Lutar
contra a idéia do senso comum de que é melhor
ter a criança trabalhando do que na rua, é um
dos principais objetivos dos participantes da oficina sobre
"Estratégias para Erradicação do
Trabalho Infantil" empenhados também no seu dia-a-dia
em extinguir o trabalho precoce.
O debate fez parte da programação do segundo
dia do "Seminário Redes, Alianças e Parcerias
para o Desenvolvimento Comunitário" e contou com
a presença de Paulo José de Lara Dante, membro
da coordenação do Fórum Paulista de Prevenção
e Erradicação do Trabalho Infantil; Izabel Cristina
Martin, gerente estadual do Peti (Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil) e Pedro Américo Oliveira, coordenador
do IPEC (Programa Internacional para Eliminação
do Trabalho Infantil) no Brasil.
Tanto os palestrantes como o público presente na
oficina concordam que outra grande dificuldade do dia-a-dia
é enfrentar o discurso de pais e da sociedade em geral
que afirmam ter trabalhado desde muito cedo e que mesmo assim
"sobreviveram".
Pedro Américo diz se surpreender ao ver que para
grande parte das pessoas a alternativa para a rua é
o trabalho em suas piores formas, e não a escola, como
ele julga que deveria ser. "Ninguém questiona
que o filho da família de classe média tem que
estar na escola, no lazer ou na aula de informática...
Só para o menino pobre que isso é uma dúvida.
Mesmo que a educação não seja dos nossos
sonhos, escola é escola. Para o menino pobre então,
é ainda mais marcante porque significa uma chance de
mudança", afirma.
Outro desafio na luta contra o trabalho infantil é
a dificuldade em conscientizar os pais. "Quem têm
seus filhos planejados e queridos não os quer expostos
ao perigo. Já, em outros casos, muitos que têm
filhos sem condições e indesejados não
se preocupam com isso", observa Pedro.
Além disso, boa parte dessas pessoas começaram
a trabalhar desde muito cedo e acham que este é o curso
"normal" da vida. Para Pedro Américo e seus
colegas de debate, é necessário descobrir uma
forma de mudar a percepção dos pais e sociedade
e também dedicar atenção à criação
de uma gestão pública disposta a atender essa
demanda.
Para Izabel Cristina Martin, gerente estadual do Peti, o
trabalho sócio-educativo com as famílias deve
ser bem marcado". Ela acredita que "é necessário
mostrar o quanto o trabalho infantil é prejudicial.
É importante se firmar este pacto com as famílias".
Entretanto eles avaliam que é sempre muito difícil
despertar a consciência em pais e mães. Como
sugestão, Pedro Américo acha importante perguntar
a eles o que imaginavam que seriam quando "crescessem".
E perguntar também por quê não conseguiram.
"Eles acabam percebendo sozinhos que estão reproduzindo
com os filhos o comportamento de seus pais", observa.
Outra dificuldade está em superar casos amplamente
divulgados pela mídia de pessoas como jogadores de
futebol e artistas que começaram a trabalhar muito
cedo e hoje são considerados modelos de sucesso. Segundo
Pedro Américo, esse tipo de publicidade acaba alimentos
mesmo que de forma subliminar que o trabalho infantil pode
ser benéfico.
Como ação oficial de luta contra o trabalho
precoce, o Peti surgiu também como alternativa de transferência
de renda já que a principal causa do problema está
na pobreza.
Para intensificar e potencializar os resultados de toda
essa luta protagonizada por governo e sociedade civil, Paulo
José de Lara Dante, membro da coordenação
do Fórum Paulista de Prevenção e Erradicação
do Trabalho Infantil, reforça a necessidade de se expandir
a atuação dos fóruns regionais.
DANIELA MARQUES
do site Setor3
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