BRASÍLIA.
Aumento de R$ 1. Esta foi a única concessão
feita pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para fechar
a proposta de reajuste do salário-mínimo ao
fim de uma manhã inteira de negociações
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros
e técnicos da área. Lula entrou a noite negociando
com o núcleo fechadíssimo dos ministros palacianos
— até mesmo o ministro da Previdência,
Amir Lando, foi excluído — mas o anúncio
do mínimo que deve entrar em vigor no sábado
só deve ser feito amanhã.
Hoje haverá nova rodada de reuniões pela manhã
e a idéia, segundo o líder do governo na Câmara,
Professor Luizinho(PT-SP), é que o presidente anuncie
o novo mínimo com medidas de geração
de empregos. Isso minimizaria o impacto negativo de um reajuste
insignificante.
Na reunião da manhã, Palocci subiu a proposta
da equipe econômica de R$ 256 (apenas a reposição
da inflação) para R$ 257, para corrigir um aumento
maior do INPC de maio, que pode estourar a previsão.
Mas a área política ainda acreditava que Lula
poderia convencê-lo a aumentar mais, para chegar pelo
menos a R$ 260 ou a algo perto de R$ 265.
Quinta reunião em um mês
Na quinta reunião de uma maratona que tem promovido
neste mês para tentar chegar ao novo valor do salário-mínimo,
Lula ainda tentava até o último momento dar
um reajuste maior. A reunião da noite contou com a
presença apenas dele, de Palocci e dos ministros Guido
Mantega (Planejamento), José Dirceu (Casa Civil), Ricardo
Berzoini (Trabalho) e Aldo Rebelo (Coordenação
Política).
O deputado Professor Luizinho deixou a primeira rodada da
reunião informando que não havia decisão,
mas que o aumento seria acima da inflação. Segundo
Luizinho, Lula também quer anunciar um programa de
geração de empregos.
"Não tem decisão ainda. Mas o presidente
garantiu que haverá uma recuperação do
salário-mínimo, mesmo que não seja na
proporção que gostaríamos", afirmou
o líder do governo.
A fixação de um mínimo próximo
a R$ 260,00, acompanhada de um salário-família
de R$ 25 por filho, representaria um gasto adicional de R$
1.069,2 bilhão até o fim do ano e de R$ 1.711,2
bilhão em 12 meses. O reajuste do mínimo para
R$ 270, com um salário-família de R$ 20 por
filho, custará R$ 2.271,3 bilhões até
o fim do ano e R$ 3.467,5 bilhões em 12 meses.
Crescimento em contrapartida
Berzoini e o secretário-geral da Presidência,
Luiz Dulci, insistiram, mais uma vez, na tese de que o aquecimento
da economia vale o gasto adicional. O ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan, concorda que quanto maior for o novo
mínimo, melhor será para a economia.
"Sem dúvida, o salário-mínimo tem
um impacto no consumo", limitou-se a comentar Furlan,
depois de participar de uma cerimônia no Palácio
do Planalto.
A demora na decisão, na opinião do empresário
Jorge Gerdau Johannpeter, que participou ontem de uma cerimônia
no Planalto, não é um bom sinal para o mercado.
Para ele, o assunto aumenta as incertezas em relação
ao equilíbrio fiscal.
"O governo tem margem de manobra estreita na questão
do salário-mínimo. Quando a margem é
pequena, o bom é ser conservador. O aumento do mínimo
acima da inflação nos leva à preocupação
com o aumento do déficit", disse Gerdau.
Representante da equipe econômica no debate, Mantega
afirmou que o mercado não tem razões para ficar
intranquilo. Segundo ele, qualquer reajuste fixado pelo governo
vai ser feito dentro do equilíbrio fiscal. O ministro
do Planejamento afirmou que a discussão já está
bastante amadurecida.
"Não acredito que haja intranquilidade no mercado
porque o que o governo fizer será dentro do equilíbrio
fiscal. Não abrimos mão da meta fiscal. Ela
será cumprida".
Superávit será preservado
Pressionado pelos jornalistas, Mantega só repetia
que o equilíbrio fiscal seria preservado e que o superávit
primário de 4,25% está assegurado.
"Aguardem o anúncio", disse Mantega.
A postura foi similar a adotada pelos dois ministros mais
fortes do governo:
"Eu não anuncio nada. Quem anuncia é o
presidente", esquivou-se Palocci.
Já Dirceu sequer respondeu às perguntas que
lhe fizeram sobre o assunto. Além deles também
participaram das reuniões da manhã Luiz Dulci
(Secretaria Geral), Luiz Gushiken (Comunicação
Social), Amir Lando (Previdência) e Jaques Wagner (Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social).
As informações são
do jornal O Globo.
|