O Ministério
da Educação criou uma comissão para estabelecer
uma política de incentivo à formação
de novos professores e de estímulo à capacitação
dos que já estão na ativa. Recursos para esses
fins ainda não existem. O país tem hoje um déficit
de 253,8 mil profissionais na rede básica de educação
de Estados e prefeituras.
Instituída em dezembro do ano passado por meio de
portaria do MEC, a Capemp (Comissão de Aperfeiçoamento
de Professores do Ensino Médio e Profissional), ainda
em fase de implantação, vai assessorar o MEC
no aperfeiçoamento técnico e pedagógico
de 100 mil professores que hoje atuam no ensino médio.
As associações nacionais de formação
de professores e de pesquisa e pós-graduação
em educação estão entre as várias
representantes da sociedade civil na Capemp. A SBPC (Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência) faz parte da
sociedade científica.
"Não queremos que seja uma ação
de governo. A exemplo da Capes [Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior],
que já tem 50 anos de história no ensino superior,
queremos que a Capemp tenha um plano permanente de formação
inicial e continuada de professores."
Falta professor
Mesmo sem ter um centavo do orçamento do Ministério
da Educação neste ano, os integrantes da comissão
dizem que o órgão pretende buscar soluções
para tapar parte do buraco provocado pela falta de professores,
especialmente de física e química.
Só no ensino médio, faltam 23,5 mil professores
de física, segundo estudo realizado pelo Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão
do próprio ministério.
De 1990 a 2001, apenas 7.216 universitários se licenciaram
em física. Até 2010, a estimativa é outros
14.247 alunos façam o mesmo. "É o apagão
da educação. Mesmo que cada professor desse
aula em três turnos, não atenderíamos
nem 50% da demanda", diz o secretário de ensino
médio e tecnológico do Ministério da
Educação, Antônio Ibañez, 61.
Segundo ele, o primeiro passo do MEC será descobrir
qual a carência de professores nos Estados. Para isso,
está sendo elaborado um Censo do Professor, que deve
ficar pronto até o final do ano.
Reitores de universidades públicas também estão
sendo chamados para que se comprometam com a criação
de 50 mil novas vagas de licenciatura nos próximos
quatro anos, especialmente no período noturno.
Segundo Ibañez, os professores que estão na
ativa precisam de conteúdos específicos de suas
matérias atualizados. "O conhecimento é
dinâmico, e eles devem ser orientados pedagogicamente
para ajudar a melhorar o desempenho dos alunos", afirma.
A questão salarial é outro ponto frágil
que afugenta os novos professores. Para Ibañez, a criação
do Fundeb -fundo para o financiamento do ensino básico
que vai substituir o Fundef (do ensino fundamental), será
uma das soluções para repor parte da defasagem
salarial da categoria.
Aliada
O MEC também aposta na criação
de ferramentas virtuais que ajudem o professor na sala de
aula como uma das alternativas para compensar o déficit.
A idéia é que a partir dos chamados objetos
de aprendizagem, programas pedagógicos virtuais que
seguem as orientações curriculares do ministério,
os professores otimizem o tempo e tornem suas aulas mais atrativas.
"Com a ajuda da tecnologia, em vez de três ou
quatro professores de física, por exemplo, será
necessário apenas um", afirma Fredric Michael
Lito, presidente da Abed (Associação Brasileira
de Educação à Distância).
Lito também coordena a Escola do Futuro da USP de
São Paulo, um núcleo de pesquisa de novas tecnologias
aplicadas à educação.
Ele reconhece, porém, que, para atingir essa meta,
é preciso tapar outros buracos, como a falta de computadores
ou a manutenção dos equipamentos nas escolas.
Dados do próprio MEC dão conta que seriam necessários
1,5 milhão de computadores para equipar as escolas
públicas com laboratórios de informática
de uso pedagógico. Hoje, a rede conta com 220 mil computadores.De
acordo com Américo Bernardes, diretor-geral do ProInfo
(Programa Nacional de Informática na Educação),
do MEC, a proposta é instalar de 70 mil a 80 mil computadores
nas escolas públicas até o fim do governo Lula.
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha De S.Paulo
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