Convencido
de que o turismo é um dos principais motores para a
retomada do crescimento e do desenvolvimento do país,
o governo corre contra o relógio para cumprir a meta
anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
assim que assumiu, de atrair, até o fim de 2007, nove
milhões de turistas estrangeiros por ano. Esse volume
significaria uma receita anual de US$ 8 bilhões e 1,2
milhão de novos empregos.
Atingir esse objetivo, no entanto, significa mais do que
dobrar o fluxo atual de turistas estrangeiros, que está
em torno de 4 milhões, e mudar alguns cenários.
O Brasil é o que mais recebe estrangeiros na América
do Sul, mas, no Hemisfério Norte, perde para o México.
Já o Canadá perdeu, nos últimos anos,
mais de um milhão de turistas argentinos, devido à
recessão no país vizinho, e concorre, junto
com outros países, por uma fatia dos cerca de 14 milhões
de turistas que os Estados Unidos deixaram de receber, desde
11 de setembro de 2001.
Para o presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz, o esforço
que tem sido feito até agora está dando resultados.
Em 2003, o país voltou a receber 4,09 milhões
de turistas, contra 3,78 milhões em 2002, o que corresponde
a um aumento de 8,12%. Com isso, as receitas cambiais cresceram
8,52%. Ano passado entraram no país US$ 3,334 bilhões
a mais.
"São metas factíveis, embora difíceis.
Mas os resultados de 2003 mostram que nossa estratégia
de promoção do país por temas e segmentos
está correta", afirma Sanovicz.
Ele acredita que, entre os fatores para a melhora do fluxo
turístico, está a recuperação
da economia argentina. De 2001 para 2002, houve uma queda
no número de ingressos de turistas argentinos: de 1,6
milhão para 600 mil. Mas Sanovicz afirma que a situação
já está melhorando.
Outro fator que ajuda a aumentar o fluxo, diz ele, é
a instabilidade nos países do Hemisfério Norte,
com a insegurança trazida pelos atentados terroristas.
Os europeus, completa o presidente da Embratur, têm
vindo em números cada vez maiores para o Brasil, em
especial para o Nordeste. E há, ainda, outra razão:
o valor do real equivale a cerca de um terço do dólar
e do euro.
"Sigo otimista em relação a 2004, pois
voltamos a superar quatro milhões de entradas",
disse o presidente da Embratur.
Ao lado dos dois eixos tradicionais de desenvolvimento —
agricultura e indústria — há, na visão
do governo Lula, o eixo turístico, que envolve 52 setores
de diferentes atividades econômicas. Por isso, destacou
o chefe de gabinete do Ministério do Turismo, Sidney
Alves Costa, foi criado, pela primeira vez na História,
um ministério para tratar exclusivamente desta área.
"Queremos combater o turismo sexual. O governo vem atuando
com rigor nesse assunto", disse Costa.
Na avaliação do consultor e ex-presidente da
Embratur Caio Luiz de Carvalho, no entanto, é praticamente
impossível atingir a meta de 9 milhões de turistas
estrangeiros em quatro anos:
"Temos uma realidade de crise do transporte aéreo.
Houve crescimento do fluxo de turistas da Europa para cá,
mas as economias da América do Sul são frágeis.
Por isso, esses países não estão exportando
turistas. Também ainda não recuperamos os turistas
argentinos que perdemos".
Carvalho lembrou que o Brasil já chegou a receber,
em 2000, 5,2 milhões de turistas e esperava melhorar
ainda mais o volume depois de 2001, que ficou prejudicado
com o 11 de setembro. A questão é que, em seguida,
a Transbrasil quebrou, a Soletur — uma das maiores operadoras
de turismo da época — foi à falência
e a Argentina chegou ao pico da recessão. O único
mercado que não se abalou foi o europeu, beneficiando
a Região Nordeste.
"Se o governo fizer tudo certinho, dá para chegar
a 7 milhões de turistas estrangeiros por ano",
disse Carvalho.
O consultor José Ernesto Marino Neto, presidente da
BSH International, vai mais além. A meta não
é factível, porque o país não
tem instrumentos que incentivem o crescimento do turismo na
velocidade necessária.
"Turismo não é uma atividade que depende
só de um ministro. Depende da aviação
civil, dos aeroportos, da segurança nas cidades, da
limpeza pública e outros. Carência de vôos,
legislações antiquadas e o comportamento de
alguns ministros, até por desconhecerem as necessidades
do turismo, acabam sendo nocivos", afirmou Marino Neto.
Marino Neto citou o exemplo do fichamento dos americanos
que entram no Brasil, como represália às medidas
impostas pelo governo dos EUA aos turistas brasileiros.
"Foi uma das piores coisas que o Brasil já fez.
Em turismo, não existe segunda chance para um destino
turístico. Ninguém vai voltar aqui para ver
se já mudou para melhor, depois de passar oito horas
no aeroporto do Rio de Janeiro, tirando as impressões
digitais".
"A meta de 9 milhões de turistas estrangeiros
é muito e pouco, ao mesmo tempo", disse o vice-presidente
da Associação Brasileira da Indústria
de Hotéis (ABIH), Eraldo Alves.
Segundo Alves, é necessário que a economia
brasileira caminhe bem e que o país tenha infra-estrutura
turística. Para Alves, o governo deve promover o país,
em especial, entre os países sul-americanos andinos,
como Peru e Chile, que enviam turistas para os Estados Unidos:
"O Peru manda 500 mil pessoas por ano para Miami".
ELIANE OLIVEIRA
do jornal O Globo, sucursal de Brasília
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