O governo acionou pela primeira
vez o seguro-apagão, criado no ano passado para evitar
novos racionamentos de energia elétrica. O seguro foi
acionado no Nordeste, em razão do baixo nível
dos reservatórios das usinas hidrelétricas,
e deverá significar aumento na conta de luz para todo
o país.
Isso porque os contratos das usinas que fazem parte do seguro
com o governo prevêem que se pague tanto pela "disponibilidade"
(aluguel) quanto pela geração de energia. Ou
seja, os consumidores deverão continuar pagando o aluguel
e passarão também a pagar pela geração.
Haverá, portanto, dois encargos na conta: um de capacidade
emergencial e outro de aquisição de energia.
Consumo em alta
Com pouca água para gerar energia nas principais usinas
hidrelétricas da região, o Nordeste lidera a
retomada do consumo de energia no país. Nos últimos
12 meses (até outubro), o consumo cresceu 10,9% na
região, em comparação com o mesmo período
do ano passado. No Brasil, o crescimento médio foi
de 6%.
A decisão foi tomada pelo ONS (Operador Nacional do
Sistema Elétrico). Seis das 57 usinas termelétricas
emergenciais mantidas com recursos do seguro foram ligadas
à 0h de sábado.
Somadas, essas seis usinas emergenciais estão fornecendo
à região aproximadamente 400 MW médios
-o equivalente a 6% do consumo de toda a região.
Além disso, foram acionadas outras três termelétricas
do Nordeste que fazem parte do PPT (Programa Prioritário
de Termeletricidade) e que geram outros 400 MW médios.
Na sexta-feira o ONS fará nova avaliação
da situação para determinar se há ou
não necessidade de continuar gerando energia por meio
das termelétricas do seguro. Quanto mais energia for
gerada por essas usinas, maior será o custo para o
consumidor.
No dia 28 de novembro, em reunião no Ministério
de Minas e Energia, o ONS anunciara a necessidade de usar
o seguro.
Desde então, no entanto, chuvas que ocorreram na região
de Belo Horizonte (MG), nas proximidades da hidrelétrica
de Três Marias (MG) e no médio São Francisco
(região do município de Bom Jesus da Lapa, na
Bahia) melhoraram a situação dos reservatórios
das hidrelétricas.
Por causa do alto custo das usinas do seguro, o ONS optou
por adiar a utilização desse recurso, esperando
por mais chuvas.
Como não choveu o suficiente, foi preciso acionar
o seguro. No domingo, os reservatórios das hidrelétricas
do Nordeste estavam com 14,15% de sua capacidade, a 4,15 pontos
percentuais do nível de segurança (10%).
O governo contava também com o uso das termelétricas
do PPT (Programa Prioritário de Termeletricidade) para
evitar usar o seguro. A energia gerada pelas usinas do PPT,
que usam gás natural, é mais barata do que a
gerada pelas do seguro, que usam óleo combustível
ou diesel. Para gerar mais energia com as usinas do PPT, no
entanto, seria necessário que houvesse maior disponibilidade
de gás natural.
O PPT foi um programa de incentivo do governo federal, criado
em 1999, para aumentar a participação da energia
termelétrica na matriz energética e evitar dependência
das chuvas.
O programa, que chegou a prever a instalação
de até 15.000 MW de energia termelétrica, fracassou
e a maior parte das usinas não saiu do papel.
Racionamento
O seguro foi criado para que o racionamento de energia pudesse
ser encerrado mais cedo, em fevereiro de 2002, sem risco de
falta de energia. Foi uma decisão tomada pelo extinto
"Ministério do Apagão" (Câmara
de Gestão da Crise de Energia Elétrica), na
época comandado pelo então ministro-chefe da
Casa Civil Pedro Parente. O governo decidiu contratar, em
caráter emergencial, a disponibilidade de usinas termelétricas
emergenciais, que usam óleo combustível e cobram
cerca de R$ 300 por MWh.
Quando o seguro começou a ser cobrado, custava R$
0,0049 por kWh consumido no mês. Em setembro, o valor
do seguro foi reajustado em 28,46%. Desde o início
de sua cobrança, em março do ano passado, esse
encargo já acumula reajuste de 73,47%.
Hoje, o consumidor paga R$ 0,0085 por kWh consumido no mês
para pagar o aluguel de 57 usinas termelétricas, que
podem gerar cerca de 2.000 MW.
HUMBERTO MEDINA
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília.
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