Os fabricantes
de medicamentos cujos preços foram liberados pelo governo
no ano passado estão recompondo suas margens de lucro.
Na lista dos 260 produtos (que envolvem 1.462 apresentações)
que ficaram livres do controle da Câmara de Regulação
do Mercado de Medicamentos (Cmed), submetidos portanto apenas
à concorrência no mercado, há registros
de aumentos de até 50,7% entre março de 2003
e abril de 2004. É o caso do analgésico AAS,
do laboratório Sanofi-Synthelabo, que subiu de R$ 3,45
para R$ 5,20, desde março de 2003.
Na comparação dos valores publicados na Revista
Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico
(ABCFarma), o GLOBO constatou, pelo menos, 16 remédios
com reajustes de mais de 6,2% desde a liberação.
São altas acima do índice de inflação
de 5,89% (pelo IPCA) nos últimos 12 meses (até
fevereiro), que vem pesando no bolso do trabalhador, que ainda
amarga uma queda na renda de 5,7% no período, segundo
a pesquisa mensal de emprego (PME) do IBGE.
Os remédios liberados têm, em sua maioria, valores
agregados baixos, mas representam uma carga a mais nos gastos
essenciais do consumidor. Um deles é o antitérmico
e analgésico Melhoral, produzido pelo DM, cuja cartela
aumentou de R$ 0,89 para R$ 1,16 (30,3%). A Aspirina, da Bayer,
passou de R$ 2,07 para R$ 2,62, uma alta de 26,6%.
Embalagem menor
O analgésico Dôrico, da Sanofi-Synthelabo,
encareceu 12,3% na embalagem de 20 comprimidos (de R$ 13,05
para R$ 14,66) e 47% na cartela de quatro comprimidos (de
R$ 0,87 para R$ 1,28). O laboratório admitiu que houve
uma recomposição das margens deterioradas após
quatro anos de congelamento. A Sanofi explicou que, apesar
dos reajustes, os preços dos remédios continuam
competitivos.
"Há uma recuperação gradativa,
mas os preços ainda baixos não impedem o acesso
do consumidor", disse um técnico da empresa.
Técnicos da Cmed (formada por representantes dos ministérios
da Saúde, Fazenda, Justiça e Casa Civil) disseram
ontem ter conhecimento dessas variações altas
desde que os produtos saíram do controle. Segundo eles,
são produtos com valor agregado baixo, de alta competitividade
entre os fabricantes, que o consumidor pode substituir pelos
de preço menor.
"A questão está sendo avaliada pela Cmed
para saber que medidas tomar", disse um dos técnicos.
A liberação dos preços dos medicamentos,
anunciada em fevereiro de 2003 pelo Ministério da Saúde,
obedeceu a duas exigências: os remédios listados
poderiam ser vendidos sem receita médica e teriam de
ter, pelo menos, cinco concorrentes. Na época, o secretário-executivo
do ministério, Gastão Wagner, alertara que as
indústrias que aumentassem muito os preços perderiam
mercado.
De lá para cá, as cerca de oito mil apresentações
mantidas sob controle tiveram dois reajustes, um em setembro
e outro em março, que acumularam o índice de
7,8% nos dois períodos. Atenta às variações,
a dona de casa Marilda Pereira procura pesquisar em duas ou
três farmácias antes de levar o remédio
Ablok Atenelol, que toma diariamente para controlar a pressão.
" Antes, eu conseguia o remédio no hospital. Mas
agora está sempre em falta. O jeito é comprar
antes do aumento e correr atrás de ofertas".
LEDICE ARAUJO
do jornal O Globo
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