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Criado em 1946, o Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) tem um longo histórico
de contribuições prestadas à sociedade
brasileira. Por meio de seus cursos de formação,
já preparou mais de 40 milhões de pessoas para
o setor de Comércio e Serviços, ajudando-as
a conseguirem uma vaga no mercado de trabalho. Adaptando-se
às mudanças ocorridas ao longo do tempo, o Senac
passou a atuar também na área do terceiro setor.
Um exemplo disso é o Programa Formatos Brasil –
Formação de Atores Sociais para o Desenvolvimento
Comunitário.
“Percebemos que não bastava
levar apenas a educação à população”,
conta o gestor do Formatos Brasil, Sérgio de Oliveira
e Silva. “Começamos, então, a trabalhar
com a educação comunitária nas dimensões
produtiva e organizativa. E, logicamente, a dimensão
organizativa envolve os conceitos de sociedade civil organizada
e terceiro setor.” Essa aproximação com
a educação comunitária aconteceu em 1992,
na época da realização da Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92) e um ano antes da Ação da Cidadania
contra a Fome, a Miséria e pela Vida ser fundada por
Betinho. Ou seja, no mesmo momento em que começava
a ser popularizado no país o termo organização
não-governamental (ONG).
O Senac passou a oferecer cursos de
capacitação para profissionais do terceiro setor,
mas a procura era intensa. “Havia uma grande demanda
e poucas alternativas. Abríamos turmas com 100 vagas
e recebíamos três mil candidatos, inclusive de
outros estados. Era preciso trabalhar em escala”, lembra
Sérgio, que atua na unidade Penha do Senac de São
Paulo. Em 2003, o Senac-SP organizou o Programa Formatos 500,
que capacitou 500 gestores de organizações comunitárias
da capital paulista.
O sucesso do programa e as parcerias
com a The Johns Hopkins University e a Fundação
Banco do Brasil levaram o Senac a expandir o Formatos a outros
12 estados brasileiros: Amazonas, Pará, Bahia, Ceará,
Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em 2004 foram atendidas 580 lideranças comunitárias
desses estados. Para este ano, a meta é mais ambiciosa:
capacitar cinco mil pessoas. Só em São Paulo,
cujas aulas começam no próximo dia 16, serão
1,5 mil alunos.
No ano passado, graças a um
convênio com o consulado norte-americano de São
Paulo, uma equipe do Senac visitou diversas ONGs dos Estados
Unidos e a The Johns Hopkins University, instituição
que abriga uma das principais pesquisas sobre o terceiro setor
no mundo. Alguns meses depois, sete especialistas da universidade
vieram ao Brasil para capacitar 27 facilitadores do Senac.
Esses facilitadores são os professores do Formatos
Brasil. A troca de experiências entre norte-americanos
e brasileiros permitiu um intercâmbio entre as metodologias
das duas organizações. “A metodologia
não está fechada. Ela adquire diferentes formatos
de acordo com a demanda das organizações e das
localidades. Levamos em conta o contexto”,explica Sérgio.
Atualmente, o conteúdo do programa
é composto por uma carga horária de 112 horas
que englobam aspectos conceituais do terceiro setor (redes
sociais, economia solidária e desenvolvimento local
integrado e sustentável), ferramentas de gestão
(planejamento estratégico, elaboração
e avaliação de projetos sociais, formação
de parcerias e captação de recursos) e empreendedorismo
social. “Geralmente, os ‘ongueiros’ abraçam
uma causa, mas não se preparam para dirigir uma organização”,
ressalta o gestor Sérgio. O programa atende apenas
a organizações de base comunitária e
de interesse público.
Novas visões
Uma das pessoas capacitadas pelo Formatos em 2003
foi a psicóloga Rosana Tozato, diretora da Associação
Nossa Escola, no bairro de Vila Prudente, Zona Leste de São
Paulo. A entidade agrega pais de alunos da Nossa Escola, que
alfabetiza, qualifica e inclui no mercado de trabalho pessoas
com deficiência mental. Segundo Rosana, as aulas do
programa vieram em um momento oportuno, pois há três
anos o mantenedor único da escola anunciava que a partir
daquele momento não iria mais poder arcar com todas
as despesas da escola. Os pais criaram a associação
para conseguir novos parceiros e não serem obrigados
a fechar a unidade de ensino. “Começamos perdidos.
Não fazíamos idéia do que era terceiro
setor e como captar recursos”, recorda Rosana. Hoje,
se ainda não conseguiu sua auto-sustentabilidade, a
associação conta com 22 parceiros, que doam
dinheiro, material gráfico, essências para a
produção de sabonetes, computadores e outros
objetos.
“Éramos limitados ao
trabalho da escola, à parte pedagógica. Não
tínhamos uma visão da comunidade. Com o curso
do Senac, ganhamos outros parceiros e uma nova visão
do terceiro setor”, agradece a diretora da Associação
Nossa Escola, integrante da Rede Vila Prudente, composta por
cerca de 15 entidades do bairro. “Reunimo-nos uma vez
por mês, trocamos doações e materiais,
entramos juntos em eventos e buscamos soluções
conjuntas para problemas em comum”, enumera Rosana.
Sérgio de Oliveira, gestor
do Formatos, ressalta que uma das propostas do programa é
justamente que as organizações se articulem
em redes após a capacitação. Para ele,
uma das questões cruciais ensinadas pelo Formatos é
a diferenciação entre a causa e a organização.
Sérgio explica que a gestão do terceiro setor
é baseada no mundo empresarial, mas lembra que as ferramentas
de gestão das empresas foram criadas para que elas
se perpetuem. As organizações do terceiro setor,
no entanto, lutam justamente para que as causas que as originaram
sejam eliminadas. “Primeiramente, as pessoas abraçam
uma causa: deficiência, crianças de rua, trabalho
infantil etc. E, para trabalhar com essa causa, cria-se uma
organização. A causa tem que ser sua razão
de ser. As organizações têm que buscar
ser mais eficazes, profissionalizar-se, trabalhar de forma
cooperada e ser auto-sustentável, senão o líder
social vira gerente de um negócio”, conclui.
IVAN AKASAHARA
do site da Fundação Banco do Brasil
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