Não
faltam pobres em Cedral e Ibema, os dois únicos municípios
brasileiros excluídos de sete programas de transferência
de renda que usam informações do cadastro único
do governo federal, entre eles o Bolsa-Família, o Bolsa-Escola
e o Bolsa-Alimentação. Distantes 3 mil quilômetros
uma da outra, as duas cidades têm em comum a atitude
de prefeitos que, até agora, impediram o acesso de
famílias pobres aos benefícios.
Cedral, no Maranhão, e Ibema, no Paraná, ainda
não cadastraram a população que vive
com renda familiar per capita inferior a R$ 100, medida indispensável
para a inclusão nos programas. O motivo não
é falta de informação ou dificuldade
técnica, mas uma decisão dos prefeitos. Por
não terem aderido ao cadastro único do governo
federal, outros 95 municípios também estão
fora do Bolsa-Família, embora parte de seus moradores
seja contemplada por outros repasses.
"Esses programas não são de inclusão
social, mas de acomodação. O cidadão
deve trabalhar para buscar o alimento", justifica o prefeito
de Ibema, Adelar Arrosi (PDT).
Ibema
Segundo ele, não há desemprego em Ibema,
cidade de 6 mil habitantes a 470 quilômetros de Curitiba,
onde a agricultura, uma fábrica de papel e outra de
laminados movimentam a economia.
"O pobre tem uma tendência de ser acomodado por
natureza. O Fome Zero, o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação
fazem ele pensar que o poder público deve sustentá-lo
com esmolas. Aqui só não trabalha quem não
quer", afirma Arrosi, estimando que apenas cerca de 50
famílias estariam em condições de receber
os benefícios.
O secretário nacional de Renda de Cidadania do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, André
Teixeira, discorda:
"O problema da pobreza não é de acomodação.
Essa é uma visão preconceituosa de elites conservadoras.
Há, no país, um problema histórico de
desigualdade de renda e de acesso desigual à riqueza".
Cedral
Em Cedral, a cerca de 200 quilômetros de São
Luís, o prefeito Jadson Gonçalves (PFL) diz
que não é contra os programas de transferência
de renda, mas acha injusto ser responsabilizado por eventuais
irregularidades no cadastramento ou no pagamento às
famílias.
"O dinheiro não transita pela conta do município,
a prefeitura não é o agente pagador, então
por que responsabilizar o prefeito se algo sair errado?",
argumenta Gonçalves.
Ibema e Cedral estão excluídas também
do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(Peti), do Cartão-Alimentação, do Auxílio-Gás
e do Agente Jovem. Elas têm moradores idosos e deficientes
beneficiados pela Lei Orgânica de Assistência
Social, que independe da adesão das prefeituras. Os
prefeitos de Cedral e Ibema admitem ser alvo de críticas
em seus municípios por barrarem a adesão aos
programas. Mas lembram que foram reeleitos.
Pelos parâmetros do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, os dois municípios têm
Índice de Desenvolvimento Humano de nível médio.
Ibema ocupa a 2.597 posição e Cedral, a 4.307
, entre as 5.560 cidades brasileiras.
DEMÉTRIO WEBER
do jornal O Globo
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