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A participação relativa
da renda dos empregados no total do PIB (Produto Interno Bruto)
brasileiro registrou em 2002 um recorde negativo, com 36,14%.
O percentual foi o menor já apurado pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) desde que o
instituto adotou a atual fórmula de cálculo,
em 1990. A perda de participação foi de 9,23
pontos percentuais em relação aos 45,37% de
1990.
No mesmo período, a remuneração do capital
saltou de uma participação de 32,56% para 41,93%
do PIB. Segundo o IBGE, a remuneração do capital
inclui, basicamente, lucro, pagamento de juros e dividendos.
Também de 1990 a 2002, a arrecadação
líquida de impostos sobre a produção
e os produtos importados passou de 15,15% para 17,36% do PIB.
A renda dos trabalhadores autônomos perdeu força,
caindo de 6,92% do total para
4,58%.
"Os anos 90 foram de muita pressão para os trabalhadores.
Eles tiveram que lutar mais pela manutenção
do emprego do que pelo aumento da renda", disse Gélio
Bazoni, gerente de Contas Nacionais Anuais do IBGE.
Bazoni destacou a política monetária (juros)
e a instabilidade cambial como fatores que contribuíram
para a queda da remuneração dos empregados em
relação ao conjunto do PIB.
Carlos Sobral, também gerente da equipe de Contas Nacionais
do IBGE, disse que o processo de reestruturação
das empresas para enfrentar a abertura econômica do
país e o ambiente de inflação baixa que
passou a vigorar a partir de 1994 também tiveram papel
importante na queda da renda.
A série do IBGE referente à remuneração
dos empregados parte de uma participação de
45,37% em 1990 e registra queda brusca, para 41,65%, no ano
seguinte.
Em 1993 há uma recuperação, para 45,14%,
seguida de nova queda brusca, para 40,11% em 1994. Nos anos
seguintes a fatia oscila entre as casas dos 37% e 38%, até
descer para a casa dos 36% no ano passado.
Em 2002, de acordo com os números do IBGE, a remuneração
dos empregados apresentou uma queda real de 1,3%, enquanto
o rendimento dos trabalhadores autônomos caiu 8,3%.
Os números do IBGE confirmam a revisão do crescimento
do PIB de 2002 de 1,5% para 1,9%, dado já divulgado
em novembro. Com isso, o valor nominal (sem desconto da inflação)
do PIB, que é a soma dos bens e serviços produzidos
em um determinado período, passou de R$ 1,321 trilhão
para R$ 1,346 trilhão.
Os dados revelam que, de 1995 a 2002, período do governo
de Fernando Henrique Cardoso, o PIB acumulou crescimento de
20,2%, com média anual de 2,3%, e a renda per capita
cresceu 7,88%, o que dá uma média de 0,95% por
ano.
População
A diferença entre o aumento da renda per capita e o
crescimento do PIB é dada pelo crescimento populacional,
que foi de 1,36% ao ano no período FHC, diz o IBGE.
A partir do governo do ex-presidente Artur da Costa e Silva
(1967 a 1969), o crescimento da renda per capita no governo
FHC só foi maior do que a queda de 3,51% verificada
no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990
a 1992). A maior média (8,96%) ocorreu no governo do
presidente Emílio Garrastazzu Médici (1970 a
1973).
No caso de anos nos quais mais de um presidente governou (por
exemplo, Collor e Itamar Franco em 1992), o período
integral foi atribuído ao presidente que governou por
mais tempo durante aquele ano.
Chico Santos,
da Folha de S.Paulo.
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