Um tecido macio e agradável
ao toque está sendo largamente usado para fazer camisetas,
camisas pólo, bonés e roupas em geral. Quem
os compra, além de adquirir um produto de alta qualidade,
está contribuindo para diminuir a poluição
do meio ambiente. Isto porque o tecido é um poliéster
feito de garrafas PET recicladas.
A primeira utilização do PET (Polietileno Tereftalate)
é destinada principalmente para a fabricação
de embalagens para refrigerantes, sucos de fruta, água
mineral, óleo de cozinha e produtos de limpeza. Mas
depois que utilizamos seu conteúdo e jogamos estas
embalagens no lixo, muitas coisas ainda podem ser feitas com
elas. Cordas, cerdas de vassouras e escovas, carpetes, enchimento
de travesseiros, pelúcia, cortinas, lonas, rolos de
pintura e adesivos são apenas alguns dos exemplos.
“De 35 a 40% da resina reciclada são utilizados
na fabricação de tecido”, calcula André
Vilhena, diretor-executivo do Cempre – Compromisso Empresarial
para Reciclagem, uma associação que promove
a reciclagem no Brasil e busca promover a conscientização
sobre a importância deste ato.
O resultado desta fabricação é o mesmo
dos produtos convencionais. “O tecido feito a partir
de PET reciclado tem qualidade equivalente a do tecido comum.
A respiração, por exemplo, é normal”,
destaca o gerente industrial Edvaldo Peres, da Krimpp, empresa
que produz o tecido e camisetas a partir de fibra de PET reciclado.
A Krimpp produz atualmente 20 mil peças, além
de tecido, que é vendido para outras confecções.
Com a sua produção, a Krimpp tira do meio-ambiente
cerca de 80 mil garrafas por mês. “A preocupação
da empresa é justamente ter uma alternativa de produto
de boa qualidade, ao mesmo tempo em que diminuímos
a poluição do meio ambiente”, afirma Peres.
“O público tem mesmo tendência a achar
que os produtos feitos a partir de material reciclado são
de baixa qualidade. Ao contrário, o tecido de PET reciclada,
por exemplo, é de alta qualidade”, complementa
André Vilhena, lembrando que, proporcionalmente ao
maior espaço que estes produtos vêem encontrando
no mercado, há também um avanço tecnológico.
Reciclar e fazer moda
O estilista Mario Queiroz, um dos mais cultuados em São
Paulo, já trabalhou com este tipo de tecido e lembra
que “quando se busca um novo desenvolvimento têxtil,
seja ele qual for, a questão do conforto e de um bom
toque é uma das exigências”. Queiroz ressalta,
no entanto, que mesmo se o produto apresentasse qualquer desvantagem,
isso seria menor diante da possibilidade de reciclar e fazer
Moda ao mesmo tempo.
O Social Web – site de comercialização
de produtos de organizações não governamentais
– é um dos espaços em que podem ser encontradas
à venda camisetas produzidas com tecido feito a partir
de PET. “Para fazer cada camiseta são utilizadas
duas garrafas PET recicladas”, revela Alexandre Moraes,
administrador do site.
A fabricação destes artigos, além de
empregos diretos, gera renda para os catadores, sucateiros
e outros trabalhadores que atuam na reciclagem. Com o desenvolvimento
deste mercado, em todo o Brasil têm sido criadas muitas
cooperativas e associações de catadores de embalagens
descartadas. O material recolhido é selecionado e vendido
para as indústrias de reciclagem.
“As cooperativas de catadores vivem basicamente de
papelão, alumínio e PET. Falta a sociedade se
sensibilizar e encaminhar este material para as cooperativas.
E o poder público deve contribuir também, porque
em todos os lugares há esforços por parte dos
catadores”, defende Vilhena.
Além da geração de emprego e renda,
a reciclagem do PET tem diversos outros benefícios
– entre eles, a redução do volume de lixo
nos aterros sanitários e uma melhora no processo de
decomposição da matéria orgânica:
o plástico é impermeabilizante e sua presença
nos aterros prejudica a circulação de gases
e líquidos. E ainda tem a vantagem de requerer, em
média, apenas 30% da energia necessária para
a transformação da matéria-prima. Por
este e outros fatores, o produto feito a partir do PET reciclado
é cerca de um terço mais barato que o fabricado
com matéria-prima virgem.
Mario Queiroz gosta de lembrar o que tem por trás
de uma peça feita com material reciclado. “Participei
do projeto Carência Zero, onde as camisetas eram feitas
com o tecido de PET. O resultado é muito bom e fica
ainda melhor quando chegam as informações de
como é o processo de produção deste tecido”,
observa.
O Carência Zero é promovido pela Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
(ABIT) e visa incentivar a inclusão social por meio
do Primeiro Emprego na Cadeia Têxtil e de Confecção
e pela organização de cooperativas de coleta
e reciclagem. Para arrecadar fundos são vendidas camisetas
feitas com fibras de garrafas PET reciclada.
Confecção do fio em três tempos
A reciclagem de garrafas PET e a sua transformação
em tecido têm três fases. A primeira é
quando as garrafas e outras embalagens usadas são recolhidas
pelos catadores, lavadas e separadas por cores. Nesta fase,
são retirados a tampa e o rótulo e a embalagem
passa por um processo de secagem. Então o PET é
moído, reduzido a pedaços pequenos.
Na segunda fase, é feita a fusão a uma temperatura
de 300 graus, a filtragem e a retirada de impurezas. Na fábrica
onde é feita a fibra, repete-se o processo de fusão
a 300 graus e o material é passado por equipamentos
que o separam em filamentos. O resultado é uma fibra
cerca de 20% mais fina que o algodão.
A terceira e última fase é a da estiragem,
quando a fibra é transformada em fio. As fibras feitas
a partir da garrafa PET reciclada podem ser usadas sozinhas
ou associadas a outro tecido, como a seda ou o algodão.
Peres, da Krimpp, observa que, normalmente, para peças
do vestuário, o poliéster é mesclado
com algodão. Mas isso acontece tanto com o poliéster
feito a partir de matéria-prima reciclada, como o feito
a partir de matéria-prima virgem. Isso porque o tecido
100% poliéster pode dificultar a transpiração.
Um pouco de história
A resina PET foi desenvolvida pelos químicos ingleses
Whinfield e Dickson, em 1941, para ser usada na fabricação
de fibras sintéticas. Somente na década de 1970
ela foi empregada como matéria-prima de garrafas, hoje
a sua principal utilização.
Algumas décadas depois, a preocupação
com o meio ambiente inspirou pesquisas que concluíram
que a resina pode ser completamente reciclada, e até
mais de uma vez, sem prejudicar a qualidade do produto final.
Atualmente, 1,5 litro de embalagem PET pode ser feito com
apenas 35 gramas de material virgem.
Quando o mercado de fibras descobriu a verdadeira fonte de
matéria-prima contida no PET, a resina reciclada passou
a ser empregada na indústria têxtil. No Brasil,
as embalagens PET começaram a ser usadas em 1988, o
que trouxe vantagens para o consumidor, mas também
a necessidade de se aprender sobre a reciclagem deste material.
Nosso conhecimento vem se desenvolvendo e a reciclagem, ganhando
espaço. De acordo com dados do Cempre, em 2003 quase
a metade das embalagens utilizadas no país já
era reciclada. Foram consumidas 300 mil toneladas de PET e
120 mil, ou seja, 40% do total, eram recicladas.
Vilhena informa que, no Brasil, a reciclagem do PET teve
um grande crescimento nos últimos cinco anos. O valor
da tonelada de resina para reciclagem, por exemplo, subiu
de R$ 400 para R$ 1.200 desde 2001.
As informações são
do site da Fundação Banco do Brasil.
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