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opinião
24/11/2003
''Futuro do governo Lula depende de marca social''

O próximo ano será decisivo para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, porque estes primeiros 12 meses foram de crédito. A advertência é do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, sugerindo ênfase muito maior na área social.

"Os eleitores votaram por mudança. É compreensível que o primeiro ano tenha sido consumido para arrumar a casa. Mas agora as pessoas querem crescimento, mais emprego, mais ações no social".

Por social, explica o mago das pesquisas eleitorais, entenda-se investimentos em saúde, educação, saneamento básico, segurança e reforma agrária. O risco, caso a relação não seja adotada com fôlego em 2004, será sentido no futuro da administração Lula.

"Sem mudar, reeleição nem pensar. O governo Lula precisa encontrar uma marca, uma tatuagem, como o real e a Lei de Responsabilidade Fiscal foram para Fernando Henrique Cardoso", alerta.

O símbolo, o ícone da atual gestão precisa sair da área social. Definida a pauta do segundo ano de administração -''Reformas não valem, essa página foi virada'' - e desenhada a tal tatuagem, o governo Lula terá de vencer, ainda, o problema da comunicação.

"É preciso saber comunicar. Fernando Henrique fez muito, mas perdeu-se na hora de contar ao povo suas realizações", lembra o papa dos levantamentos de opinião pública.

Ah!, também é essencial evitar escorregadelas, ou ''besteiras'', na definição de Montenegro. Cita-as: a superexposição dos dissidentes petistas - ''Não tinham esse peso todo'' -, a discussão em torno da liberação, ou não, dos produtos transgênicos, e o recadastramento dos idosos acima de 90 anos de idade, somado às filas quilométricas para cálculo do reajuste dos benefícios.

"Foram mal trabalhados pelo governo", observa.

Ao contrário do que pensam opositores, é sábio o presidente Lula quando monta a agenda de viagens, nacionais e internacionais.

"Ele tem popularidade, e credibilidade, aqui e lá fora".

Em 2004, contudo, recomenda o comandante do Ibope, deve voar mais por território brasileiro para manter as esperanças do povo em alta.

Montenegro está otimista. Acredita que passado o sufoco do primeiro ano, o governo petista conseguirá surfar no crescimento significativo em 2004. Acredita que os investidores externos ficaram sem opções e não têm ''outra saída'' que não endereçar recursos para Brasil, China e Índia. Afinal, Europa, Estados Unidos e Japão ''chegaram ao limite''. Com a economia em ordem e a lição de casa bem cumprida no primeiro ano, o segundo será de colheita para o governo federal, avalia.

E, de quebra, ainda vai pegar carona no avanço consistente da marcha vermelha nas eleições municipais, em outubro e novembro (segundo turno) do ano que vem.

"O PT somou 185 prefeituras nas eleições de 2000. Agora, não é miragem imaginar que este número cresça para algo como mil municípios, ou um quinto do quadro brasileiro. Isso seria um grande feito".

Não se pense, contudo, que os temas nacionais dominarão o cenário e serão decisivos nos palanques do ano que vem. Se, em 2002, a opção foi por alterações na área social, por humanizar a administração federal, no próximo o que se vai escolher é o ''síndico do município'', na definição de Montenegro. Os 110 milhões de eleitores vão às urnas conscientes de quais são as atribuições dos gestores municipais e preocupados, não com os rumos do país, mas ''com o lixo, a recuperação da praça, o funcionamento do posto de saúde, as áreas de lazer''. E, políticos que imaginam ser a sucessão municipal, o primeiro julgamento da administração Lula, podem desistir. Se o presidente correspondeu ou não às expectativas dos mais de 50 milhões de brasileiros que o levaram ao Palácio do Planalto isso será revelado apenas nas urnas de 2006.

Se depender do prognóstico do presidente do Ibope, os prefeitos do Rio, Cesar Maia, e de São Paulo, Marta Suplicy, já podem começar a comemorar.

"Detesto fazer estas previsões , os políticos guardam e cobram", brinca.

No melhor estilo Montenegro de ser, contudo, o botafoguense fanático (ex-presidente do clube carioca) não pipoca na frente do gol.

"Cesar é um político de primeira, está fazendo uma ótima gestão e entende muito bem o papel de síndico da cidade. Marta idem. Faz um tremendo sucesso com os pobres quando chega toda arrumada de terninho e salto alto para chafurdar na lama da periferia. Marta está fazendo um excelente trabalho na educação, deixou a cidade limpa. É um sucesso".

Não é uma análise aleatória nem de torcedor. É de quem entende do riscado. Avalia que o quadro é melhor para Marta que para Maia. No Rio, relaciona, há concorrentes mais expressivos, como o senador Marcelo Crivella (PL), a deputada Denise Frossard (PSDB), o deputado Jorge Bittar (PT), o vice-governador Luiz Paulo Conde (PMDB). Em São Paulo, uma relação assim inexiste. O governador tucano Geraldo Alckmin perde tempo a não definir-se por um nome e o candidato que poderia fazer frente a Marta, o ex-ministro e atual presidente do PSDB, José Serra, recusa-se a entrar em campanha. Paulo Maluf, pensa Montenegro, deve ficar de fora.

Prefeitos interessados na reeleição, que pensam em inaugurar obras no derradeiro ano de gestão para faturar votos, podem desistir.

"Eleitor não aceita mais obra de última hora. Identifica como oportunismo e demagogia", adverte Montenegro.

Palavras de quem entende do traçado e não joga avaliações ao léu. Montenegro acompanhou nos últimos anos as principais eleições no Brasil. Sem falar que conhece como a palma da mão, e nas estatísticas, o que o consumidor brasileiro - perfil médio - gosta ou desgosta. O Ibope pesquisa para emissoras de televisão o índice de aparelhos ligados, de telespectadores atentos. Tanto, que o nome do instituto consta do dicionário Aurélio como sinônimo de audiência.

"Brasileiro é simples, por isso gosta do estilo do Lula. É um povo pacífico, otimista".


Ana Maria Tahan e Sônia Araripe,
do Jornal do Brasil.

   
 
 
 

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