WASHINGTON
(EUA) - A emergência de quatro países como influentes
atores globais — China, Índia, Brasil e Indonésia
— e, principalmente, uma potencial forte aliança
entre eles farão surgir não apenas um novo e
poderoso bloco como também provocará transformações
significativas na geopolítica mundial ao longo dos
próximos 15 anos.
Nesse período, a hegemonia dos Estados Unidos sofrerá
desgastes, tornando-se mais vulnerável ao que acontecer
em outros países na medida em que se aprofundarão
as conexões no comércio global. A Europa terá
de adaptar sua força de trabalho, sob o risco de enfrentar
um período de prolongada estagnação econômica.
E instituições como as Nações
Unidas, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial
correrão o risco de se tornarem obsoletas se não
se ajustarem às mudanças que serão provocadas
pelo surgimento desse novo pólo de poder.
Essa é a conclusão de um amplo e minucioso
estudo que acaba de ser feito pelo Conselho de Inteligência
Nacional dos Estados Unidos (NIC, na sigla em inglês),
que reúne as 15 agências de inteligência
do país e é coordenado pela CIA, a Agência
Central de Inteligência. A coleta de dados e a sua interpretação
foram realizadas para indicar ao governo americano os riscos
que tem pela frente, e sugerir maneiras de se lidar com a
nova ordem mundial.
Posição privilegiada
O documento final, sob o título “Mapeando
o futuro global”, traça as perspectivas mundiais
até 2020, apontando China e Índia como os dois
principais fatores das mudanças que já estão
se desenvolvendo, e que culminarão numa reviravolta
sócio-político-financeira.
“As potências arrivistas — China, Índia,
e talvez outras como Brasil e Indonésia — poderão
promover um novo conjunto de alinhamentos internacionais,
marcando potencialmente uma ruptura definitiva de algumas
instituições e práticas pós-Segunda
Guerra”, diz um trecho do estudo, e que deverá
ser divulgado esta semana pelo NIC. As sugestões dos
analistas que servirão de base à reavaliação
da política externa americana, diante das previsões
contidas no estudo, permanecerão sigilosas.
A projeção da China, da Índia, do Brasil
e da Indonésia no cenário mundial é apontada
como algo semelhante ao advento da Alemanha unida no século
XIX e ao poder obtido pelos EUA no século XX. O século
XXI, segundo analistas, pode ser visto como a era em que a
Ásia, liderada por China e Índia, passará
a ser uma verdadeira potência — graças
a uma combinação de alto crescimento econômico,
expansão de suas capacidades militares e força
de trabalho de suas grandes populações.
A avaliação diz ainda que embora China, Índia,
Brasil e Indonésia tenham um impacto geopolítico
mais limitado, o seu crescimento econômico e uma potencial
aliança entre eles “vão criar uma nova
paisagem”. China e Índia se tornarão líderes
tecnológicos, e as corporações multinacionais
terão suas principais bases em China, Índia
e Brasil.
O documento diz ainda que “as empresas se tornarão
globais e as corporações ficarão cada
vez mais fora do controle de qualquer Estado”, acrescentando
que elas serão responsáveis pela “disseminação
da tecnologia, o que vai integrar mais a economia mundial
e promover o progresso econômico no mundo em desenvolvimento”.
Outro trecho assinala que “China, Índia, Brasil
e Indonésia têm o potencial de tornar obsoletas
as antigas categorias de Leste e Oeste, Norte e Sul, alinhados
e não-alinhados, desenvolvidos e em desenvolvimento.
Tradicionais grupamentos geográficos cada vez mais
perderão destaque nas relações internacionais.”
O Brasil é definido nesse quadro como “um país
com vibrante democracia, economia diversificada e população
empreendedora, um grande patrimônio nacional e sólidas
instituições econômicas”. Os analistas
do NIC insinuam que o Brasil estaria numa posição
privilegiada pois continuará sendo encarado como “um
parceiro natural tanto dos EUA quanto da Europa, quanto das
potências emergentes China e Índia, “e
tem ainda o potencial de aumentar a sua influência como
um grande exportador de petróleo”.
Eles dizem que o sucesso ou o fracasso do Brasil “em
equilibrar medidas pró-crescimento econômico
com uma ambiciosa agenda social, que reduza a pobreza e a
desigualdade de renda, terá um profundo impacto no
comportamento econômico de toda a região e de
seus governos durante os próximos 15 anos”.
O documento prevê que o Produto Interno Bruto da China
será maior do que o de todas as potências ocidentais
ao longo dos próximos 15 anos, ficando abaixo apenas
do PIB dos EUA. O da Índia vai suplantar ou, no mínimo,
será igual ao das economias européias. Em 2020,
a China terá uma população de 1,4 bilhão
de pessoas e a da Índia será de 1,3 bilhão,
“mas o seu padrão de vida não precisará
se aproximar dos níveis ocidentais para que estes países
se tornem importantes potências econômicas”,
diz um trecho do estudo.
A economia do Brasil poderá ser igual à dos
países ricos da Europa, e a da Indonésia se
aproximará desse índice. Assim como a Europa,
o Japão e a Rússia sofrerão a crise do
envelhecimento de sua população e do baixo índice
de nascimentos. Segundo o estudo, apesar de a economia mundial
continuar crescendo “de forma impressionante”
até 2020 — ela deverá ser 80% maior do
que a de 2000 e a média per capita será 50%
mais alta —, os benefícios da globalização
não serão gerais.
O estudo também faz um alerta: “governos frágeis,
economias atrasadas, extremismo religioso e o crescimento
da juventude vão se alinhar para criar uma tempestade
perfeita para conflitos internos em várias regiões.
Alguns deles, particularmente os que envolvem grupos étnicos
além das fronteiras nacionais, criarão o risco
de uma escalada de conflitos regionais”.
As informações são
do Globo Online.
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