O Brasil
possui 24,5 milhões de deficientes, 14,5% da população
nacional. Este número é resultado do último
Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em 2000. Destes 24,5 milhões,
48,1% possuem deficiência visual; 22,9%, deficiência
motora; 16,7%, deficiência auditiva; 8,3%, deficiência
mental; e 4,1%, deficiência física. Estes dados
contrastam com o número de deficientes empregados no
mercado de trabalho. Dos nove milhões de pessoas em
idade ativa, somente um milhão (11%) exerce alguma
atividade remunerada e apenas 200 mil (2,2%) trabalham com
carteira assinada. Para aumentar esta fração,
dois administradores de empresa de Uberlândia, Minas
Gerais, decidiram criar um instituto que facilitasse a entrada
dos deficientes no mercado de trabalho. Em 2001, surgia o
Instituto Integrar, que está cadastrado no Banco de
Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil.
Os responsáveis pela criação do Instituto
são Rosana Ribeiro, de 39 anos, e Edson de Queiroz,
de 37. Por coincidência, os dois sofreram acidentes
e ficaram tetraplégicos enquanto cursavam a faculdade
de administração. Rosana, que estudava na Universidade
Federal de Uberlândia, perdeu os movimentos das pernas
e dos braços em 1989, depois de levar um tiro de metralhadora
durante um assalto. Segundo ela, sua sorte foi poder contar
com o apoio do pai empresário, que a ajudou voltar
a trabalhar rapidamente, mas a mesma facilidade não
teria seu colega, Edson. Ele ficou tetraplégico em
1992, após fraturar a coluna ao mergulhar em uma piscina.
Edson estudava administração na Universidade
do Triângulo (Unitri), em Uberlância.
Rosana se sensibilizou com a dificuldade de Edson para arrumar
um emprego e em 2001 os dois, já formados, uniram-se
para criar um centro que preparasse os deficientes para o
mercado de trabalho. A própria legislação
brasileira garante este direito: as empresas com mais de cem
funcionários são obrigadas a destinarem de 2%
a 5% de suas vagas a portadores de qualquer tipo de deficiência.
“Como não encontramos quem oferecesse este tipo
de ajuda, estudamos os vários tipos de deficiência,
a legislação brasileira voltada para o tema
e também para o terceiro setor, e criamos o Instituto
Integrar”, conta Rosana.
Com sede no Center Shopping de Uberlândia, o Integrar
tem hoje cadastrados em seu banco de dados 696 deficientes.
Destes, 350 receberam orientação do programa,
200 fizeram cursos e outros 100 conseguiram arrumar um emprego
ou abriram o próprio negócio. O melhor é
que nenhuma das pessoas atendidas precisou pagar sequer um
centavo pelos cursos: o Instituto se sustenta por meio de
parcerias e também com o trabalho de consultoria que
realiza junto às empresas. Quando solicitados, Rosana,
Edson e seus funcionários fazem visitas às empresas,
localizando possíveis postos de trabalho para os deficientes.
“Nós fazemos também a avaliação
física das empresas e que modificações
devem ser feitas para receber o deficiente. Ao mesmo tempo,
fazemos um trabalho de sensibilização, mostrando
aos funcionários como lidar com o deficiente. Preparamos
o pessoal de recursos humanos para avaliar e selecionar as
pessoas com deficiência. Geralmente, indicamos duas
ou três pessoas para a mesma vaga e o RH fica encarregado
da decisão final”, explica Rosana.
Antes de concorrerem a um posto no mercado de trabalho, os
deficientes que procuram o Instituto Integrar passam por uma
seleção. São realizadas dinâmicas
de grupo que servem para que Rosana e Edson comecem a avaliar
as habilidades dos candidatos. Passada a dinâmica, o
Instituto faz uma entrevista individual para saber o que causou
a deficiência na pessoa e o que ela é capaz de
fazer. Dependendo da demanda e das habilidades, alguns deficientes
ainda fazem cursos gratuitos do Senac, do Sebrae ou do Sesi.
“Os deficientes recebem o mesmo salário que
os outros funcionários e, por sua vez, têm de
ter a mesma produtividade”, pondera a coordenadora do
Integrar.
Um dos beneficiados pelo Instituto foi Gilmar Gomes Faria.
Ele perdeu parte dos movimentos da perna esquerda em decorrência
de uma poliomielite que teve com um ano e oito meses.
Hoje, aos 41 anos, anda com a ajuda de um aparelho e tem
o próprio negócio: uma loja de componentes eletrônicos.
Uma parcela de seu sucesso profissional se deve ao Instituto
Integrar. Há dois anos, Gilmar estava na primeira turma
do curso de empreendedorismo para deficientes físicos
(Emdef) do Sebrae promovido pelo Integrar em parceria com
a Souza Cruz e a Prefeitura de Uberlândia.
“O curso me deu uma luz para eu abrir a minha loja.
Me ensinou como lidar com os clientes, como buscar os melhores
fornecedores, como formar o preço de custo”,
conta o empresário.
José Joaquim de Souza também teve os movimentos
das pernas prejudicados em decorrência de uma poliomielite
que teve com um ano e seis meses de idade. Antes de um amigo
levá-lo a conhecer o Instituto Integrar, José
trabalhava como ambulante nas ruas de Uberlândia. Hoje,
aos 44 anos, está empregado, com carteira assinada,
na fábrica de cigarros da Souza Cruz, na mesma cidade.
Ele trabalha há três anos na impressão
e no corte dos selos que vão vedar as embalagens de
cigarro. No começo, a fábrica possuía
apenas quatro funcionários com deficiência. Atualmente,
já são mais de 20 entre cerca de mil funcionários.
“Sem o Instituto Integrar, eu nunca teria arrumado
um emprego com carteira assinada. Provavelmente, estaria nas
ruas até hoje, procurando uma forma de ganhar dinheiro”,
festeja José.
DANIELLE CHEVRAND
da Fundação Banco do Brasil
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