Após as estripulias de compras
no Natal, o consumidor deve controlar os gastos e ficar atento
aos preços em janeiro. Os primeiros compromissos a
vencer são o IPTU, que chegará 9,86% mais caro
no Rio, e o IPVA, cujo calendário começa dia
16. Além disso, o fato de ser um mês de ressaca
de vendas não significa que não haverá
aumentos. Pelo contrário: os fabricantes de carros,
eletrodomésticos e eletroeletrônicos já
anunciaram que deverão subir as tabelas entre 6% e
8%, repassando a alta de 12% a 15% das indústrias de
aço.
Para os pais com filhos em colégio particular, há
ainda o peso das matrículas e mensalidades que chegarão
entre 12% e 15% mais altas. Esses índices, recomendados
pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio, são
superiores à inflação, que deve ficar
abaixo de 10% este ano. Os donos de escolas argumentam que
enfrentam uma inadimplência estimada em 18% e reclamam
da alta da taxa da Cofins, que passa de 3% para 7,6%. Já
a Associação dos Pais de Alunos quer reajustes
de, no máximo, 12%.
Temendo a carga maior dos gastos em janeiro, a professora
Sílvia Dias aproveitou o décimo-terceiro e antecipou
a mensalidade da escola da filha, em Niterói. Mas não
escapou da alta: o valor subiu 14% e passou de R$ 230 para
R$ 264, com o bônus de 15% de pontualidade.
"Os compromissos se acumulam em janeiro. Se não
controlarmos, entramos logo na inadimplência e é
difícil sair dela", diz Sílvia.
Pressão dos gastos deve elevar inflação
Nos supermercados, as queixas das donas de casa devem
se concentrar nas seções de hortigranjeiros.
Com as temperaturas mais altas, os preços tradicionalmente
sobem devido às perdas nas lavouras, especialmente
de verduras. O economista Luiz Roberto Cunha, diretor do Instituto
Fecomércio, confirma a tendência. Ele prevê
que esses aumentos, junto com a carga tributária, pressionarão
a inflação de janeiro.
"Estes fatores sazonais devem elevar o IPCA para 1%.
Mas isto não mudará a trajetória da inflação.
Convivemos com a estabilidade".
Com relação aos itens da cesta básica,
o clima das negociações entre varejistas e indústrias
é tranqüilo. As exceções, com altas
previstas de até 3%, ocorrem no caso do arroz que,
devido à quebra de produção deve se manter
em alta até fevereiro. O café também
sobe com as cotações elevadas no mercado internacional.
A carne bovina deveria baixar. Mas a previsão, baseada
no fim da entressafra, não deve se concretizar se houver
aumento das exportações pelo mal da vaca louca
nos EUA.
A retração de vendas nas seções
de higiene e limpeza deve conter as pretensões de reajustes
de 3% a 5% das indústrias. O argumento para novas tabelas
é a defasagem de custos.
"O consumidor está sem renda. Não há
campo para aumentos", analisa José de Souza, presidente
da Bolsa de Alimentos do Rio.
LEDICE ARAUJO
do jornal O Globo
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