Os brasileiros
consumiram, no ano passado, R$ 25,8 bilhões a menos
do que em 2002. Em termos reais, o consumo das famílias,
que pode ser considerado um bom indicador de como varia o
padrão de vida da população, caiu 3,3%.
Foi a maior baixa desde que o IBGE começou a pesquisar
esse dado, em 1990.
No mesmo período, o PIB (Produto Interno Bruto) per
capita -soma dos bens e serviços finais produzidos
no país dividida pela população- registrou
queda de 1,5%, indo para R$ 8.565.
Segundo o IBGE, o PIB brasileiro foi de R$ 1,515 trilhão
em 2003. Em 2002, havia ficado em R$ 1,346 trilhão,
em valores da época. A participação do
consumo das famílias, que era de 58,03% do PIB em 2002,
caiu para 56,93%.
Para especialistas ouvidos pela Folha, a redução
real do PIB per capita reflete em grande parte a queda do
consumo das famílias, componente de maior peso na composição
do indicador.
"O consumo das famílias é o componente
que dá a tendência do PIB. É o que tem
mais peso", disse Roberto Olindo, gerente das Contas
Nacionais do IBGE.
De acordo com Alex Agostini, da consultoria Global Invest,
a renda dos trabalhadores está em queda e não
estimula o consumo, o que, por sua vez, não resulta
em aumento da produção.
"A produção não está acompanhando
o crescimento vegetativo [da população brasileira],
que vem se expandindo, em média, 1,3% ao ano",
disse ele.
Mário Mesquita, economista-chefe do banco ABN Amro,
disse que o ajuste externo feito nos últimos dois anos,
aliado ao aumento do superávit primário e a
uma política monetária rígida, "acabou
por comprimir o consumo doméstico". Segundo Mesquita,
"esse é o lado ruim do ajuste".
Parte da produção que deixou de ser absorvida
pelo mercado interno foi desviada para as exportações.
Com isso, o peso das vendas externas no PIB atingiu 16,9%
em 2003, contra os 15,5% de 2002.
O setor econômico que mais ganhou espaço foi
a agropecuária. Seu peso subiu de 8,7% em 2002 para
10,2% em 2003. A indústria passou de 38,3% do PIB para
38,7%. O setor de serviços encolheu de 59,2% para 56,7%.
PEDRO SOARES
da Folha de S.Paulo
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