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O mito
de que vacina é coisa de criança está
trazendo um sério prejuízo à saúde
pública do país: o baixo índice de vacinação
entre os adolescentes. Levantamento da Sociedade Brasileira
de Pediatria (SBP), divulgado na última semana, revelou
que nem metade dos jovens tomam o reforço de vacinas
recomendado para a idade. E o que é pior. São
poucos os adolescentes e mesmo os pais que conhecem a real
importância da vacinação e sua necessidade
nesta fase da vida.
“Apesar de a maioria (70%) estar
vulnerável a uma série de doenças possíveis
de serem prevenidas, os jovens pouco sabem sobre o assunto”,
afirma a pediatra Darci Bonetto, presidente do Departamento
de Adolescência da SBP, responsável pela pesquisa.
O trabalho, batizado de Estudo Epidemiológico da Situação
Vacinal do Adolescente Brasileiro, envolveu cerca de 500 alunos,
de 13 a 19 anos, e seus pais.
A pouca participação
dos adolescentes nas campanhas de vacinação
e mesmo na atualização da carteirinha deve-se
principalmente à desinformação (51%)
e à falta de indicação médica
(38%). “Para muita gente é novidade falar que
o adolescente precisa de vacina”, comenta Darci. Os
médicos, que poderiam ajudar nisso, nem sempre colaboram.
“Apenas 28% deles explicam o tema para o paciente”,
acrescenta.
Necessidade
Uma das grandes preocupações médicas
diz respeito à hepatite B. Por ser uma vacina recente,
a maioria dos adolescentes de hoje não recebeu a imunização
quando criança. “Atualmente, a vacina contra
a hepatite B faz parte do calendário de vacinação
infantil. Mas as crianças de antigamente, que hoje
são adolescentes, não foram imunizadas”,
diz Maurício de Souza Lima, médico da unidade
de adolescentes do Instituto da Criança do Hospital
das Clínicas (HC).
Por isso, o jovem de até 19
anos que não recebeu essa vacina pode ir a um posto
de saúde e tomá-la gratuitamente (veja quadro
com o calendário ao lado). “A hepatite B é
um doença grave, transmitida pelo sexo e por agulhas
contaminadas. O jovem, principalmente aquele que gosta de
tatuagem e piercings, corre risco”, lembra Sandra de
Oliveira, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade
de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Segundo Darci, o estudo revelou ainda
que apenas 28% dos pais têm conhecimento sobre a necessidade
de imunizar os adolescentes contra a hepatite B. Quando se
analisa os números referentes à vacina contra
a difteria e o tétano, a situação é
semelhante. Apenas 23% dos pais e 32% dos jovens conhecem
a vacina. “A cada dez anos, as pessoas precisam fazer
o reforço da chamada dT e o primeiro deve acontecer
entre os 12 e 15 anos de idade”, diz.
Segundo o diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica
de São Paulo, Carlos Magno Fortaleza, a adesão
do adolescente à vacinação é um
dos grandes desafios do governo. “O problema existe
e precisamos resolvê-lo”, conta o especialista,
que quer a ajuda dos pais para melhorar os índices.
E foi o que ocorreu com José
Ferreira Júnior, de 15 anos. Depois de ser alertado
pela mãe, Maria Carlinda de Oliveira, de 44, o estudante
colocou em dia sua carteira de vacinação. “Acho
que agora ele vai lembrar sempre”, diz a mãe.
LUCIANA SOBRAL
Do Diário de S. Paulo
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