O governo
apresentará nesta semana proposta para tentar amenizar
a situação dos funcionários dos bingos.
Uma das idéias em estudo é aplicar o sistema
conhecido como lay-off, de suspensão dos contratos
de trabalho. “É uma das opções
que serão levadas ao presidente”, adianta o ministro
do Trabalho, Ricardo Berzoini.
Segundo ele, embora medida provisória tenha proibido
a atividade, a questão ainda está em aberto.
“É um assunto que não esgota na MP. O
ministério procura apresentar cenários.”
Uma solução é tudo o que esperam os
trabalhadores, que vivem a angústia de não saber
se manterão os empregos. “Eles não estão
vendo o lado humano”, diz Cintya Nepomuceno, de 31 anos,
há quase 10 nessa atividade. Vendedora de cartelas,
ela, que é viúva, depende do serviço
para ajudar os pais e sustentar os três filhos, todos
homens, de 12, 10 e 8 anos. “Sou pai e mãe ao
mesmo tempo. Não tenho medo de arregaçar as
mangas e trabalhar. Somos profissionais sérios”,
diz Cyntia, que antes atuava com telemarketing. A jornada
no bingo vai das 13h às 19h.
Segundo a locutora Lina Cláudia Arrais, há
seis anos em um bingo na Baixada Santista, a cena do fechamento
de seu local de trabalho, na véspera do carnaval, foi
deprimente. Ex-funcionária administrativa de uma multinacional,
ela ficou desempregada durante oito meses até conseguir
a atual ocupação. “Pelo menos no bingo
em que eu trabalho, a gente é muito família
com os clientes. Conheço a vida pessoal de pelo menos
70% deles.”
Registrada, assim como Cyntia, ela espera uma solução
rápida. “Até 20 de março, estamos
todos empregados. Depois ninguém sabe o que vai ser.”
A locutora trabalha das 21h às 5h20, com uma hora de
descanso e uma folga semanal. Uma vez por mês, ela tem
um sábado ou um domingo de folga.
Também com carteira assinada, Hugo Restani trabalha,
ou trabalhava, há um ano e meio em um bingo de grande
porte na Zona Norte. Como muitos outros, mudou de área
após ver diminuídas as chances no mercado. “Tenho
um currículo razoável”, diz. “Para
muitos, a situação é periclitante. Há
pessoas com filhos deficientes, mães solteiras, todos
trabalhando honestamente.”
VITOR NUZZI
do Diário de S.Paulo
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