A classe média brasileira
não sabe em que gasta seu dinheiro. A constatação
é de economistas especializados em orçamento
doméstico que preparam cartilhas — livros, na
verdade — sobre o assunto, com orientações
para cortar gastos. E os especialistas dizem que sempre é
possível economizar, mesmo em orçamentos enxutos.
Em alguns casos, o planejamento pode significar despesas até
30% menores. Mas é preciso muita disciplina, organização
e a participação da família.
O primeiro passo é reunir todos, inclusive as crianças,
e anotar provisoriamente o que cada um gasta no mês.
Desde as contas fixas, como telefone, luz e gás, passando
pelo salão de beleza, carro até o cafezinho
no bar. E são nas pequenas coisas que estão
as melhores oportunidades de cortar, garantem os economistas.
Após anotar tudo que vier à cabeça, a
família deve registrar todos os gastos do mês
corrente em cadernetas e comparar as duas contas. A surpresa
não será agradável.
"É provável que o levantamento completo,
com base em todas as anotações do mês,
represente um aumento de 30% a 35% sobre o anterior. Isso
mostra que as pessoas não têm total consciência
dos gastos", diz Luís Carlos Ewald, autor do livro
“Sobrou dinheiro! Lições de economia doméstica”.
Metas
De posse do levantamento dos gastos reais, o próximo
passo é planejar o orçamento para o mês
seguinte, inclusive com metas de corte de despesas. Outro
especialista no assunto e autor do recém-lançado
“Casamento dos sonhos — casamento + dinheiro”,
Marcos Silvestre garante que sempre é possível
economizar. E mais: sem perder qualidade de vida.
"As empresas são mais fortes, têm acesso
a crédito e planejam orçamentos. Então,
as pessoas devem fazer o mesmo. É importante separar
os gastos por membro da família. Devemos anotar até
despesa com animais", orienta Silvestre.
Segundo o economista, os pequenos gastos diluídos
diariamente são um ralo por onde vai boa parte do dinheiro.
Silvestre dá o exemplo do cafezinho no bar, vivido
por um de seus clientes. Ele tomava três cafés
por dia, a R$ 1 cada. No ano, a conta era de R$ 720. Constatado
o gasto, o trabalhador fez o corte.
"Ele cortou o café da tarde e passou a tomar
o café da hora do almoço no próprio restaurante
a quilo em que almoçava, só mantendo o cafezinho
da manhã. Reduziu os gastos em R$ 2 ao dia e R$ 480
ao ano, dinheiro suficiente para comprar um DVD, por exemplo",
compara Silvestre. "Aplicando-se a metodologia a outros
gastos, pode-se economizar mais".
Silvestre lembra que essa economia pode ser muito maior se
o consumidor conseguir, com esses cortes, deixar de pegar
dinheiro no cheque especial ou ficar devendo ao cartão
de crédito. Por ambos os serviços, os bancos
brasileiros cobram juros mensais médios acima de 8%.
Os gastos com tarifas bancárias são outro bom
item para economizar, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, presidente
da Associação Nacional dos Executivos de Finanças
(Anefac). Para ele, o consumidor deve ficar atento aos gastos
com tarifas cobradas por extratos e talões de cheques
extras, além de saques em bancos 24 horas.
"Isso sem falar na economia que pode ser feita reduzindo
o consumo de luz, água e telefonia, principalmente
celular. O importante é racionalizar gastos para não
perder em qualidade de vida", diz Oliveira, que ensina
a planejar um orçamento no site Vidaeconômica
(www.vidaeconomica.com.br).
Banda larga ajudou técnico a reduzir despesas
Boa parte dos conselhos dos economistas foi seguida
pelo técnico em computação gráfica
Willy Mainhard. Apesar de morar sozinho num apartamento no
Centro do Rio, ele também não sabe em que gasta
boa parte do seu dinheiro. Ainda assim, conseguiu enxugar,
e muito, suas despesas:
"Nunca anotei meus gastos, mas percebi que podia cortar
o telefone fixo. Minha conta mensal era de cerca de R$ 240,
porque acesso muito a internet. Fiz uma assinatura de banda
larga, passei a pagar R$ 90 e economizei R$ 150. Só
de posse do celular, evito ligações desnecessárias".
Mainhard foi mais longe: passou a deixar o carro em casa.
Indo para o trabalho de ônibus, economiza outros R$
68 por semana. Com os dois cortes, passou a economizar cerca
de R$ 5 mil no ano.
FÁBIO NASCIMENTO
do jornal O Globo
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