No topo de uma ladeira, cercada por uma favela por todos os lados e localizada
em um dos bairros mais violentos de Salvador, a Escola Estadual
Professora Maria Anita encontrou uma fórmula para reduzir
a criminalidade dentro e fora dos seus muros.
Com programas simples voltados para os seus 1.500 alunos
e para a comunidade de Periperi (35 km do centro de Salvador),
o estabelecimento praticamente eliminou a evasão escolar
e acabou com pichações, destruições
de carteiras e mesas e as constantes brigas dentro da própria
escola.
"Antigamente, a escola cumpria apenas a sua obrigação
educacional. Depois que constatamos as irregularidades, passamos
a funcionar como um verdadeiro shopping center, oferecendo
alternativas de lazer e cultura não apenas para os
alunos, mas também para a comunidade em geral",
disse a diretora Heronita Silva Passos, 52.
Devido ao sucesso do programa implantado, a escola baiana
participou há quase um mês, a convite do Bird
(Banco Mundial), do 3º Seminário Internacional
de Intercâmbios de Experiências de Educação
para a Paz, realizado em Bogotá, na Colômbia.
Atividades
Sem deixar de lado o aspecto educacional -o estabelecimento
funciona das 7h às 21h40-, a Escola Estadual Professora
Maria Anita percebeu que a violência na comunidade não
diminuía com os métodos tradicionais de ensino.
"Então resolvemos abrir a escola para outras atividades,
como batizados, casamentos, pregações religiosas,
campeonatos esportivos, festas e danças", explica
a diretora Heronita Passos.
Com isso, a barreira que separava a escola da comunidade
-um muro de quase 2,5 m de altura- deixou de existir.
"O nosso portão fica aberto o tempo todo. Quem
precisar de quadra e das dependências da escola é
só pedir que a gente atende", acrescentou a diretora.
Segundo Passos, os próprios moradores da comunidade
contribuem para a conservação do estabelecimento
educacional.
"É comum as pessoas varrerem, fazerem pequenos
reparos e pintarem a escola nas férias ou nos feriados.
Na verdade, as pessoas se sentem valorizadas e querem nos
retribuir de qualquer maneira."
"É meu espaço"
Suspenso e advertido 23 vezes em apenas um ano, o estudante
A., 14, disse que a prática esportiva contribuiu para
a sua mudança de comportamento. "Antes, eu era
um verdadeiro marginal, só queria brigar e destruir.
Agora, a escola é o meu campo, o meu espaço,
a minha vida."
Matriculada no primeiro ano do ensino médio, E., 15,
disse que o projeto implantado pela escola mudou a sua maneira
de encarar a vida. "Os projetos de combate e prevenção
à violência trabalham com a inclusão do
aluno." Na semana passada, os parentes da estudante fizeram
uma festa surpresa, dentro da escola, para comemorar os seus
15 anos.
O estudante E., 13, tem a mesma opinião de sua colega.
"Antigamente, a escola era toda pichada com palavrões.
Agora, o nosso ambiente é saudável e maravilhoso",
diz o aluno.
Até 2001, pelo menos 300 ex-alunos dessa escola haviam
sido presos, e outros 20 foram assassinados nos últimos
oito anos, de acordo com a diretora.
"Há dois anos, não temos mais registro
de nenhum ex-aluno ou aluno envolvido em criminalidade",
afirma ela.
Menos de um mês depois de mostrar a sua experiência
para os colombianos, a escola baiana já recebeu mais
dois convites. "Os governos da Bolívia e do Peru
também querem conhecer o nosso trabalho", disse
a diretora.
LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha
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