Aos
71 anos, Jeovah Braga Meireles, assessor da diretoria comercial
da Apsen Farmacêutica, viaja muito e sempre acompanhado
de seu notebook, que usa com desenvoltura. Apesar de estar
de volta há apenas um ano na empresa, é apontado
como um funcionário de destaque e atualizado.
Sua disposição impressiona os executivos. Tanto
que, no ano passado, ligou para um diretor da empresa e disse
que, mesmo com os seus 70 anos e pós um acidente vascular
cerebral, que o afastou do mercado formal por um período
de cinco anos, ele estava recuperado e pronto para voltar
ao trabalho. O executivo o contratou no ato.
A empresa em que Meireles trabalha tem outros 31 profissionais
com idade acima de 50 anos, o que representa 8,2% de seu quadro
de funcionários. Os números não são
aleatórios. A Apsen está em pleno processo de
contratações, com o Projeto Terceira Idade.
Para lá trabalhar, o único requisito é
o interessado ter mais de 65 anos.
Menos músculos
Floriano Serra, diretor de RH da empresa explica
o motivo. “A empresa precisa de cérebro, coração
e experiência, não músculo”. Para
o executivo, a não-contratação de pessoas
com idade avançada não tem fundamento prático,
“é puro preconceito”, o que os faz “sentirem-se
inúteis e entrar em processo de baixa auto-estima”.
Serra diz ainda que o programa ganhou estímulo a partir
do desempenho dos funcionários desta faixa etária,
por ele considerada excelente.
A história de Meireles com a Apsen ainda é
atípica no mercado de trabalho. Levantamento da Fundação
Sistema de Análise de Dados (Seade) em parceria com
o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-Econômico (Dieese), feito a pedido do Estado,
atesta que pessoas com menos de 40 anos conquistaram, em média,
no ano passado, um novo emprego, em 47 semanas. Acima de 60,
esse tempo quase dobra – 85 semanas.
Superior completo
Mas Obadia Sion, consultor sênior do grupo
de recrutamento Catho, vê mudanças no mercado.
“Já não pedem uma secretária bonita.
Não importa mais a idade e aspecto físico. Se
a pessoa é competente, contratam.”
Na pesquisa do Seade-Dieese, Esmael Rodrigues, de 60 anos,
está na categoria que ocupa o segundo maior percentual
de ocupação para sua idade (superior completo,
60 anos ou mais). Formado em Farmácia pela Universidade
São Paulo (USP). Tem inglês e espanhol fluentes
e nunca esteve desempregado. Sempre trabalhou com carteira
assinada.
Ainda nos tempos da faculdade, chegou a trabalhar, com registro
e simultaneamente, em cinco lugares. Formado, sempre atuou
como supervisor ou chefe farmacotécnico em grandes
empresas, como Searle, Eurofarma e Furpe. Aposentou-se em
94, aos 50 anos, mas não parou de trabalhar. Foi para
a Prodotti, para a EMS e em 97 assumiu o cargo de gerente
de farmacotécnica da Apsen.
Ainda difícil
Mas não se deve esperar uma revolução
no cenário. O espaço para os idosos ainda é
muito pequeno. Sion enumera duas circunstâncias: dificuldade
de atualização e de aprendizado em idade avançada,
e maior tolerância desses profissionais em relação
aos cargos oferecidos.
Estudos da Fundação Seade-Dieese mostram que,
para pessoas de 40 a 59 anos, o nível de ocupação
é maior entre aqueles com baixa escolaridade (39,6%
para quem tem o fundamental incompleto). No ano passado, levaram
em média 75 semanas (17 meses) para conseguir uma ocupação.
“O mercado para os mais velhos, em geral, é
de cargos baixos e salários bem pequenos, “pois
para eles isso (salário) não é importante”,
observa. “Querem é ter alguma atividade, relacionarem-se
com outras pessoas, sentirem-se úteis”.
Os desempregados da terceira idade são os que mais
tempo levam para conseguir uma ocupação, 85
semanas (dezenove meses) em média.
As informações são
da Agência Estado.
|