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O Plano
Real acabou com o descontrole da inflação, melhorou
a distribuição de renda, aumentou o ganho dos
trabalhadores e diminuiu a proporção de pobres.
Mas essa boa fase da economia ocorreu apenas no seu início
-até 97.
Dez anos após a implementação do real,
os indicadores econômicos e sociais do país mostram
que parte das conquistas decorrentes da nova moeda se dissipou
-a desigualdade social se manteve alta, o desemprego aumentou
e a renda dos trabalhadores caiu.
Em 93, antes da nova moeda, a concentração de
renda no país, medida pelo índice Gini, alcançava
0,60 -a escala varia de zero a um (se mais próxima
de um, maior a desigualdade). Esse nível de concentração
era um dos mais altos do mundo desde o início dos anos
80. O rendimento médio mensal real do trabalhador (R$
547) era um dos mais baixos, e a proporção de
pobres -44% da população-, uma das mais altas.
Com o Real, o índice Gini caiu para 0,58, de 95 a 97.
Para 0,57, em 98, e para 0,56, de 99 a 2002. O rendimento
médio mensal real pulou para a faixa de R$ 700 e cresceu
até 97. A proporção de pobres ficou entre
33% e 35% da população até 2002. Não
há dados nacionais mais recentes.
Os efeitos do Real começaram a perder força
a partir de 97, terceiro ano do primeiro governo de FHC, em
decorrência de crises financeiras em diferentes regiões,
como as da Ásia (97) e da Rússia (98), que tiveram
impacto no país -o primeiro foi a alta dos juros.
O rendimento médio real do trabalhador, que atingiu
R$ 725 em 96, caiu, ano a ano, até 2002, quando chegou
a R$ 636, segundo o IBGE, com base na Pnad (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios) daquele ano.
Só na região metropolitana de São Paulo,
a queda na renda do trabalhador foi de 33% entre 1995 e 2003
(de R$ 1.384 passou para R$ 928), segundo o Dieese.
A manutenção da proporção de pobres
na faixa de 34% a 35% da população -uma das
mais elevadas do mundo- também mostra que os efeitos
do Real tiveram um limite, analisam os especialistas.
"A pobreza diminuiu no início do Real, mas foi
uma queda pontual. A desigualdade se manteve no país",
diz Sônia Rocha, coordenadora de projetos do Instituto
Brasileiro de Economia da FGV.
Um ano após a implementação do Real,
os 50% mais pobres ficaram com 13,3% do total de rendimentos
do país, enquanto o 1% mais rico detinha 13,4%. Em
2002, esses percentuais foram de 14,4% e de 13,5%, respectivamente,
segundo dados da Pnad.
Na Grande São Paulo, a desigualdade também se
manteve. Em 95, os 10% mais ricos da população
ocupada detinham 42,1% dos rendimentos. Em 2003, 41,8%. Os
10% mais pobres ficaram com 1% dos rendimentos em 95 e em
2003, segundo o Dieese.
Para Mansueto Almeida, coordenador de estudos regionais do
Ipea, o Real "cumpriu seu papel, de estabilizar a inflação,
mas falhou ao não gerar um padrão de crescimento
para beneficiar os mais pobres".
A decisão do governo de manter uma política
de juros altos contribuiu para que os efeitos do Real perdessem
força, como mostra o indicador de participação
do consumo das famílias sobre o PIB. Em 96 e em 97,
essa participação era de pouco mais de 62%.
No ano passado, estava em 56,9%.
Os trabalhadores também perderam participação
no total do PIB entre 94 e 2002, como mostra o indicador da
distribuição funcional da renda -dividida em
capital, trabalho e governo.
No ano em que o Real foi lançado, a renda do trabalho
correspondia a 37,7% do PIB. Em 2002, caiu para 31,4%. Já
a do capital subiu de 39% para 43,2%. A do governo, de 23,4%
para 25,4%.
"Essa dinâmica da distribuição da
renda emperrou o crescimento da economia", diz Claudio
Dedecca, professor da Unicamp.
Se os trabalhadores têm menos renda, consomem menos.
A economia enfraquece e o desemprego cresce. Nas seis regiões
metropolitanas do país, a taxa de desemprego, que,
de 94 a 97, estava na faixa de 5%, subiu para 7,6% em 98 e
se manteve nesse nível até 2002, segundo pesquisa
mensal de emprego, do IBGE. A partir de 2003, a taxa subiu
para outro patamar -perto de 12%- por causa de mudança
de metodologia na pesquisa. Em maio de 2004, chegou a 12,2%.
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
da Folha de S.Paulo
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