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Biologia, física e química.
Esses são alguns dos cursos que devem receber um incentivo
especial do Ministério da Educação ao
longo dos próximos anos, de acordo com Luiz Araújo,
presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), órgão do Ministério da
Educação.
Segundo ele, existe uma distorção
no ensino superior do país. O crescimento do sistema
universitário, com base nas leis de mercado, levou
a uma oferta excessiva de cursos como direito e administração,
enquanto existe um déficit de 250 mil professores na
educação básica. O intuito do governo
é equilibrar essa situação.
"Hoje, a preocupação
central no ministério são as licenciaturas.
São cursos caros que, se depender do mercado, não
serão criados. O governo tem que induzir a criação
desses cursos", disse Araújo na manhã de
ontem, durante o seminário "Qualidade no Ensino
Superior", realizado pelo UniFMU (Centro Universitário
das Faculdades Metropolitanas Unidas) e pelo Imae (Instituto
Metropolitano de Altos Estudos).
A influência do mercado no ensino
superior foi um dos temas mais debatidos no evento. Para Araújo,
a universidade deve ser avaliada por sua função
social.
O diretor de Estatísticas e Avaliação
do Inep, Dilvo Ristoff, explicou como o ministério
pretende realizar essa avaliação. A proposta
é extinguir o Exame Nacional de Cursos (Provão)
e instituir, a partir do próximo ano, o Sinaes (Sistema
Nacional de Avaliação Institucional da Educação
Superior). A principal diferença, segundo ele, é
a inclusão de uma análise qualitativa dos cursos.
Para Ristoff, a avaliação
parte do princípio de que as universidades não
são fábricas que formam profissionais para atender
às necessidades das empresas. "As universidades
não são e não querem ser escolas de 3º
grau, querem o avanço da ciência e da arte sem
o atrelamento ao utilitarismo."
A importância de pesquisas desvinculadas
de interesses imediatos também foi abordada pelo professor
Geraldo di Giovanni, da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "Não
é o resultado em si das pesquisas que eleva o desenvolvimento
dos alunos, mas a cultura da curiosidade que incute."
Após as palestras, houve um debate sobre a qualidade
do ensino superior, conduzido por Arnaldo Niskier, membro
da Academia Brasileira de Letras e conselheiro do Imae, que
questionou como essas mudanças poderiam ser realizadas
diante da falta de verbas para educação.
O governo federal vem destinando cada
vez menos recursos para a área em relação
ao total arrecadado pela União desde 1995. Isso porque
grande parte da receita da União vem de contribuições
que, pela legislação, não entram no cálculo
do percentual repassado ao ensino.
"A desvinculação
de parte das receitas pode ter uma justificativa macroeconômica
ou gerencial, mas, em termos de inclusão social, é
totalmente indevida", afirmou Araújo. Para ele,
para cumprir o Plano Nacional de Educação, o
governo deve investir 8% do PIB. Atualmente, o ensino recebe
4,39% do PIB. "Isso significa que é necessário
mudar a participação da União na educação."
AMARÍLIS LAGE
Da Folha de S. Paulo
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