Dois levantamentos feitos pela
Folha com base em dados do MEC (Ministério da Educação)
e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior) mostram que a maioria
das universidades privadas brasileiras teria dificuldades
hoje para comprovar que cumpre as determinações
da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação)
e investe em pesquisa institucionalizada.
Levantamento feito a partir de dados do Censo do Ensino Superior
do MEC mostra que 83% das universidades privadas não
cumprem a determinação da LDB de ter em seu
corpo docente ao menos um terço dos professores trabalhando
em regime integral.
A norma é seguida por apenas 14 universidades privadas,
de um total de 84. Já entre as universidades públicas,
72 instituições (92%) de um total de 78 cumprem
a determinação.
O regime de contratação mais comum nas instituições
privadas é aquele que prevê o pagamento por hora
-o que gera menor custo (leia texto nesta página).
Essa e outras exigências para universidades constam
do artigo 52 da LDB, que foi aprovada em dezembro de 1996
e deu um prazo de oito anos para que as instituições
se adequassem às novas medidas. O prazo acaba neste
ano.
O objetivo, por exemplo, de ter professores trabalhando em
regime integral -em que o docente passa apenas metade do tempo
em sala de aula- é dar mais uma garantia de que haja
pesquisa nas instituições, uma exigência
estabelecida pela Constituição.
Entre as privadas, a média de professores trabalhando
em regime integral é de 21%. Nas públicas, é
de 79%.
Pós-graduação
Outro levantamento da Folha, feito com base no cadastro de
instituições de ensino superior do MEC e no
de cursos com diploma validado pela Capes, mostra também
que nem todas as universidades possuem programas de pós-graduação
com diplomas reconhecidos pela Capes.
Do total de 84 universidades privadas, 20 (24%) não
têm nenhum curso de pós-graduação
reconhecido pela Capes e 28 (33%) têm apenas um ou dois
cursos.
Entre as públicas, há 16 instituições
(20% do total) sem nenhum curso reconhecido e dez (13%) com
menos de três.
A existência de cursos reconhecidos pela Capes é
um dos critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional
de Educação para que a instituição
comprove que tem pesquisa institucionalizada.
Segundo uma resolução do conselho, a existência
de ao menos três cursos bem avaliados pela Capes comprova
que há pesquisa na universidade. Caso não preencha
esse critério, a instituição precisa
comprovar a existência de pesquisa institucionalizada
por outros meios.
Titulação
A Folha pesquisou também, com base nos dados do Censo
do Ensino Superior do MEC, quantas universidades cumpriam
outra exigência da LDB: ter ao menos um terço
dos professores com titulação de mestre ou doutor.
Os números mostram, porém, que esse critério
é o menos problemático para as instituições
universitárias. Entre as privadas, 77 (92% do total)
cumprem a determinação. Nas públicas,
esse número é de 74 (95%).
Os dados do Censo do Ensino Superior foram divulgados em
outubro do ano passado e são referentes a 2002.
O status de universidade garante a instituições
de ensino superior o direito de abrir cursos dentro de sua
sede sem prévia autorização do ministério.
O benefício não é estendido, por exemplo,
a faculdades isoladas, que não precisam investir em
pesquisa ou ter um terço dos professores em regime
integral.
Adiamento
Como o prazo para que as universidades se adaptem às
novas medidas acaba neste ano, a Folha apurou que já
há um movimento de pressão de algumas universidades
privadas para tentar adiar esse prazo ou diminuir o percentual
de professores trabalhando em regime integral.
Isso porque o MEC poderá decidir descredenciar as
instituições que não cumprirem as determinações
legais.
As exigências feitas pela LDB às universidades
foram estendidas no final do ano passado, por meio de um decreto
presidencial, para todos os centros universitários,
que terão até 2007 para se adequar às
regras.
Até então, os centros eram instituições
que, assim como as universidades, tinham autonomia para abrir
cursos dentro de sua sede, mas não eram obrigadas a
investir em pesquisa e a ter um terço de professores
trabalhando em regime integral.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo, sucursal do
Rio
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