Com o tema "A Dimensão Econômica do Processo
de Desenvolvimento Social", o encontro trouxe para discussão
assuntos como comércio justo, empreendedorismo e microcrédito.
Lizete Prata, presidente da Associação Mundaréu,
explicou que a atuação da ONG está voltada
à comercialização de produtos artesanais
produzidos por comunidades de todo país, mas também
à capacitação desses grupos. Segundo
ela, o artesanato vendido na Mundaréu segue alguns
critérios que diferenciam seus produtos, como, por
exemplo, respeito às características de cada
grupo, mas têm como ponto em comum o processo produtivo
feito com baixa tecnologia. "Isso não é
uma questão de escolha e sim uma circunstância.
Mas não significa que os produtos são de baixa
qualidade. Queremos que ele [o produto] chegue ao mercado
porque é bom, tem qualidade e é competitivo",
esclareceu.
Lizete comentou que mais importante do que a venda em si
é o processo que vem antes do produto ir para as prateleiras
da loja da Mundaréu que fica na Vila Madalena, zona
oeste de São Paulo. "Realizamos oficinas semanais
onde os produtos são criados com nossa supervisão.
Trabalhamos em comunidades com contextos diferenciados. Queremos
dar mais informações e elementos para incentivar
a criatividade", afirmou.
Outro importante nicho de mercado identificado pela Associação
Mundaréu é a confecção de brindes
empresariais vendidos no atacado. Lizete explica que esse
tipo de comercialização permite um maior incremento
na produção e na geração de renda.
Ela acrescenta, entretanto, que dos 50 grupos atendidos pela
Associação, nem todos alcançam bons resultados
nas vendas. "Alguns passaram de um faturamento de R$
50 para R$ 300 ou de R$ 100 para R$ 500. Já outras
não têm um resultado tão significativo
assim. Temos então algumas questões com as quais
trabalhar. A idéia é que o empreendimento apoiado
possa se estruturar e fazer a máquina girar".
Outra dica importante lembrada por Lizete é saber
identificar a habilidade do grupo. Segundo ela, só
assim será possível confeccionar produtos que
tenham a ver com aquela comunidade. Entretanto, avaliar também
a capacidade de comercialização do produto é
fundamental. "Não é ensinar a fazer pano
de prato e vender para o vizinho", alertou.
Lizete ressalta que há muito o que fazer nessa relação
com as comunidades e no que diz respeito à gestão
dos negócios. Apesar de não ser este o foco
do trabalho da Mundaréu, ela acredita que o acesso
a informações que tratem da gestão do
negócio podem colaborar e muito para o fortalecimento
das organizações.
Leo Giovanni Avella, que trabalhou no Pnud (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) e no Sebrae-SP,
disse que de acordo com sua experiência na capacitação
de empreendedores e baseado também no que havia sido
dito pela representante do Mundaréu, era possível
concluir que "o caminho de levar uma comunidade como
essa para o mercado é bastante penoso".
Apesar de ter sempre trabalhado com empreendedores do mercado
formal, Leo avalia que o espírito empreendedor é
igual em todos os casos, mas pressupõe algumas características
pessoais. Segundo o especialista, é comum testemunhar
casos de pessoas que tiveram a mesma formação
e estrutura financeira, mas que chegaram a resultados diferentes
em seus empreendimentos. "Não é o conhecimento
ou o dinheiro que garante o sucesso de um negócio.
O empreendedor age de uma certa forma. Ele tem que se perguntar
o que faz com o que sabe e como usa seus recursos".
Além disso, tanto no mercado formal como num empreendimento
social, é importante avaliar, segundo ele, algumas
questões importantes que valem para qualquer tipo de
comércio. De acordo com Léo, o primeiro ponto
a ser verificado é que uma necessidade de consumo não
se cria do nada. "O produto sempre atende a uma necessidade
que o consumidor já possuía. Caso contrário,
não vende", comenta.
As características do brasileiro e do país
fazem com que o Brasil seja um dos lugares com mais iniciativas
empreendedoras do mundo, afirma Léo. "Somos também
muito criativos. Entretanto, as idéias são fantásticas,
mas o que faz dela um bom negócio é saber se
aquilo vende".
Para Léo é importante perceber que quando
fala em desenvolvimento social é necessário
perceber também que o papel do empreendedor tem muito
valor porque ele vai fazer a economia melhorar. "O 'Zé'
tem que fazer o barzinho funcionar e dar certo porque assim
ele começa a ajudar ao seu redor e toda a cadeia produtiva
começa a ganhar", exemplificou.
Mas começar não é fácil nem
para o Zé e nem para uma ONG. Uma das alternativas
reconhecidas por Léo e pelos participantes da mesa
é a necessidade de se criar alternativas que ajudem
o negócio a começar e a se manter. Uma das formas
de facilitar isso seria através do microcrédito.
Para o especialista, buscando dinheiro de maneira planejada,
consciente e com um suporte profissional, o banco vai conceder
o crédito não porque é "bonzinho",
mas porque irá reconhecer naquele cliente uma boa perspectiva
de negócio.
Microcrédito
E é aí que entra o trabalho da Empreenda.
Alain Delcourt, explica que a proposta da organização
é proporcionar crédito produtivo para pequenos
comerciantes e excluídos da rede bancária tradicional.
Segundo ele, essa é uma ferramenta muito usada para
lutar contra a pobreza e se encaixa bem no caso do Brasil,
um país com tanta desigualdade social. Segundo ele,
aqui os programas de microcrédito têm papel fundamental
no desenvolvimento das comunidades mais atingidas pela pobreza.
Alain entende que no Brasil existe uma série de fatores
que acentuam ainda mais a marginalidade social e econômica.
"Trabalho com carteira assinada hoje em dia é
um luxo. Essa constatação nos faz concluir que
parte da população deixou de ser cidadã.
Muitos brasileiros têm poucos deveres e poucos direitos.
Eles não têm contas para prestar e nem têm
serviços prestados", apontou.
Alain reconhece, entretanto, que os pequenos empreendedores
enfrentam muitas dificuldades para se firmarem. Ele acredita
que isso se deva à falta de capacitação
e de acesso a linhas de crédito. "Os bancos não
se interessam por emprestar dinheiro a essa população,
mas isso não é só culpa do banco. O empreendedor
chega lá de forma despreparada. É preciso conhecer
o negócio e dimensionar a quantidade de dinheiro que
ele precisa", esclareceu.
Para minimizar esses problemas, Alain acha que é
necessário se fazer um trabalho de conscientização
do tomador de crédito. "Mas isso não se
aprende de uma hora para outra".
Alain explicou que a Empreenda concede o crédito,
mas somente após uma análise rigorosa das necessidades
e do perfil do empreendedor e do negócio. Depois do
dinheiro emprestado – preferencialmente às mulheres,
já que segundo Alain, elas "pagam melhor"
devido às responsabilidades que têm com a família
– a Associação ainda acompanha o desenvolvimento
do negócio para que o resultado previsto pelo tomador
de crédito seja alcançado com mais segurança.
Léo comentou que dentre as características
fundamentais do empreendedor, a principal é justamente
o estabelecimento de metas. "Nós só vamos
nos mexer se tivermos um objetivo". Ele elogiou o empresário
e apresentador Silvio Santos. Disse que a estratégia
utlizada no programa Show do Milhão era perfeita no
sentido de fazer com que o participante, antes de mais nada,
estabelecesse uma meta. "Aprimeira pergunta que o Silvio
Santos faz ao participante é para saber quanto que
ele ganhar e o que quer fazer com esse dinheiro". Na
opinião de Léo, isso é fundamental no
momento de empreender um negócio.
DANEILA MARQUES
do site Setor3
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