RIO e BRASÍLIA - Qualquer
que seja a decisão do Comitê de Política
Monetária, hoje, sobre a redução da taxa
básica de juros (Selic), o Brasil permanecerá
com o incômodo título de campeão mundial
dos juros altos. A taxa real (descontada a inflação
prevista para os próximos 12 meses) está em
9,9% ao ano, de acordo com levantamento da consultoria Global
Invest. A segunda colocada no ranking é a Hungria,
com 8,6%. Nas contas do economista Alexsandro Agostini, para
que o Brasil perdesse a liderança, o Copom teria de
reduzir a Selic em 1,5 ponto percentual, o que ele admite
estar fora de cogitação.
A taxa básica nominal (sem considerar a inflação)
está em 16,5% ao ano e a maioria dos analistas prevê
um corte de 0,5 ponto percentual, embora nos últimos
dias tenham crescido as apostas numa redução
de 0,75 ou até mesmo de 1 ponto.
Agostini explica que, apesar do recuo de 10 pontos percentuais
da Selic em 2003, a redução não acompanhou
o ritmo de queda da inflação. Por isso, os juros
reais subiram. O economista acredita que o Copom deverá
cortar a taxa básica em 0,5 ponto por mês até
março, para que o país deixe o topo do ranking.
"Agora nem é aconselhável fazer reduções
mais bruscas, porque o BC tem de fazer a sintonia fina. Devia
ter reduzido mais em outubro, quando tinha espaço",
criticou.
O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, embora ressalvando
que há espaço para a redução de
1 ponto, também acredita que o corte ficará
em 0,5 ponto. Ele explica que o BC está mirando a meta
de inflação deste ano, de 5,5%, mas alerta que
a cautela excessiva poderá travar a retomada da atividade
econômica.
A economista Ana Higa, do Banco Santos, teme a inflação.
"Vemos setores falando em recomposição
das margens de lucro. Isso preocupa um pouco".
Os elevados juros cobrados pelos bancos estão inibindo
a concessão de crédito, principal alavanca para
o crescimento econômico. A avaliação é
do próprio presidente da Federação Brasileira
dos Bancos (Febraban), Gabriel Jorge Ferreira. Ele admitiu
que as taxas cobradas pelas instituições financeiras
ainda estão num nível bastante elevado e a procura
por crédito, mesmo nas linhas garantidas por acordos
de desconto em folha, permanece baixa.
Ferreira elogiou a atuação do primeiro ano
do governo Lula, mas afirmou que ainda é preciso fazer
algumas correções no sistema judicial, oferecendo
às instituições financeiras mais garantias
de recuperação de empréstimos não
pagos. Com isso, afirmou, o spread bancário (diferença
entre o que o banco paga para captar recursos e o que ele
cobra para emprestá-los) poderá cair, como sonha
a equipe econômica. Na pauta da convocação
extraordinária do Congresso, está a aprovação
da Lei de Falências, que facilitaria este processo.
Ferreira ainda disse que não precisa haver ''sangria
desatada'' para a aprovação da autonomia do
BC. Isso porque, na prática, a autoridade monetária
já demonstrou independência para subir ou cortar
juros.
Já o Departamento do Tesouro dos EUA vê barreiras
para o avanço da economia brasileira. Ontem, o subsecretário
John Taylor afirmou que o Brasil ainda não conseguiu
atingir níveis de produtividade que possibilitem ao
país aproveitar o seu ''dramático'' potencial
de crescimento.
"Ainda não vimos taxas de crescimento no patamar
que poderiam estar", disse Taylor, que, no entanto, elogiou
a condução da política econômica
pelo governo.
CLAUDIO DE SOUZA
EDNA SIMÃO
do Jornal do Brasil
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