Impossibilitado de mostrar o "espetáculo
do crescimento" -inexistente-, anunciado em maio pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as previsões
para a economia foram o principal assunto do programa de ontem
do PT em cadeia nacional de TV.
O partido teve de usar expressões menos fortes para
confrontar o índice de desemprego medido em outubro,
12,9% da população das seis maiores regiões
metropolitanas. "Os empregos vão começar
a aparecer", disse, comedido, o presidente da sigla,
José Genoino, na espécie de balanço do
primeiro ano exibido pelo partido.
Minutos antes, a peça mostrara um homem pendurando
placa que anunciava vagas de emprego -exercício de
Duda Mendonça, diretor do programa, publicitário
de Lula desde a campanha.
O programa petista teve pouco "povo fala". No seu
lugar, depoimentos colhidos pela produção, principalmente
de empresários, corroborando a expectativa de crescimento
econômico.
A participação mais ilustre foi a de Abílio
Diniz, dono do Grupo Pão de Açúcar. Índice
dos novos tempos do Brasil e da esquerda, o empresário
que sofreu sequestro às vésperas das eleições
de 1989 foi escalado para apontar sinais de mudança.
Em 89, o crime foi apontado como um dos fatores que levaram
à eleição de Collor.
Ao se declarar não eleitor histórico do PT,
Diniz elogiou o trabalho "árduo", "duro"
do governo. "Foi um ano difícil para empresários
e trabalhadores", afirmou para arrematar com otimismo.
Se os analistas erraram ao decretar o desastre econômico
de 2003 com a eleição de Lula -como lembrou
o programa-, o PT confia neles para prever 2004: o país
deve crescer no ano que vem 4,4% segundo o banco Merrill Lynch,
citou uma "repórter" de um take na Bolsa
de São Paulo.
Após a Bolsa, surgiu o primeiro petista na tela: o
ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho, ao mesmo tempo
responsável pelo "remédio amargo"
que fez a variação do PIB fechar o ano próximo
de zero e arauto dos novos tempos de controle da inflação
e de crescimento econômico.
A área social -prioridade retórica do governo-
ficou espremida. Demonstrando a fragilidade dos que comandam
o setor na gestão federal, coube à ministra
das Minas e Energia, Dilma Rousseff, mostrar avanços
para a população de baixa renda.
Em vez de famílias atendidas pelo novo Bolsa-Família,
ou imagens da cidade-piloto do Fome Zero, Guaribas, o programa
exibiu outra cidade do Piauí, Nazaré, a primeira
a receber o Luz para Todos, programa de universalização
de acesso à energia elétrica do ministério
de Rousseff.
Afago na oposição
Apesar do tom de comemoração pela aprovação
das reformas tributária e previdenciária -falaram
o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP),
e o líder do governo o governo no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP)-, o partido não esqueceu de que ainda precisa
aprová-las no Senado.
Em sua fala, o ministro da Casa Civil, José Dirceu,
ressaltou o papel dos partidos da base aliada no governo e
elogiou a oposição, segundo ele, "à
altura do país".
Outro assunto não esquecido foram as eleições
de 2004. A prefeita candidata à reeleição,
Marta Suplicy (PT-SP), surgiu para defender sua gestão.
O programa terminou fiando-se no carisma de Lula: olho no
olho do espectador, disse que "ninguém duvida
de suas intenções" à frente do governo.
Flávia Marreiro,
da Folha de S.Paulo.
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