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teatro ambulante
10/01/2005
Grupo Mapati leva aulas de teatro para jovens em Brasília

As ruas de Santa Maria, cidade satélite do Distrito Federal, em Brasília, começaram a ganhar mais ritmo, movimento e oportunidade de mostrar que são mais do que espaços violentos da capital do país, com a chegada do projeto "Se Toca Brasil", desenvolvido pelo grupo de teatro Mapati, fundado em 1984 pela diretora e atriz Tereza Padilha, e que conta com o apoio do Ministério da Cultura e o patrocínio da VIVO, operadora de telefonia celular.

Desde setembro de 2004, cerca de 40 crianças e jovens, de nove a 17 anos, participam de atividades de interpretação, dança e música, além de apresentações de peças teatrais no Centro Cultural de Santa Maria. A proposta, de acordo com Tereza, é discutir a questão do preconceito ainda tão vigente no país e valorizar o que há de melhor nestes adolescentes. Nesta primeira etapa do projeto, o grupo focou em ações para melhorar a auto-estima dos participantes, que, segundo a diretora, tinham um olhar muito triste, com histórias de vida sofridas.

"Vimos que não era possível já oferecer oficinas preparadas sendo que eles tinham a auto-estima lá embaixo. Algumas crianças apanhavam dos pais e tinham até acompanhamento do SOS. Precisávamos antes trabalhar aspectos como a importância de se gostar, de se sociabilizar. É um trabalho difícil, mas você consegue observar a mudança de visão de vida mesmo. Eles têm muita força de vontade, só precisam de oportunidade", avalia.

Jeferson Maciel Silva, 16 anos, por exemplo, participa há cinco meses do projeto e já percebe transformações no seu comportamento e também no dia-a-dia. O jovem teve de se dedicar mais à escola, melhorar as notas que poderiam reprová-lo de ano, para poder continuar no projeto. Hoje, ele se apaixonou pelo teatro e pretende seguir carreira na área. "Antes eu não dava muito valor para os estudos. Agora sei que preciso me dedicar aos dois. Eu me emociono muito com o teatro e vou fazer o possível para crescer na vida", conta o adolescente, que aponta ainda ter uma nova visão da cidade após o projeto: "Agora podemos mostrar que aqui, em Santa Maria, não tem só marginais e vândalos como as pessoas gostam de dizer".

"O interessante é que o projeto despertou o interesse do povo da cidade para a arte. Um senhor violeiro, por exemplo, tirou o violão de dentro de casa e foi para as ruas tocar, apesar de falarem que é um lugar perigoso. As pessoas começaram a se movimentar", completa a atriz. Em sua opinião, esse é um dos grandes benefícios que a arte traz: união, integração, energia. "O teatro, principalmente, consegue juntar as pessoas de diferentes realidades. É fabuloso isso. As pessoas precisam mais dessa humanização que a arte traz consigo. Se as pessoas tiverem a oportunidade de ter essa ligação com as coisas belas, muita coisa irá mudar", acredita.

A partir de março, as crianças e jovens da cidade começarão a participar de oficinas de Interpretação e Expressão Corporal; Musicalização; Máscaras, Bonecos e Adereços Cênicos; Criação, execução e costura de figurinos; Maquiagem para teatro; Iluminação; Cenografia; e Sonoplastia. Com isso, o projeto irá oferecer oportunidade de profissionalização aos jovens. Alguns que já se destacaram nas atividades, como Angélica Rodrigues, 21 anos, tiveram a oportunidade de fazer apresentações teatrais remuneradas em empresas da região. A garota pretende agora se dedicar às oficinas, principalmente, de interpretação e dança, que são as que mais chamam a sua atenção. Ela conta que sempre gostou muito de teatro, pois ele permite aos atores incorporarem personagens tão diversos e viverem realidades que não conhecem. "Além disso, o teatro tem vários papéis. Às vezes ele está divertindo, outras educando, e até criticando".

Para Angélica, o projeto "Se Toca Brasil" trabalha ainda outras questões importantes para a vida dos jovens, como comprometimento e responsabilidade. "Temos que mostrar força de vontade mesmo. Isso porque, para participar das atividades, por exemplo, não podemos faltar muitas vezes. Apesar de não poderem dançar, uns iam até com perna quebrada só para poderem estar presentes", conta animada a jovem que pretende também seguir carreira.

Uma paixão de longa data
O "Se Toca Brasil" é apenas uma parte das ações do grupo Mapati, que conta ainda com um ônibus, um caminhão teatro e o Centro Cultural Mapati, onde funcionam o teatro, a escola de atores e direção e a colônia de férias. O grupo foi criado por Tereza após a morte trágica de seu filho caçula Tiago, em 1983. "Foi uma fase muito difícil para mim e eu precisava preencher de alguma forma aquele vazio que ficou", se recorda. A atriz e diretora passou a observar mais atentamente o que havia então na região para a diversão das crianças e, chegou à conclusão, que existiam poucas opções de lazer.

Desta forma, junto com o marido, Marcos Souza, comprou um espaço e transformou-o num teatro. O local começou a atrair tanto as crianças da região que passaram a pedir a criação de uma escola de teatro no local. "Foi aí que percebi que, até então, somente realmente as pessoas que tinham formação e informação iam ao teatro e queriam levar os seus filhos para assistirem às peças. Senti que precisava fazer algo mais. Levar esse trabalho para as pessoas que não tinham acesso à arte".

Teve início assim, em 1998, um trabalho do grupo junto às crianças pobres da cidade de Brasília. "Acredito que se não podemos levar coisas materiais a elas, precisamos levar afeto", destaca. Em parceria com o Centro de Estudos e Assessoria do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua do Distrito Federal e o Instituto Candango de Solidariedade, o grupo apresentou o espetáculo Brasileirinho com a participação de 40 meninos e meninas de rua. Nesta época, o grupo foi convidado para participar de um festival multicultural no Canadá, mas a experiência não foi positiva.

"Sofremos muito preconceito lá. Fomos até barrados no festival porque queríamos mostrar a realidade das crianças brasileiras e eles não deixaram", comenta Tereza. Foi dessa experiência que surgiu o interesse em trabalhar com os jovens em situação de risco social, criando assim o projeto "Se Toca Brasil".

Mas a vontade de levar a arte e a cultura para aqueles que não a conhecem foi além. Também em 1998, o grupo passou a desenvolver o projeto "Teatro Sobre Rodas", com a realização de espetáculos públicos gratuitos, na carroceria de um caminhão. A lateral do veículo se abre e se transforma num palco, com cenários e toda infra-estrutura necessária para as apresentações, como cadeiras para o público e uma lona caso seja dia de chuva.

O caminhão já percorreu mais de 90 mil km, visitando 180 cidades brasileiras em diversos estados, com mais de 300 encenações, e um público estimado em 150 mil pessoas. Os espetáculos falam sobre diversos assuntos, como Aids e preconceito, a solidão que muitas crianças enfrentam devido à ausência dos pais que trabalham muitas horas por dia, além das belezas naturais do país, entre outros. Muitos textos são adaptados de grandes obras, como Romeu e Julieta que, no Mapati, discute a questão do negro e do branco. Para cada local, de acordo com as características do povo e as necessidades dos moradores, o grupo escolhe qual peça irá apresentar.

Tereza conta que o grupo estaciona seu "teatro ambulante" onde der: em praças, feiras e até becos, esquinas e terrenos baldios. Se precisar, os atores põem a mão na massa até para limpar e organizar o local. São cerca de quatro apresentações por cidade. "Às vezes nem precisa de divulgação. A própria comunidade se organiza para assistir. O bonito é que algumas pessoas se emocionam e começam até a chorar durante as peças. As pessoas têm necessidade de ver, assistir e participar de ações como essas", comenta a atriz.

Tereza lembra, no entanto, que o trabalho, muitas vezes, não é nada fácil. Isso porque o grupo já passou por locais em que não havia nem energia elétrica ou outros em que o caminhão tinha que ser colocado numa grande embarcação para poder chegar às comunidades. O grupo já passou também alguns apuros, como precisar da proteção dos "donos dos morros" para poder fazer suas apresentações em locais de grande violência. Mas o resultado final é sempre satisfatório, garante Tereza. Depois das apresentações, na cidade de Cambolo, na Bahia, por exemplo, os moradores passaram a se movimentar e exigir das autoridades a criação de espaços de cultura e lazer.

O projeto, que também conta com patrocínio da VIVO, já recebeu o prêmio ABM & N da Associação Brasileira de Marketing & Negócios, em 2002, e a Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes, em 2003. Para este ano, o grupo já faz outros planos. Estáem negociação uma parceria com uma empresa para a realização de um projeto em 10 regiões do país em que serão realizadas apresentações teatrais tendo como tema a importância da alimentação. As peças serão baseadas em um livro e adaptadas para a realidade de cada região, destacando, por exemplo, informações sobre alimentos essenciais da cozinha local, como a farinha da tapioca, que vem sendo substituída pelas farinhas industrializadas.

Mapati
Endereço: SHCGN 707 Bloco K, nº5, Asa Norte, Brasília/DF
Telefone: (61) 347-3920
E-mail: mapati@mapati.com.br
Site: www.mapati.com.br


Daniele Próspero
do site setor3.

   
 
 
 

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