O número
de pobres no Brasil é 70% maior do que indica o Banco
Mundial, aponta um estudo do Centro Internacional de Pobreza,
um órgão ligado ao PNUD e com sede no Brasil.
Usando dados de 2001 e a partir de nova metodologia, uma pesquisa
do diretor do Centro, Nanak Kakwani, estima que há
24,3 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha
de pobreza — e não 14 milhões, como diz
o Banco Mundial. No mundo, a estimativa do pesquisador é
de que haja cerca de 1,9 bilhão de pobres, em vez do
1,1 bilhão calculado pelo BIRD.
A nova metodologia indica, em média, um número
maior de pobres em todos os países. Na Argentina, Uruguai,
Chile e Paraguai, por exemplo, a diferença supera 100%:
há 2,18 milhões de pobres nesses países,
segundo o Banco Mundial, e 4,6 milhões, de acordo com
os cálculos do Centro Internacional de Pobreza. Na
China, o país mais populoso, a divergência também
é considerável. Segundo cálculos do BIRD,
o número de pobres é de 131 milhões,
porém, de acordo com Kakwani, esse número é
de 238 milhões.
Em um artigo na revista InFocus, editada pelo Centro Internacional
de Pobreza, Kakwani aponta equívocos na metodologia
do Banco Mundial. Para chegar a uma base de comparação
que pudesse eliminar as discrepâncias causadas pela
cotação das diferentes moedas no mundo, o BIRD
utiliza o dólar PPP (sigla em inglês para Purchasing
Power Parity, ou Paridade do Poder de Compra), que equipara
o poder de compra de alguns produtos e serviços básicos
entre as nações. O Banco Mundial considera pobre
quem vive com menos de 1 dólar PPP por dia.
Kakwani diz, no entanto, que o banco usou em 1990 os dados
do dólar PPP de 1985 e, posteriormente, quando atualizou
os dados em 1993, não levou em consideração
a inflação acumulada do dólar norte-americano
entre 1985 e 1993. “O procedimento correto teria sido
estimar o grau de desvalorização entre os países
pobres vis-à-vis os EUA, e então determinar
a equivalente linha de pobreza em dólares PPP de 1993”.
Ao não fazer isso, argumentam os críticos, o
Banco Mundial reduziu a linha de pobreza em termos reais (descontada
a inflação).
Em sua metodologia, o diretor do Centro Internacional de Pobreza
fez esse ajuste e usou um critério diferente para a
escolha dos países que entram na “cesta de moedas”
que vai gerar o dólar PPP. O Banco Mundial usa 33 países,
incluindo alguns ricos, como EUA e Canadá. Kakwani
leva em conta 19 países — 15 da África
Subsaariana e quatro da Ásia, todos de renda baixa.
O pesquisador lançou também uma outra metodologia,
que se baseia nas normas calóricas estipuladas pela
FAO (sigla em inglês para Organização
das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação).
“Fizemos uma linha de pobreza baseada nas necessidades
calóricas das populações mais pobres”,
escreveu. Por essa metodologia, também calculada com
dados de 2001, o mundo tem 1,4 bilhão de pessoas pobres.
As informações são
do site PNUD Brasil.
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