Idoso, é o www.projetocao.com.br.



As informações são da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

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