O teatro
pode ser usado com sucesso para resgatar a cidadania e a auto-estima
de grupos excluídos, como menores em situação
de rua, mulheres carentes e desempregados. Essa é a
idéia central do trabalho da arte-educadora gaúcha
Maria Carmosina Vieira Cruz, ativista do Movimento dos Trabalhadores
Desempregados (MTD). Experiente no assunto, ela acaba de lançar
Pedagogia do Pé-no-Chão – Vida e Arte
Construindo Cidadania, no qual retrata sua experiência
de 15 anos em oficinas de teatro realizadas com mais de mil
jovens e adultos na periferia e Região Metropolitana
de Porto Alegre (RS).
Para Maria Carmosina, a importância do teatro na educação
popular está em capacitar o educador para ter sensibilidade
de definir a característica que une o grupo, garantindo
a integração e a cumplicidade. Ela não
quis fazer um manual de como trabalhar com os excluídos,
mas compartilhar instrumentos e fórmulas empregados
em grupos populares que, por lidarem com diferenças,
surtiram efeito no processo educacional.
A arte-educadora diz que o trabalho com as crianças
e os jovens da periferia ou que vivem nas ruas exige uma dinâmica
especial, pois elas mesmas se autodeterminam. "Há
uma lógica diferente. Eles pensam: se eu consigo sozinho
meu sustento, por que alguém tem de me ensinar alguma
coisa? Quem é que vai me ensinar algo? Nesse ponto,
entra o trabalho de sensibilização, de identificação,
que propomos com o teatro", explica.
O diferencial, segundo Maria Carmosina, está em utilizar
nas dinâmicas elementos da realidade dos alunos. "O
teatro é um espaço onde se pode falar as coisas,
exercitar a espontaneidade e descobrir suas potencialidades.
O teatro brinca com responsabilidade", afirma.
Paixão
O ingresso de Maria Carmosina Cruz nas artes cênicas
se deu por acaso. Ex-operária do setor têxtil,
desempregada e sem aposentadoria garantida, ao completar 50
anos, foi convidada a acompanhar como aprendiz as oficinas
de teatro na Fundação Cultural de São
Leopoldo, na região de Porto Alegre. "Fiz a primeira
oficina e me apaixonei pelo teatro como instrumento para a
educação", recorda.
No ano seguinte, coordenou oficinas teatrais com meninos
e meninas em situação de rua da cidade. A aceitação
foi boa e o trabalho ganhou destaque na mídia local,
tanto que ela foi convidada a realizar oficinas para crianças
carentes em uma paróquia do município. A experiência
durou cinco anos e foi estendida a escolas das redes municipal
e estadual. Maria Carmosina seguiu para Sapucaia do Sul, também
na Grande Porto Alegre, onde organizou vários grupos
até 2000, quando passou a atuar nos assentamentos do
MTD, do qual faz parte desde sua fundação no
Rio Grande do Sul, em 1999.
"O ingresso no MTD, após 11 anos de atuação
independente, se deu em razão da identificação
com o movimento e por encontrar no grupo uma sustentação,
um suporte ao meu trabalho", defende. Antes disso, como
não estava ligada a nenhuma entidade nem tinha formação
em magistério, Maria Carmosina encontrava dificuldade
de inserção nas escolas. "Hoje, recebo
convites para desenvolver projetos especiais em vários
colégios", comemora. Atualmente, ela estuda Psicopedagogia
no Centro Universitário La Salle (Unilasalle), em Canoas
(RS).
Mesmo com a expansão das atividades, o foco social
continua predominando. Maria Carmosina desenvolve oficinas
contínuas no assentamento Belo Monte – o primeiro
do movimento, em Eldorado do Sul (RS) –, onde vive,
ao lado de 67 famílias, totalizando 250 pessoas, 60
delas crianças. Outros grupos teatrais são montados
periodicamente nos assentamentos do MTD em Gravataí,
Caxias do Sul, Bagé e Pelotas.
Livro
Produzido com o apoio da ONG Diálogo – Pesquisa
e Assessoria em Educação Popular, da Associação
de Educação Católica e do Fundo de Miniprojetos
da Região Sul, o livro reúne roteiros de peças
e esquetes teatrais construídas e montadas coletivamente.
São priorizados elementos do dia-a-dia de cada comunidade,
retratando medos, anseios, problemas e soluções
apontados pelos integrantes.
Os temas vão do universo feminino, gravidez na adolescência
e relacionamento familiar, até violência no trânsito,
desemprego, saúde e preservação ambiental.
Paralelamente aos roteiros, é apresentada uma breve
explicação sobre como a peça foi montada,
como se deu a participação do grupo e quais
os resultados.
As informações são
da Revista Educação.
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