Os resultados
do primeiro Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes),
que substituiu o extinto Provão, mostram que apenas
10,5% de cursos de ensino superior avaliados obtiveram conceito
máximo na prova de 2004. A escala varia de 1 a 5.
Outros 10,6% dos 1.427 cursos avaliados ficaram abaixo do
que seria o mínimo exigido: tiveram conceitos 1 e 2.
A grande maioria -79% deles- teve classificação
intermediária (conceitos 3 e 4).
Esses dados, apresentados ontem pelo Ministério da
Educação, incluem instituições
públicas e particulares de ensino superior com cursos
em 13 áreas ligadas a saúde e ciências
agrárias.
Odontologia e medicina foram as duas áreas que tiveram
o menor número de cursos em conceitos baixos. Já
serviço social e zootecnia apresentaram a maior concentração
nessa faixa.
No total, foram avaliados, por amostragem, 140.340 alunos
do primeiro e do último ano de 2.184 cursos, porém
só 1.427 deles tiveram conceito geral. O restante não
teve essa avaliação geral porque era curso novo,
ainda sem alunos no último ano, ou por outros motivos,
como inscrições dos estudantes fora do prazo.
Também houve instituições que por sua
importância e tamanho seriam essenciais para obter um
quadro geral mais preciso, como USP e Unicamp, que não
participaram alegando "falta de detalhamento acerca da
metodologia".
Alvo de críticas de especialistas e de integrantes
do governo Fernando Henrique Cardoso, o Enade foi criado após
a medida provisória de 2003, que extinguiu o Provão
e implantou o novo sistema de avaliação do ensino
superior, chamado Sinaes.
Entre as novidades estão a avaliação
de alunos do primeiro e do último ano e as perguntas
de formação geral. O resultado dessa parte da
prova apontou uma diferença pequena de desempenho entre
os que estão entrando no ensino superior e os concluintes.
Em 246 cursos, o que equivale a 17,2%, os ingressantes chegaram
a ter desempenho melhor que os alunos do último ano
nas perguntas sobre formação geral.
E mais: na média geral, 11,8% dos ingressantes tiveram
desempenho superior ao dos concluintes na formação
específica.
"A formação básica é um elemento
poderoso para o preparo do profissional, e o Enade apontou
que o ensino superior não está respondendo a
isso. O que reforça a necessidade de uma abordagem
sistêmica da educação, desde o infantil
até o superior e pós-graduação",
afirmou ontem o ministro Tarso Genro (Educação).
O Enade 2004 teve dez questões sobre formação
geral (iguais para todos) e outras 30 específicas,
que variaram de acordo com a área.
Das 13 áreas, as instituições federais
foram melhor em dez delas nessa prova. As federais também
superam a média nacional em todas as 13 áreas
no desempenho dos alunos na formação geral.
Para o ministro, não se pode dizer que o ensino tenha
melhorado ou piorado porque a metodologia mudou. "Os
resultados demonstram uma realidade um pouco melhor que a
do Provão, mas isso pode ser isolado."
O conceito geral de uma instituição só
será conhecido depois que for encerrada outras duas
etapas da avaliação: a análise da própria
instituição e dos cursos, que estão em
andamento. A isso será somada a nota do Enade.
LUCIANA CONSTANTINO
GUILHERME BAHIA
da Folha de S. Paulo
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