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balanço
23/12/2003
Para analistas, Lula acerta na economia, mas erra no social

"O governo fez bem o que todo mundo achava que iria fazer mal, mas tem ido mal na área em que todo mundo achava que iria ser bem-sucedido."

Essa frase do professor José Márcio Camargo, da PUC no Rio, define a avaliação predominante sobre o primeiro ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo fez uma política econômica responsável, do ponto de vista da maioria dos analistas brasileiros e internacionais, e reconquistou a confiança dos investidores no Brasil.

Mas na área social, justamente aquela que os especialistas acreditavam ser a especialidade do PT – por causa de atuações em administrações estaduais e municipais –, o governo Lula vem decepcionando.

Confiança
"A gerência da macroeconomia tem sido muito boa, muito melhor do que a avaliação que muitos analistas faziam há pouco mais de um ano", diz Michael Reid, editor de América Latina da revista The Economist.

Na lista das medidas dessa boa gerência econômica estão a manutenção do ajuste fiscal e a subida de juros no início do ano, que deram o sinal aos mercados de que o governo iria buscar o equilíbrio do déficit, segundo Reid."E o resultado tem sido uma recuperação importante da confiança dos investidores",observa.

O ano termina com otimismo nos mercados, valorização recorde da Bolsa de Valores de São Paulo, queda do risco-país e recuperação do valor dos títulos da dívida brasileira no exterior.

"O positivo, sem dúvida, é que o governo conseguiu atingir a estabilidade da economia. Temos que lembrar como foi amplo o grau do temor de um calote que existia entre os investidores no ano passado", avalia Richard Lapper, editor de América Latina do jornal Financial Times.

"Mas a estabilização da economia tem tido um custo social enorme, apesar dos avanços em algumas áreas. Foi um ajuste muito custoso para os brasileiros."

Crescimento
Por causa desse ajuste, em 2003, o crescimento da economia deve ficar em torno de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo previsão da maioria dos analistas.

A renda do trabalhador caiu 15% em termos reais desde outubro de 2002.

Na avaliação dos especialistas ouvidos pela BBC Brasil, porém, foram as políticas fiscal, monetária e de câmbio conservadoras que permitiram, em uma segunda etapa, a queda nos juros – que estão no nível mais baixo desde o início de 2001 – e a redução da inflação. Nessas condições, a expectativa é de que a economia volte a crescer em 2004.

"O superávit primário dá ao Brasil e aos investidores no Brasil, a garantia de que as contas do governo vão ser realmente acertadas. E isso é bom para o crescimento do Brasil. Uma política monetária mais solta é exatamente permitida hoje porque há um superávit maior", diz José Scheinkman, chefe do Departamento de Economia da Universidade de Princeton.

"A contribuição do superávit primário para o crescimento é positiva e não negativa como alguns observadores têm dito."

Apoio político
Na contabilidade dos acertos do governo Lula, os especialistas incluem a aprovação das reformas tributária e da Previdência.

"O presidente Lula construiu uma aliança política mais ou menos estável com essa aliança do PT com o PMDB. Foi uma engenharia política muito bem feita", diz Lapper.

No entanto, a aprovação das reformas e a política econômica do governo tiveram um custo político: a reação dos setores mais à esquerda do PT.

Quatro parlamentares foram expulsos do partido por terem votado contra o projeto do governo de reforma da Previdência Social.

"Cerca de 30% dos integrantes do PT se posicionam sistematicamente contra o governo e criticam pesadamente a política econômica. É uma dinâmica difícil, e ninguém sabe até onde vai continuar", avalia José Márcio Camargo, da PUC.

"Mas o governo parece determinado a manter a mesma direção."

Sem resultados
A área social é onde estão os pontos fracos do governo, e até agora os projetos nesse setor não mostraram resultados.

"Na parte social, o governo começou com lentidão e alguns erros surpreendentes, mas acho que tem tido uma tentativa de acertar os erros", avalia Reid.

Para ele, os erros evidenciam a falta de experiência do PT em governos em nível nacional.

Para o professor da PUC, há erros também na definição das prioridades, especialmente na educação.

"No Brasil, 40% das crianças não terminam o ensino fundamental, mas o Ministério da Educação definiu como prioridade a alfabetização de adultos", aponta Camargo.

Na sua avaliação, até mesmo o programa Fome Zero – bandeira da área social do governo Lula – não avançou, pois foi mal concebido.

"No Brasil, boa parte das pessoas que passam fome vivem em comunidades isoladas no interior do Nordeste, onde o acesso é difícil. O Fome Zero prevê o recebimento de doações de alimentos e a entrega onde essas pessoas estiverem. Ora, nessa situação, fica difícil fazer o programa funcionar efetivamente", diz Camargo.

Segundo ele, ao perceber as dificuldades, o governo decidiu adotar outras estratégias na área social dentro do Fome Zero, para aproveitar a boa marca do programa. Entre elas, estaria o pagamento de pensões para idosos.

Já o ministro Extraordinário da Segurança Alimentar, José Graziano, assegura que o programa Fome Zero reduziu a mortalidade infantil a "níveis insignificantes" em algumas regiões do Nordeste.




MARIA LUIZA ABBOTT
ILANA REHAVIA
da BBC Brasil

   
 
 
 

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