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debate
30/07/2004
Sucesso econômico deve estar atrelado ao desenvolvimento social

Com o tema "A Dimensão Econômica do Processo de Desenvolvimento Social", o encontro trouxe para discussão assuntos como comércio justo, empreendedorismo e microcrédito.

Lizete Prata, presidente da Associação Mundaréu, explicou que a atuação da ONG está voltada à comercialização de produtos artesanais produzidos por comunidades de todo país, mas também à capacitação desses grupos. Segundo ela, o artesanato vendido na Mundaréu segue alguns critérios que diferenciam seus produtos, como, por exemplo, respeito às características de cada grupo, mas têm como ponto em comum o processo produtivo feito com baixa tecnologia. "Isso não é uma questão de escolha e sim uma circunstância. Mas não significa que os produtos são de baixa qualidade. Queremos que ele [o produto] chegue ao mercado porque é bom, tem qualidade e é competitivo", esclareceu.

Lizete comentou que mais importante do que a venda em si é o processo que vem antes do produto ir para as prateleiras da loja da Mundaréu que fica na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. "Realizamos oficinas semanais onde os produtos são criados com nossa supervisão. Trabalhamos em comunidades com contextos diferenciados. Queremos dar mais informações e elementos para incentivar a criatividade", afirmou.

Outro importante nicho de mercado identificado pela Associação Mundaréu é a confecção de brindes empresariais vendidos no atacado. Lizete explica que esse tipo de comercialização permite um maior incremento na produção e na geração de renda. Ela acrescenta, entretanto, que dos 50 grupos atendidos pela Associação, nem todos alcançam bons resultados nas vendas. "Alguns passaram de um faturamento de R$ 50 para R$ 300 ou de R$ 100 para R$ 500. Já outras não têm um resultado tão significativo assim. Temos então algumas questões com as quais trabalhar. A idéia é que o empreendimento apoiado possa se estruturar e fazer a máquina girar".

Outra dica importante lembrada por Lizete é saber identificar a habilidade do grupo. Segundo ela, só assim será possível confeccionar produtos que tenham a ver com aquela comunidade. Entretanto, avaliar também a capacidade de comercialização do produto é fundamental. "Não é ensinar a fazer pano de prato e vender para o vizinho", alertou.

Lizete ressalta que há muito o que fazer nessa relação com as comunidades e no que diz respeito à gestão dos negócios. Apesar de não ser este o foco do trabalho da Mundaréu, ela acredita que o acesso a informações que tratem da gestão do negócio podem colaborar e muito para o fortalecimento das organizações.

Leo Giovanni Avella, que trabalhou no Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e no Sebrae-SP, disse que de acordo com sua experiência na capacitação de empreendedores e baseado também no que havia sido dito pela representante do Mundaréu, era possível concluir que "o caminho de levar uma comunidade como essa para o mercado é bastante penoso".

Apesar de ter sempre trabalhado com empreendedores do mercado formal, Leo avalia que o espírito empreendedor é igual em todos os casos, mas pressupõe algumas características pessoais. Segundo o especialista, é comum testemunhar casos de pessoas que tiveram a mesma formação e estrutura financeira, mas que chegaram a resultados diferentes em seus empreendimentos. "Não é o conhecimento ou o dinheiro que garante o sucesso de um negócio. O empreendedor age de uma certa forma. Ele tem que se perguntar o que faz com o que sabe e como usa seus recursos".

Além disso, tanto no mercado formal como num empreendimento social, é importante avaliar, segundo ele, algumas questões importantes que valem para qualquer tipo de comércio. De acordo com Léo, o primeiro ponto a ser verificado é que uma necessidade de consumo não se cria do nada. "O produto sempre atende a uma necessidade que o consumidor já possuía. Caso contrário, não vende", comenta.

As características do brasileiro e do país fazem com que o Brasil seja um dos lugares com mais iniciativas empreendedoras do mundo, afirma Léo. "Somos também muito criativos. Entretanto, as idéias são fantásticas, mas o que faz dela um bom negócio é saber se aquilo vende".

Para Léo é importante perceber que quando fala em desenvolvimento social é necessário perceber também que o papel do empreendedor tem muito valor porque ele vai fazer a economia melhorar. "O 'Zé' tem que fazer o barzinho funcionar e dar certo porque assim ele começa a ajudar ao seu redor e toda a cadeia produtiva começa a ganhar", exemplificou.

Mas começar não é fácil nem para o Zé e nem para uma ONG. Uma das alternativas reconhecidas por Léo e pelos participantes da mesa é a necessidade de se criar alternativas que ajudem o negócio a começar e a se manter. Uma das formas de facilitar isso seria através do microcrédito. Para o especialista, buscando dinheiro de maneira planejada, consciente e com um suporte profissional, o banco vai conceder o crédito não porque é "bonzinho", mas porque irá reconhecer naquele cliente uma boa perspectiva de negócio.

Microcrédito
E é aí que entra o trabalho da Empreenda. Alain Delcourt, explica que a proposta da organização é proporcionar crédito produtivo para pequenos comerciantes e excluídos da rede bancária tradicional. Segundo ele, essa é uma ferramenta muito usada para lutar contra a pobreza e se encaixa bem no caso do Brasil, um país com tanta desigualdade social. Segundo ele, aqui os programas de microcrédito têm papel fundamental no desenvolvimento das comunidades mais atingidas pela pobreza.

Alain entende que no Brasil existe uma série de fatores que acentuam ainda mais a marginalidade social e econômica. "Trabalho com carteira assinada hoje em dia é um luxo. Essa constatação nos faz concluir que parte da população deixou de ser cidadã. Muitos brasileiros têm poucos deveres e poucos direitos. Eles não têm contas para prestar e nem têm serviços prestados", apontou.

Alain reconhece, entretanto, que os pequenos empreendedores enfrentam muitas dificuldades para se firmarem. Ele acredita que isso se deva à falta de capacitação e de acesso a linhas de crédito. "Os bancos não se interessam por emprestar dinheiro a essa população, mas isso não é só culpa do banco. O empreendedor chega lá de forma despreparada. É preciso conhecer o negócio e dimensionar a quantidade de dinheiro que ele precisa", esclareceu.

Para minimizar esses problemas, Alain acha que é necessário se fazer um trabalho de conscientização do tomador de crédito. "Mas isso não se aprende de uma hora para outra".

Alain explicou que a Empreenda concede o crédito, mas somente após uma análise rigorosa das necessidades e do perfil do empreendedor e do negócio. Depois do dinheiro emprestado – preferencialmente às mulheres, já que segundo Alain, elas "pagam melhor" devido às responsabilidades que têm com a família – a Associação ainda acompanha o desenvolvimento do negócio para que o resultado previsto pelo tomador de crédito seja alcançado com mais segurança.

Léo comentou que dentre as características fundamentais do empreendedor, a principal é justamente o estabelecimento de metas. "Nós só vamos nos mexer se tivermos um objetivo". Ele elogiou o empresário e apresentador Silvio Santos. Disse que a estratégia utlizada no programa Show do Milhão era perfeita no sentido de fazer com que o participante, antes de mais nada, estabelecesse uma meta. "Aprimeira pergunta que o Silvio Santos faz ao participante é para saber quanto que ele ganhar e o que quer fazer com esse dinheiro". Na opinião de Léo, isso é fundamental no momento de empreender um negócio.



DANEILA MARQUES
do site Setor3

   
 
 
 

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